Angústia
(Graciliano Ramos)
O protagonista é Luís da Silva, 35 anos, lotado na Diretoria do Tesouro, em Maceió, Alagoas. Ele revela profundos sentimentos de insatisfação com a vida que leva, “monótona e estúpida”. Ganha $500.000 réis de salário e é submisso aos chefes. De origem rural, é um deslocado na cidade. Luís sente-se fortemente atraído por uma vizinha nova, Marina, filha de D. Adélia e do eletricista Seu Ramalho. A atração é predominantemente sexual, já que os dois são diferentes demais para se entenderem: “Gosto da pequena, amarro uma pedra no pescoço e mergulho”.Visando ao casamento, o enxoval é preparado. Ela só pensa em roupas finas, jóias e tapetes, e Luís termina por esgotar suas parcas economias de três contos de réis, além de se endividar. Chegando com o presente de casamento, um anel e um relógio, surpreende-a a trocar olhares suspeitos com Julião Tavares, um tipo que se tinha introduzido forçadamente na vida de Luís, e por quem ele sempre nutrira uma aversão especial: era um homem rico, sócio da firma “Tavares & Cia”, negociantes de secos e molhados, e conquistador de mulheres.Com o passar do tempo, fica bem caracterizada a preferência de Marina por Julião.Amargurado, Luís se distancia de Marina; é-lhe inaceitável o que considera como prostituição da noiva: “Escolher marido por dinheiro. Que miséria!”O golpe veio romper o precário equilíbrio psicológico do protagonista, que não consegue desligar-se mentalmente de Marina e entra num furioso processo de fantasias, com predominância inicial daquelas de natureza sexual. Ora se entrega ao despeito e ao ciúme, ora imagina tudo esquecer e reaver Marina que está cada vez mais firme com Julião Tavares, de quem recebe tudo aquilo de que gosta: roupas caras, jóias, passeios, idas à ópera, ao cinema, etc.As fantasias de Luís da Silva tornam-se progressivamente mais obsessivas e gradualmente se vão fixando em alguns aspectos especiais: os arames (fios) da Cia. Nordeste, cordas, canos, cenas de assassinatos e prisões que em criança havia presenciado, casos de vingança de honra, etc.O seu comportamento se deteriora; falta às vezes ao serviço, na repartição; vive bebendo e fumando, perambula à toa pela cidade, atola-se em dívidas, enquanto entra num processo mental francamente delirante. Poucos momentos de lucidez não conseguem deter tal decadência: com um pouco de método, pensava ocasionalmente, poderia recolocar a sua vida nos trilhos...Marina aparece grávida e Julião Tavares vai-se afastando dela aos poucos. Luís sente a imperiosa necessidade de fazer Julião Tavares morrer, e morrer enforcado, os olhos esbugalhados, a língua de fora. Seu Ivo, um mendigo que eventualmente passava por lá para pedir comida, presenteia-o com uma peça de corda. Ele se sobressalta desproporcionalmente, rejeitando, horrorizado, o presente que materializava, por assim dizer, as suas fantasias. Mas acaba guardando no bolso a peça e, doravante, não mais a largará. E as fantasias se fixam mais nas laçadas certeiras de Amaro, o vaqueiro; no enforcamento do velho e digno seu Evaristo, quando recebeu a desconsideração do padeiro; na cascavel que, certa vez, se enrolara no pescoço do avô Trajano... Luís emagrece, quase não come, bebe demais; vigia e segue, como um louco, Julião Tavares ou Marina. Nessa “tarefa”, certo dia, em casa de uma D. Albertina de tal, parteira diplomada. Imagina que ela foi abortar e, na saída, aborda-a e a insulta pesada e repetidamente: “Puta!” Num indício de dissociação de personalidade, “dizia-lhe o insulto, mas estava cheio de piedade”. Descobre, também, que Julião estava de amante nova, residente no bairro de Bebedouro. Rastreando o “inimigo”, segue-o certa noite até à casa da amante. Depois que Tavares entra na residência, Luís continua andando, robotizado, até o fim da linha do bonde. Quando volta, de madrugada, sempre a pé, há uma espessa neblina dificultando a visão. Julião sai, bem à sua frente, da casa de Bebedouro. Aproveitou a névoa, o levou sem ser notado, até que as circunstâncias lhe permitem atirar-se sobre ele e enforcá-lo, conseguindo alçá-lo ao galho de uma árvore próxima para simular suicídio. No instante do assassinato, Luís tem uma sensação de deslumbramento: “O homenzinho da repartição e do jornal não era eu. Esta convicção afastou qualquer receio de perigo. Uma alegria enorme encheu-me”.Sempre a pé, sujo e esfarrapado, devido à luta e às circunstâncias do enforcamento, atordoado por fantasias e alucinações, consegue chegar até sua casa. Pelo resto da madrugada, na manhã e nos dias seguintes, experimenta aquilo que em psicopatologia chamamos de “delírios oniróides”, acompanhados de pensamentos obsessivos.“Sem memória, um idiota.” As coisas e pessoas conhecidas, as visões habituais do passado e do presente vinham, confundiu umas com as outras, numa ciranda sem fim. O tempo passava, mas no tempo não havia horas.” Predominou o sentimento de solidão e abandono, o cego da loteria gritando o nº 16.384. Um colchão de paina. “Milhares de figurinhas insignificantes. E era uma figura insignificante e mexia-me com cuidado para não molestar as outras. 16.384. Íamos descansar. Um colchão de paina.”
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