Essência poética
(Silvia Regina Segato)
ESSÊNCIA POÉTICA “Poesia é tempo, ritmo, perpetuamente criador. Ela não nos dá á vida eterna, mas nos faz vislumbrar a vivacidade da vida. A experiência poética é abrir a fontes do ser. A poesia não é uma opinião, nem interpretação da existência humana; é uma revelação de nossa condição original, da nossa condição humana e não encarnará na palavra e sim na vida. A palavra poética jamais é completamente desse mundo: sempre nos leva mais além: a outros mundos, céus, terras e verdades. A poesia vive nas camadas mais profundas do ser”. Octávio Paz Poesia é uma arte que precisa ser vista, sentida, percebida. A beleza da poesia de nada adiantará se nossos olhos permanecerem fechados. Não tenho a pretensão de dizer que uma vida com poesia é necessariamente melhor para os seres humanos. Mas com essa escrita pretendo enfatizar que com ela certamente teremos outro olhar em todos os sentidos: para a leitura dos poemas, para nosso poder criativo e para nossas palavras. Quando existe poesia em nossos olhos, passamos a contar coisas diferentes: sentimentos através de canções. O pensamento torna-se mais poético, o olhar contemplativo; é possível sentir na poesia um lugar seguro. Poesia é ritmo, expressão lingüística, modo de força, onda que se divide. Entendo que para se ter um novo olhar sobre a poesia é preciso também conceituá-la. Poesia, do grego, poíésis: significa criação, fabricação, confecção, obra poética. Poesia é a arte de compor ou escrever versos; composição em versos livres ou providos de rima, cujo conteúdo apresenta uma visão emocional e ou conceitual na abordagem de idéias; estados de alma; sentimentos, impressões subjetivas, etc.; o que desperta o sentimento do belo; poder criativo, inspiração; aquilo que há de mais elevado e comovente nas pessoais ou nas coisas. (HOUAIS, 1999, p. 236). A motivação rítmica varia entre o passado e o presente, como também sua perspectiva imediata: a fonética. Com o desenvolvimento cultural, os aspectos primários do ritmo e do som começaram a adquirir cores intelectuais, por indivíduos que pensavam não mais em função estrita dos problemas da comunidade. Novas sugestões rítmicas foram aparecendo e permitindo à narrativa constituir-se em formas fixas. Ensaístas e filósofos se preocupavam então com a essência da poesia, numa tentativa de desligá-la da matriz em que fermentara com outras expressões, que também foram conquistando autonomia e passando, por características afins, à qualidade de gêneros. Entretanto, a essência da poesia é algo que freqüentemente escapa a todas as tentativas de definição ou compreensão. Apesar da natureza “etérea” da essência poética, há incontáveis perspectivas reveladoras sob as quais se pode observá-la. Uma dessas perspectivas, particularmente interessante, é a dos artistas. O olhar que artistas de diversos gêneros lançam sobre a poesia; e a forma como eles e elas sentem a poesia e a expressam através de sua arte. O filósofo alemão Heidegger, ao procurar a essência da poesia em Holderlin, não afastou a possibilidade de ser ela conceitual e, ao mesmo tempo, lírica. É de fato, constante a poética através dos tempos, os aspectos líricos, presentes, inclusive, na obra dos grandes épicos, como em Homero, nas cenas de amor de Circe, ou como em Camões, nas cenas do Adamastor e de Inês de Castro (Os Lusíadas). Por outro lado, Goethe sempre considerou a poesia como impossível de ser analisada. (HEIDEGGER, 2003, p. 89). Na obra poética, “ O Arco e a Lira”, de Octávio Paz a poesia é conceituada como: Conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo.Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração. Súplica ao vazio, diálogo com ausência. Oração, presença, conjura, magia. Experiência, sentimento, emoção. Arte de falar em forma superior. Loucura, êxtase, nostalgia, confissão, visão, música, símbolo. (PAZ, 1982, p. 15). Na obra de Severino Antônio, em “Utopia da Palavra”: A poesia é a utopia da palavra, a terra prometida da linguagem. Horizonte de plenitude de expressão, em que se realizariam as potencialidades multissêmicas dos símbolos. A palavra-coisa. A palavra-corpo. A palavra-ser. O sonho dos signos. (SEVERINO ANTÔNIO, 2002, p. 21). Para o filósofo Edgar Morin a poesia não é apenas um modo de expressão literária, mas um estado segundo do ser que advém da participação, da admiração, da comunhão, da embriaguês, da exaltação e do amor. “O sentido do amor e da poesia é o sentido supremo da vida”.(MORIN, 2001, p. 10). A poesia é liberada do mito e da razão, mas contém si uma união.
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