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A Surpresa; o Inesperado; é que despertam os sentidos
(Charles Baudelaire)

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Só o que possui uma ligeira incorreção nos desperta profundamente os sentidos: donde se pode concluir que a irregularidade, isto é, a surpresa, o espanto e o inesperado constituem parte essencial e característica da beleza." Quando se ama, nenhum detalhe relacionado à pessoa querida é insignificante. Nada passa desapercebido àquele cujo objeto do amor faz pulsar sua libido com uma intensidade nova e única. O amor pode ser, ele também, o resultado de um somatório de fetiches. O mesmo ocorre com os fetichistas em relação aos seus particulares objetos de prazer, sejam eles quais forem, muitas vezes numa proporção inigualavelmente inusitada. Mas, como surge essa busca tão original e, na maioria de suas manifestações, tão compulsiva, às quais denominamos fetichismos? A base de tudo, dizem alguns estudiosos, estaria na primeira infância, em nossa incapacidade de perceber as pessoas que nos circundam como uma unidade. Assim, por exemplo, a figura materna nos surgiria como um seio que alimenta, uma voz que consola, uma mão que dispensa carinho ou uma boca que beija... E, a partir dessas impressões - ou daquelas que lhe faltaram -, o adulto, certamente, comporá a imagem do(a) companheira(a) ideal. Dessa forma, quando a namorada conserva o lenço perfumado de quem ama, o que comanda esse comportamento e o que aflora nesse gesto é uma parcela daquele estado primeiro. O que atrai no fetichismo é o detalhe, não o conjunto. O fetichista transforma determinado objeto, parte do corpo ou apenas a qualidade de certo objeto no motivo, na razão - quase sempre recôndita, nada evidente - da sua sexualidade, do seu desejo. Mas a dimensão do fetiche pode também alcançar épocas e culturas inteiras, quando certas práticas fetichistas adquirem um valor ritual ou social, como, por exemplo, a tradição chinesa de enfaixar os pés das meninas, de maneira a deixá-los permanentemente pequenos. A sociedade em geral, contudo, parece entender pouco esses homens e mulheres que buscam viver fantasias tão singulares, marginalizando-os na solidão para onde são expulsos todos os que não se encaixam nos estreitos e medíocres moldes do senso comum. Esse processo de distanciamento faz com que o fetichista sinta-se como um ser realmente vivo, em plenitude, apenas entre seus objetos. Ele sente-se seguro apenas ali, onde vigora a sua própria lei e onde ele está protegido de toda e qualquer desilusão. Tal afastamento pode, se radical, transformar o fetichismo num gênero de castidade, uma forma peculiar de ascese, através da qual espera-se uma recompensa divina. O que não deixa de ser uma forma de direcionamento ou canalização da libido. O fetichismo ou - usando uma feliz expressão de Glória Brame em seu livro, Different Loving - a "translocação do desejo", pode surgir ou ser observado em três modos distintos e, quase sempre, complementares: o fetichista utiliza-se ativamente do fetiche escolhido; ou aprecia que o fetiche seja usado em si mesmo (ou em outrem); ou somente contempla o objeto do seu fetiche. Assim, o fetichista convive com suas fantasias, extraindo delas, de múltiplas maneiras, o seu prazer. Contudo, não só as formas de usufruir as escolhas fetichistas são variadas, mas também os próprios objetos escolhidos. Tudo é válido aqui. Tudo pode incorporar um desejo. Partes do corpo, toda e qualquer secreção corpórea, indumentárias, características físicas ou psíquicas, deformações ou mutilações, carências ou excessos, odores, gostos, texturas, cores, sons, instrumentos variados... O leito por onde corre o caudaloso rio da libido é tão variado quanto a própria espécie humana. O voyeur é um fetichista obcecado pela impressão ótica. E a fixação pela impressão acústica não é rara: uma voz estertória ou profunda, rouca ou cristalina, pode condicionar as preferências sexuais. Quantos não alcançam prazer apenas apalpando ou tocando levemente o corpo desejado ou determinada superfície (veludo, couro, etc.) que lhe ressurge, inconscientemente, como um eco da infância? O paladar também não pode ser esquecido... Há uma gama infinita de sabores... E, muito menos, o olfato, talvez o mais determinante dos sentidos nos processos de fetichização, pois todo e qualquer odor, até mesmo os mais nauseantes, pode se tornar um inebriante perfume para o fetichista. A mesma sensação de louco prazer pode surgir ao tocar, vestir, desnudar-se ou esfregar-se nos objetos que se ama. E não podemos esquecer dos artefatos que comprimem, sufocam, apertam, furam, cortam, batem e ferem, todos de particular importância para o fetichista sádico ou masoquista, sejam usados nos outros ou em si mesmo.



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