Paulino e Roberto
(Artur Azevedo)
Rio de Janeiro, 1870.Paulino era bondoso e esforçado, mas pobre. Sua esposa, Adelaide, não perdoava o marido por não ser bem sucedido e tratava-o como uma megera, sempre brigando, reclamando, dando ordens, infernizando a vida do coitado.
Vespasiano, amigo de Paulino, dizia que Adelaide era uma esposa insuportável e que Paulino devia deixá-la. Paulino, porém, achava que, se melhorasse de vida, sua esposa se tornaria mais tratável. Assim, esforçava-se para ganhar dinheiro e confiava que seu casamento pudesse se tornar mais feliz no futuro.
Um dia, Paulino foi convidado por um comerciante seu conhecido, para ir até o Rio Grande do Sul fechar um negócio. Se fosse bem sucedido, Paulino ganharia dois contos de réis. Incentivado pela ambiciosa esposa, Paulino partiu a bordo de um navio chamado Rio Apa. O navio fez uma escala em Santa Catarina e Paulino, demorando-se num passeio pela cidade, acabou por perder o novo embarque.
Antes que tomasse outro navio, Paulino ficou sabendo que o Rio Apa tinha afundado, matando todos os tripulantes e passageiros. Agradeceu a Deus por ter escapado milagrosamente do naufrágio. Então, descobrindo que seu nome figurava, por engano, na lista de vítimas, Paulino teve uma idéia: ele adotaria um novo nome e iniciaria uma nova vida. Dessa forma, estaria livre da irascível Adelaide, sem se sentir culpado por isso. Ela seria dada como viúva e poderia arranjar um novo casamento.
Com o pseudônimo de Roberto, Paulino começou a trabalhar na fazenda de Hanz, um alemão que gostou dele e, logo, deu-lhe a chance de ser administrador. Nesse encargo, Paulino progrediu e ganhou um bom dinheiro.
Anos depois, Paulino teve a curiosidade de ir até o Rio de Janeiro. Estava convencido de que ninguém o reconheceria (pois agora estava barbado e gordo) e queria ver o que acontecera com as pessoas que abandonara.
Primeiro, Paulino procurou Vespasiano. Viu-o de longe, mas não teve coragem de se aproximar. O amigo estava envelhecido e tristonho. Seguiu-o e viu que ele se encontrava com Adelaide. Os dois eram, agora, casados. Adelaide, com o mesmo temperamento difícil do passado, reclamava que queria ganhar uma capa de seda e que Vespasiano era tão inútil quanto seu primeiro marido falecido. Vespasiano suspirou fundo e murmurou: “Ah, se o Paulino pudesse nos ver lá do outro mundo... como se riria de mim!”
Ao longe, Roberto permanecia sério. Mas, por dentro, o “falecido” Paulino ria-se a valer.
Resumos Relacionados
- Sleeping Voices
- Estudo Mostra Efeitos Da Restrição Alimentar Durante A Gestação
- Menino Do Engenho
- Bangue
- A Ilha Das Trevas
|
|