Réquiem
(Shizuko Go)
O que pode aludir ao desespero, a descoberta? Uma frase? "Tudo ficava mais escuro de olhos abertos". Esta frase proferida pela jovem Setsuko Oizumi, personagem central do romance "Réquiem" de Shizuko Go lançada em 1972, serve de prelúdio para uma notável dissecação das atribulações e vicissitudes da guerra. A estudante Setsuko é uma adolescente patriota no Japão da Segunda Guerra Mundial. A jovem participa dos esforços de mobilização trabalhando em uma fábrica. A crença na vitória e nas justificativas para o sacríficio da população a fazem agir com resignação e esperança num futuro consagrador para o Japão.Porém, o sofrimento físico e emocional podem ser indícios do florescimento da contestação. É o percurso da jovem, em uma narrativa que alterna o presente com o conhecimento dos fatos futuros, que nos apresenta os despojos da guerra. A referência aos olhos abertos no escuro simboliza a gradativa tomada de consciência quando percebemos os equívocos inerentes a toda fé cega nos emblemas nacionais sem a devida criticidade. Setsuko é uma menina que possui as suas restrições, como a timidez, e a sua força, que é a entrega serena e incondicional a amizade, especialmente a amizade com Naomi Niwa, a filha de um suposto traidor. Separadas pela guerra elas trocam cartas que pontuarão no romance as agruras do cotidiano imerso no caos. O cenário descrito capta os temores, as decepções, mas também o sopro de vida que a manutenção da sanidade exige. Nesse ínterim Setsuko assisti a morte das pessoas mais caras a ela. Ao revelar-nos as sucessivas tragédias que abalam a adolescente, Shizuko Go constrói um libelo contra os conflitos armados. A autora destila com elegãncia o pior remédio para a elucidação, para o despertar. A verdade é um remédio amargo, mas libertador. Bertrand Russell disse, certa vez, que a verdade em tempos normais é considerada sintoma de má educação, mas em tempo de guerra ela é declarada crime. Apesar disso não há apelo à pieguice, ao sentimentalismo que devasta o apuro intelectual. As adversidades que se acumulam na existência da jovem que adotou a guerra como uma luta pessoal, projetam o alvorecer da dúvida. Do seu abrigo que a torna um ser encurralado que aspira o futuro ou a morte, Setsuko é a imagem da ruína humana. A obra de Shizuko Go desvela uma inquietação, um grito de revolta proferido por uma alma soturna cingida pelos pesadelos do furor iminente que a barbárie humana não cansa de produzir, mas que somente a fé na solidariedade pode combater.
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