Dar uma de ostra
(Odir Cunha)
Há uma tendência, até mesmo entre pessoas esclarecidas, de se achar que não existe sorte, que o sucesso é um prêmio natural aos mais capazes. Logicamente é uma teoria alimentada com carinho pelos bem-sucedidos, pois é no mínimo envaidecedor imaginar que nossa fortuna e felicidade se devem unicamente à nossa competência, e não às imponderabilidades do destino. Mas, observando a vida animal, percebemos que não é bem assim.
Filhotes de antílopes nascem tão fracos que têm de ficar escondidos na vegetação da savana até que tenham forças para correr atrás de suas mães. Nesse período vivem a fase mais perigosa de suas vidas, pois diversos predadores, de imensos leões a pequenos chacais, rondam as moitas ansiosos por devorá-los.
O encontro fatal se dá ao acaso. Filhotes doentinhos podem não ser encontrados, tendo tempo de se recuperar dos traumas do parto e seguir em frente, em busca de uma longa vida de correrias e folhas tenras; enquanto outros, saudáveis, podem ter um destino trágico. Naturalmente mais espertos e inquietos, estes últimos têm até mais dificuldade de permanecerem imóveis, aumentando a chance de serem vistos. Essa insegurança acompanha as espécies animais por toda a vida. Fatores
externos, como o clima, podem acabar não só com um indivíduo, mas com todo o seu grupo. Transportados para a vida humana, esses fatores seriam a situação de cada país, de cada mercado, de cada família. Imaginar que o sucesso de alguém depende exclusivamente de sua capacidade é ir contra as leis do mundo animal, do qual, é bom não esquecer, fazemos parte. (Capítulo do livro "Os bichos ensinam")
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