Meu Sósia
(Gastão Cruls)
Paulo de Alencastro era escritor e decidiu escrever um romance sobre as grandes navegações e o Novo Mundo. Por esse motivo, começou a freqüentar a Biblioteca Nacional, procurando antigos relatos de viagens, velhas crônicas, tudo relativo à História da América.
Tímido e fechado, Paulo nunca comentava com ninguém os seus projetos literários e isso tornou ainda mais espantoso seu encontro com aquele a quem começou a chamar seu sósia.
Tudo começou quando ele percebeu que havia alguém interessado nos mesmo assuntos que vinha estudando. Ao pedir alguns livros, o bibliotecário informou que tinham acabado de ser retirados por um “outro senhor”. Da primeira e da segunda vez, Paulo achou que era mera coincidência, mas, na quinta, começou a achar estranho. Ele estava interessado em livros bastante raros e o “outro” insistia em retirar os mesmos exemplares. Curioso, Paulo procurou o homem pelo salão de leitura. Encontrou os livros que o interessavam sobre uma das mesas, mas o desconhecido já havia partido. Um funcionário se aproximou e perguntou: “O senhor quer saber quem é que está lendo esse livro? É um rapaz que acabou de ir embora. Engraçado porque ele é parecidíssimo com o senhor.”
A curiosidade de Paulo aumentou. Na próxima ida à biblioteca, ele avistou o sósia e ficou observando-o ao longe. Não eram idênticos. Na verdade, o outro era um pouco mais alto e magro do que ele. Mas havia, no conjunto, uma estranha semelhança: o mesmo bigode, o mesmo tipo de óculos, o corte de cabelo semelhante. Paulo ficou obcecado com a existência do sósia. Pensava nele o tempo todo, sonhava com ele, tinha um inexplicável medo de ser atacado pelo outro e substituído.
Algum tempo depois, na mesma Biblioteca, Paulo criou coragem e puxou conversa com o desconhecido. Ficou espantadíssimo quando o homem contou que também era escritor e que estava trabalhando num romance sobre a descoberta da América. O sósia foi dando detalhes e Paulo, desesperado, ouviu exatamente a história de seu próprio romance, sem tirar nem pôr. Então, o sósia disse: “O senhor está achando minha história parecida com a sua? Não se espante com isso. As idéias estão no ar. Claro que a vitória será daquele que publicar o livro primeiro. Ou Paulo de Alencastro que sou eu ou... Como é mesmo seu nome?”
Paulo pulou no pescoço do outro e rolaram a escada juntos. Quando acordou, viu que estava na Casa de Saúde, com uma perna quebrada. O enfermeiro contou que ele havia se jogado escada abaixo e saído da Biblioteca, gritando como um louco. Acabou atropelado por um carro. O médico veio conversar com ele e falou em alucinação. Mas Paulo estava certo da existência do “outro”, seguro de que ele estava ali, no mesmo hospital, também ferido. Na hora em que foi levado para a sala de curativos, Paulo ouviu alguém que gritava de dentro de um dos quartos... com a sua voz.
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