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O ÓCIO DOS ANJOS IGNORADOS
(ARRIETE VILELA)

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do Livro: O ÓCIO DOS ANJOS IGNORADOS.
Autor: ARRIETE VILELA

Uma das maiores, poetas do Estado de Alagoas – também escreveu: “Para além do avesso da escola/1980; “Farpa/1988”; “A rede do anjo/1992”; “Fantasia e avesso/1994”; “Dos destroços, o resgate/1994”, nos brinda com suas poesias, nesta que é, no mínimo, uma obra intrigante. Apresenta ao leitor 71 poemas com estruturas variadas: ora sintéticos, ora de forma polida, mas rico em significações. Ora são poemas de uma docilidade encantadora na exploração do subjetivismo de sua poesia, que teima em não ser subjetiva. Abusa em alguns momentos da arte de fazer poesias, a arte da palavra – numa metalinguagem interessante e enigmática.
“Douras a cebola
como se dourasses
a palavra”.
Sua poesia é uma lâmina certeira, que corta, retira os excessos de sua poesia, recorta os excessos de sua própria vida.
“Quisera
aventurar-se
nas errâncias
da tua poética
corporal”.
Uma crítica a poética tradicional se vê presente no Poema nº 2.
“Sou cria
revelada da palavra
que intercepto
em mim
e cumpre o destino
de ser cardo
e não avidamente
flor”.
Enaura Quixabeira Rosa e Silva, reflete sobre a obra dizendo que os poemas são: “Eflúvios de uma sensibilidade poética, numa espécie de ode à palavra que estrutura a vida”, “que apascenta as feras”, que “soterra as ilusões sob andrajos humanos”, que “filtra o esplendor do desconhecido”, que “fataliza os efêmeros prazeres”, que “se mostra provisória”, que “apenas se acumula de delírios, de ressonâncias, de incidentes”, que se “engasta no texto como a pérola na ostra”. “É a transgressão do cotidiano dos prazeres da composição da palavra, uma orgia louca celebrada na comunhão dos corpos, no porão referencial do amor”.
“A palavra:
o porão
onde oculto
as estiagens
do amor. Poema Nº 5”.
É a celebração da vida, dos relacionamentos, dos êxtases amorosos, no desfolhamento do seu eu, oculto, sem olhos, sem revelação numa insônia louca decifrada nas palavras.
“Quando te denuncio,
anuncio-te.
e enquanto te devoro,
decifro-te. Poema Nº 13”.
A autora avança em seu interior ignorado e se relaciona ludicamente com a palavra, seu objeto amoroso, de prazer textual se dividindo em seu lirismo irônico em busca da perfeição da palavra, do ritmo e de sua musicalidade.
Para Enaura Quixabeira Rosa e Silva: “A poeta avança em seu passo peregrino pelos quintais da palavra”, afiando a lâmina de sua poesia para entretecer a vida. De lá, retira a dor transita que costura os “torturados poemas “que trazem à tona, dos recônditos desvãos do inconsciente humano, a imagem arquetípica e ambivalente da “grande mãe” que, embora devore e castre os heróis, gera anjos ociosos e embriagados de poesia. Reserva-se, entretanto, “o direito de ser secreta” para que “nenhuma lembrança seja distorcida pelos equívocos da palavra”. Podemos encontrar essas distorções latentes, prontas para explodir de voragem, de dor, de frustração, de amargura neste processo de criação. Envolve-se na antítese de ser autor e ser leitor; de amar e odiar o ócio da paixão; de ser mulher e ser homem; de ser palavra e ser criação; está presente e ausente em si mesma; de ser desejo e ser Anjo, pois a morte vem com a noite e devora suas próprias ausências.
“Deposito
o cravo branco
que trago à lapela
sobre a margura
de um amor
que não sobreviveu
à própria voragem”.
Diante de seu desespero a poeta solta as asas, tenta liberdade, “filtra o esplendor do desconhecido”, tenta desfazer-se das memórias, mas estas são fortes demais para isso, por exemplo,no poema Nº 33 ela faz a sua própria digressão:
“Água da cacimba
no avental encardido
da infância.

revejo a avó
longínqua e triste:
miúda flor ressequindo-se
à beira do fogão de lenha;
miúda borboleta esgotando-se
no sopro à brasa do ferro
de engomar;
miúda camponesa desdobrando-se
entre a cuscuzeira de barro
e as pontas da toalha da mesa,
onde assoa o nariz.

miúda e bela estrela,
a avó,
mergulhada no abismo
do anonimato”.
Ó ócio deste Anjo interior, que teima na dúvida das relações antitéticas com a sua própria realização. Chega a duvidar de si mesma, de seu ato de escrever, mas depois recobra a consciência e se torna palavra, viva e significativamente bela no poema Nº 34:
“Escrever
me desrealiza.

e por isto ser
tão humanamente
necessário,
abrandam-se-me todas
as angústias”.
O Anjo é sua auto defesa, com o qual se agarra para se defender da realidade. Mostra a todos que não é frágil como aparente em suas palavras pedregosas está sua defesa:
“Não me firas
para que eu não te seja
palavra pedregosa;
para que eu não deixe impresso
o sinal da nossa passagem
em paredes mofadas e sombrias”.
A vida tão celebrada abre espaço agora para a solidão das rugas, a velhice das palavras, num exílio onde as ações não envelhecem, só há a plenitude das palavras. Tudo passa, os seres e os objetos quebram-se, envelhecem, mas as palavras nunca eis o último poema desta obra:
“Vêm
E imprime
Em mim a marca
Visível
Da realidade
Feita de afetos
Duradouros”.

VILELA, Arriete. O Ócio dos Anjos Ignorados – Maceió - AL, Gráfica Editora Gazeta de Alagoas, 1995.



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