Regras relativas à observação dos fatos sociais
(Émile Durkheim)
Para Durkheim, a reflexão é anterior à ciência, porém, ao utilizar de maneira metódica esta reflexão, o homem passa a regular sua conduta a partir das noções que utiliza para compreender as coisas e não a partir da coisa em si. Ele considera que os conceitos não podem tomar o lugar das coisas. Segundo o autor, este modo de proceder é uma inclinação natural do homem e dominou também a própria ciência natural em sua origem. A sociologia, para Durkheim tratava de conceitos, não de coisas. Daí a sua crítica ao evolucionismo de Comte, que estaria assentado sobre as idéias, não sobre os fatos. Uma outra crítica feita por Durkheim se dirige à teoria formulada por Spencer, que estabeleceu como característica básica de uma sociedade a cooperação (cooperação de caráter privado, predominante em sociedades industriais, e de caráter público, em sociedades militares). De acordo com Durkheim, ele também teria se deixado levar por prenoções e não observado as coisas em si. Os fatos que Spencer inscreve em sua sociologia são, para Durkheim, apenas uma forma de ilustrar suas prenoções. O mesmo acontece no que ele vai chamar de “ramos especiais da sociologia”: a moral e a economia política. No que se refere à economia política, não é a partir da observação das condições de que depende a coisa que estuda que vai reconhecer a existência dos fatos; pois senão teria começado por expor as experiências das quais tirou esta conclusão. É assim que ele diz ser necessário ir à coisa para daí então deduzir os conceitos, realizando assim o método indutivo. Ele exemplifica com o modo como é construída a noção de valor: Durkheim afirma que muito do que é tido como ciência não é nada mais nada menos que arte, pois o cientista não se atém à coisa em si, mas às idéias que ela suscita. Assim é que, para ele, as leis econômicas e da moral tidas como naturais são meros “conselhos de sabedoria prática”, não podendo ser chamada cada uma delas de lei natural porque não são constatadas indutivamente. Por isso que para Durkheim é necessário que os fenômenos sejam estudados de fora, isto é, do exterior. Assim procedendo, o cientista poderá alcançar a objetividade dos fatos. Daí decorre a importância do postulado estabelecido por Durkheim: O caráter convencional de uma prática ou de uma instituição não deve jamais ser pressuposto. Apesar da crítica que é feita a Durkheim no sentido de que sua teoria não contempla a mudança, vemos que a mudança é admitida, porém dentro de certas condições. Durkheim compara as reformas propostas por ele à Sociologia àquelas experimentadas pela Psicologia, que também era baseada nas idéias formuladas a respeito das sensações que os indivíduos experimentavam, não nas sensações em si. Mesmo reconhecendo esta similaridade, ele diferencia os fatos psíquicos dos fatos sociais: Após enunciar essa diferenciação, Durkheim estabelece as regras através das quais os fatos sociais seriam alcançados: 1. É preciso afastar sistematicamente todas as prenoções. – Durkheim sugere que todas as prenoções sejam abandonadas em nome da verdadeira ciência, mas reconhece, contudo, ser esta uma tarefa difícil
2. Nunca tomar por objeto de pesquisa senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhe são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos aqueles que correspondem a esta definição. Durkheim diz ser imprescindível definir o objeto estudado porque em sociologia é comum a referência a coisas sem uma definição rigorosa do que se tratam. Este procedimento é necessário a fim eliminar as ambiguidades. Como exemplo, ele cita um autor, Garofalo que define como crime apenas uma espécie de crime, encontrada numa determinada sociedade. Para Durkheim, seria necessário localizar o crime em cada sociedade estudada, entendendo-o não como algo atrelado às regras de moralidade vigente, mas consideradas no contexto em que ocorre, seja uma sociedade “civilizada” ou “primitiva”. Isto é o que leva, de acordo com Durkheim, à consideração de que os “selvagens” são desprovidos de quaisquer regras de moralidade. Tais regras podem ser encontradas tanto nas sociedades consideradas “superiores” como nas “inferiores”. À acusação de que estaria derivando o crime da punição, Durkheim rebate dizendo que um sociólogo deve se esforçar por considerar os fatos sociais isolados de suas manifestações individuais. Segundo Durkheim, tanto a ciência como o conhecimento vulgar partem da sensação, pois é dela que se originam todas as idéias, sejam científicas ou não. O que diferencia o saber científico do saber comum é o modo como vai ser elaborada esta matéria comum.
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