Zélica e Outros
(Flávio José Cardozo)
Na apresentação do livro, o autor destaca: "Zélica e Outros é o meu segundo livro de contos e sua primeira edição data de 1978, antes dele veio Singraduras, em 1970. Os dois foram ambientados na ilha de Santa Catarina, num tempo (não tão distante) em que ela mantinha aqueles ares mais ingênuos, não era o agitado pólo turístico que é hoje."Em "Zélica", segundo o próprio autor, na apresentação do livro, permanece um meio tom nostálgico, permanecem os personagens da praia e dos vilarejos interioranos do primeiro livro, "Singradura". Em "Zélica" predomina o burlesco - a linguagem está mais solta.São 9 contos com mais movimento, enredos mais demorados, com uma linguagem mais solta e expressão mais direta. As paixões são elementares, o sexo, a fome, a cachaça, o amor-próprio com suas honras antiquadas, a cobiça - através desses conflitos na aparência primários, o autor dá um retrato em profundidade da condição humana, com humor e ironia.O primeiro conto - "Camélia Nicó no gasto da Liberdade" conta-nos a história de uma mulher viúva e de um homem casado, Tibério, funcionário do cartório, cuja mulher, Dona Ismália, estava grávida, " indo nascer o filho daí a pouco, ainda teria a quarentena.". Tibério está de olho na viúva e, por uma sorte danada, descobre que ela, a Camélia do título, por sua vez, estava de namoro, às escondidas, com um rapaz mais jovem do que ela e noivo, Nelo Serrão. Uma narrativa gostosa, bem humorada e até irreverente, com desfecho surpreendente. O vocabulário típico da ilha pode se constituir em agradável surpresa para quem não conhece o jeito de falar do "manezinho" (linguajar típico oriundo dos açorianos). Em "Lourenço Roxadel garante a honra da casa", o autor conta uma história de impacto moral. Lourenço é pai de Altino, que casou com Dilnéia há pouco mais de um mês. Acontece que Altino, franzino e azarado de carteirinha, na noite de núpcias cismou de carregar anoiva no colo, não agüentou o peso e caiu " veio de costelas na dureza do chão, a dor e o inchaço comprometeram 3 noites seguidas e Dilnéia Caetano Rachadel só veio a se tornar mulher de verdade no Ribeirão da iha, na casa do sogro". Alguns dias depois, quando foi apanhar uns gravetos para o café da manhã, sente-se mal, cai, foi para o fundo da cama, paralisado da cintura para baixo e não houve mais remédio ou médico ou curandeira que o curasse. E a moça ficou sem marido. O sogro começou a ficar preocupado com a juventude da moça e a honra do filho. E propôs-se a fazer as honras da casa. "Zélica Tavares cuja filha, meu Deus, que malvadeza" conto que dá titulo ao livro, trata da mãe adotiva de Marivone, moça recatada que ela educou para ser digna e casar bem. Aos 18 anos Marivone conhece Roberval, se apaixonam e o namoro ia bem, até que dona Zélica pega os dois em flagrante fornicação. Mas esta não foi a pior crise. Superada esta, as coisas voltaram a ficar tranqüilas, houve até pedido de casamento. Mas Zélica viu o rapaz, certo dia, conversando com uma "mulher muito da pintada, muito indecorosa, uma mulher que qualquer cristão, até mesmo um cego, logo estava vendo qual profissão praticava? ". Foi falar com o noivo da filha na mesma hora e ele falou que era uma tia dele. As coisas ficaram pretas de novo, foi um tumulto só, no final Marivone foge com Roberval e os pombinhos foram o morar com quem, adivinhem? Em "Pedrinho Menez vai voltar rico", o personagem título nunca tinha saído do lugar onde morava. De repente, "reuniu o que podia reunir,deixou a mãe aos cuidados de Vidalma e tocou-se para o vizinho Rio Grande do Sul" . Disse que ia fazer fortuna. Ninguém entendeu nada, so depois e que ficaram sabendo que o pai de Vidalma, a moça de quem ele gostava - não deixou que se casassem, "minha filha só casa com homem garantido na vida," falou, e Pedrinho, que era pobre, foi embora, prometendo só voltar quando ficasse rico.Escrevia sempre. E nas cartas dizia: mãe,estou contente. Novas cartas: saudades fortes, Depois, com vergonha de nada ter conseguido, disse que só voltava a escrever quando fizesse fortuna. Ninguém acreditava que ele voltasse, somente a mãe e Vidalma ainda guardavam esperança do retorno de Pedrinho.Depois de treze anos, ele apareceu, muito alinhado, num carro de praça alugado na cidade. Bateu à porta de Vidalma para falar com ela e com o velho Lindauro Duarte, o pai da moça. Não foi ver nem a sua mãe, Dona Luzia. Queria acertar, primeiro, as coisas com Vidalma.Disse ele que estava noivo da filha do patrão, no Rio Grande, o que o deixaria rico se o casamento se concretizasse. Mas ele largaria tudo para ficar com Vidalma. No entanto, Lindauro, o pai, não concordava de jeito nenhum: pobre, para sua filha, nunca.Vidalma ficou desolada. Pedrinho deixou algum dinheiro com a mãe e partiu novamente. Voltou para o Rio Grande do Sul, onde não tinha noiva alguma, nem patrão rico, nem trabalho, coisa nenhuma. Mas ainda ia ficar rico, ia voltar e mostrar a todos a sua fortuna.
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