Bifes e tertúlias com 40 anos de vida ( Bar em Lisboa)
(Sr Albino ( dono do bar))
Não é só um bar, mas também não chega a ser restaurante. É conhecido pela animação fora de horas, mas não há quem lá vá que se fique apenas pela conversa, sem provar sequer o bife com molho da D. Maria. Completou 40 anos esta semana, mas não pára de sur- preender nem de fidelizar clientes - cada vez mais sedentos de um santuário de tertúlias que parece ter saído directamente da Londres dos anos 60 para recriar, em pleno Bairro Alto lisboeta, a magia das noites queirosianas. É assim o Snob Bar, ponto de encontro histórico de jornalistas e políticos, médicos e advogados, actores e artistas plásticos, músicos e cineastas. Eles entram, ocupam as mesas, as cadeiras e os sofás em tons de castanho-terra e esperam que os acepipes sejam servidos. Tudo ali é intimista, obscuro, quase a roçar o sedutor. Aqui e além, ouvem-se conversas trocadas em animada cavaqueira. Nos cinzeiros, enormes, um em cada mesa, montes de cinza vão ganhando a forma do tempo que passa, ao ritmo das palavras e do riso embalados à meia-luz dos candeeiros. Há cotovelos apoiados no tampo de veludo verde das mesas, depois de mais um dia de trabalho que chega ao fim. De resto, a história do Snob Bar começou em 1964, quando Paulo Guilherme de Eça Leal, jornalista de O Século, importou o nome e a imagem do bar de Inglaterra. «O espaço surgiu para reunir os jornalistas. Na altura, os jornais concentravam-se todos aqui nas proximidades», explica o senhor Albino, ele próprio uma peça- -chave da «mobília» do Snob há cerca de 30 anos. «Depois, em 1967», prossegue, «o meu irmão [Adriano de Oliveira] ficou à frente da ca- sa, mas era eu que traba- lhava cá». Até que, há 15 anos, a sociedade com o irmão surgiu. Para ficar. Até hoje. Para gáudio dos habitués, que não falham uma oportunidade de se juntarem no «seu» Snob. «Frequento a casa desde que comecei a trabalhar, em 1973. Quando os jornais fechavam, era lá que jornalistas, juntamente com actores e artistas plásticos, se encontravam para uma refeição tardia e dois dedos de conversa», lembra o repórter fotográfico Pedro Sousa Dias, desde sempre atraído pelo «bife à casa que podia comer até altas horas», numa altura em que não havia mais nada aberto em redor. «E depois do 25 de Abril, então... passava por lá gente conhecida de todo o mundo - uns mais famosos, outros menos - para se inteirar do que estava a acontecer no País. Uma verdadeira loucura!», recorda o fotógrafo. Outro dos clientes habituais do Snob Bar é o jornalista António Ribeiro Ferreira - um apaixonado da casa «pelo espírito da própria casa» -, que frequenta o Snob desde o início dos anos 80. «O espaço é muito conservador e igual a si mesmo. Vale pela simpatia e pelo ambiente. Vale pelo atendimento muito familiar, que é tão agradável precisamente por isso», confessa. E familiar é mesmo um termo corrente do bar, tanto ao nível do atendimento como das próprias refeições. «O cozido à portuguesa é o nosso prato mais antigo, tem cerca de 15 anos», adianta o sr. Albino, desvendando uma particularidade do serviço: «Quando sobra comida de um dia para o outro, como uma boa dobradinha, os clientes habituais não se importam de comê-la. Sabem que é à confiança que o fazem», diz o dono- -empregado. Um luxo nos tempos que correm, portanto? «Sem dúvida», responde. «Mas aqui dizemos a verdade aos clientes. O Snob está à vontade para isso!»
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