Sujeito adolescente na contemporaneidade
(Doris Rangel Diogo)
A adolescência tem início com a puberdade, mas não há um consenso sobre seu término, já que é um processo e não se restringe a um tempo cronológico. Na puberdade, há um recrudescimento dos impulsos pulsionais com possibilidade de realização efetiva de objetivos sexuais, o que faz com que o sujeito se defronte com o real do sexo de um modo até então inédito (Freud,1905). É neste contexto que, a posteriori, ressignificando experiências vividas na infância, se reafirmam a escolha de objeto de amor, a interdição e as identificações oriundas da dissolução do Édipo, o que por vezes produz efeitos subjetivos de turbulência, inquietação e mesmo impulso a agir. Nessa travessia, há todo um rearranjo dos investimentos libidinais, com ênfase nos laços identificatórios com amigos, na descoberta de parceiros amorosos, na eleição de objetos idealizados, como ídolos e também nas transformações corporais que podem suscitar o afeto da angústia. Nesse turbilhão se inscreve também a demanda do Outro (dos pais, da cultura, das instituições, do inconsciente) que são endereçadas ao adolescente para que este assuma um lugar ou até mesmo uma posição subjetiva entre seus pares. Neste cenário há certa expectativa em relação à função paterna na adolescência, já que a questão: O que é um pai? aí retorna com todo seu vigor. Lacan (1995 [1956-57] ) situou o pai nos três registros, tendo daí derivado o pai simbólico, o pai imaginário e o pai real. Há carência de pai para todo sujeito, já que nenhum pai consegue recobrir com a lei, isto é, com o simbólico todas as manifestações pulsionais. Esta carência indica um hiato entre o pai simbólico, inscrito a partir da falta na mãe e o pai imaginário idealizado pelo filho. A partir daí, quando necessário, o adolescente faz apelo ao pai, encontrando no melhor dos casos o pai real, agente da castração, que lhe sinaliza com o próprio gozo em relação a uma mulher (Lacan, 1972). Com isso, o pai deixa algo a desejar, sem resposta, já que nada sabe sobre a trama do desejo e gozo no filho. Cada sujeito terá que fazer a própria travessia, a partir desse encontro faltoso com o pai, já que lhe restará fazer o luto dessa perda do pai imaginário, idealizado. Como fica esse paradigma centrado no pai, na contemporaneidade? O declínio da função paterna produziu efeitos de pluralização e de dispersão, dando origem aos nomes do pai, tanto no sentido da pulverização dos referentes que podem sustentar essa função como também problematizando o falo/castração como referente universal na estruturação subjetiva. Com isso, essa travessia simbólica, imaginária e real fica para ser construída pelo sujeito, que poderá elaborar o luto do pai imaginário quando o pai real não vacila em sua função, isto é, quando não se identifica com Um pai, que intervém continuamente sobre seu filho. O pai real não precisa ser o pai (Lacan,1972). É um ponto para onde se desvia o olhar da mãe e que a toma, apontando a falta para o filho. O que importa é que a mãe busque um outro que não o filho, como causa de desejo e que esse outro se volte para uma mulher, mesmo que não seja a mãe do sujeito, revelando também uma falta, e a busca de um gozo ao qual o filho não tem acesso. Mesmo a carência de pai sendo uma queixa do sujeito ela não deixa de engendrar uma questão sobre a falta, o desejo e de busca de um lugar no circuito das trocas sociais. O Outro da cultura pode se presentificar de algumas formas, dentre estas, nas injunções sociais que indicam possíveis lugares, espaços, na pólis.
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