Um Homem de Bem
(Evangelina Barbosa de Moraes)
Roberto Martins Bastos teve uma infância pobre no subúrbio, mas conseguiu vencer na vida. Casou com a rica Lenita e tornou-se um administrador de empresas bem sucedido. Há quem diga que ele se casou com Lenita por interesse, mas Roberto jura de pé junto que foi por amor. Com Lenita, Roberto teve um casal de filhos e a família vive com conforto e paz. Um dia, carro quebrado na oficina, Roberto esperava um ônibus para ir a uma reunião importante. De repente, reconhece Dora a seu lado, uma ex-namorada que não vê há muitos anos. Ele fica constrangido e pensa em se afastar, mas Dora diz: “Já que nos esbarramos, deixa eu te mostrar uma coisa.” Da bolsa, ela tira a foto de um rapaz de dezessete anos, Carlos, que garante ser filho de Roberto. O jovem é mesmo parecidíssimo com ele. “Ainda alguma dúvida? — diz Dora — Mas não se preocupe. É um garoto muito legal e nunca faltou nada pra ele.” Dito isso, ela se foi. Roberto lembrou do dia, dezessete anos atrás, em que Dora o procurou, grávida. Ele já estava flertando com Lenita e aquele filho destruiria seu casamento tão vantajoso. Ele preferiu acreditar que a criança não era dele e abandonou Dora. Agora, tantos anos depois, ela reaparecia, assim, por acaso. Dois meses depois, Roberto já tinha se esquecido do encontro. Estava na escola da filha, assistindo a uma peça infantil. Na saída, viu que tinham roubado seu carro e chamou a polícia. Dias depois, recebeu uma ligação da delegacia. Foi até lá e soube que tinham recuperado seu carro. Um dos ladrões já estava preso. O problema era o outro, menor de idade e réu primário. Quando Roberto viu o delinqüente, sentiu um baque: era o rapaz da fotografia. Seu filho. Em sua mente, Roberto só ouvia as palavras de Dora: “É um garoto muito legal... nunca faltou nada pra ele.”
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