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A fábula das três raças
(Roberto da Matta)

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Matta faz uma crítica à adoção de determinismos surgidos nos meios eruditos e que invadem o campo popular. O autor apresenta o racismo à brasileira como uma prova da dificuldade de pensar a nossa realidade social. Ele começa a narrativa com a afirmação de que a distância entre as teorias e as ideologias e valores é menor do que se supõe, e o antropólogo deve abandonar o senso comum e perceber que as idéias atuam em certas situações como atores sociais. É apontada a importância da fábula das três raças, que faz com que o popular e o erudito se encontrem e permite especular sobre as relações que se dão entre esses dois níveis. Os elementos constitutivos da sociedade brasileira (branco, negro e índio) estão colocados de forma ideológica na construção que foi feita dessa identidade. Contrariamente ao sistema de classificação das raças americano, o brasileiro admite um triângulo no qual são visíveis as hierarquias sociais. A justificativa ao sistema hierarquizado é fundada na Igreja unidade com os seus interesses às áreas política e comercial. O Brasil foi desde o início da colonização um território onde as ideologias vigentes em Portugal vigoravam. Apesar da distância geográfica, o modelo de sociedade era português, e esse modelo, ao contrário do que é propagado, estava baseado em rígida hierarquias. Portanto, fica claro que a lei não igualava os cidadãos e, ao contrário, cada um tinha o seu lugar definido. A tese de que o português estava aberto a uma interação étnica igualitária é negada por Matta, pois como ele afirma: O português não chegou ao Brasil desprovido dos seus valores e ideologias, e a colonização portuguesa não se constituiu numa empresa sem alvo ou método. Matta aponta como significativo o episódio da independência, pois a partir dele a rigidez hierárquica foi quebrada, sendo reorientada. Na busca pela identidade de país independente e sem ter um colonizador para responsabilizar por suas diferenças internas, a elite brasileira criou a fábula das três raças, na qual os impulsos contraditórios eram conciliados, mas sem que houvesse uma transformação profunda. As doutrinas que compunham essa ideologia têm seu marco na Proclamação da República e Abolição da Escravatura, momentos de crises nacionais. O racismo científico surgiu num momento em que a ideologia católica e o formalismo jurídico português não davam conta da sustentação do sistema hierárquico vigente. Essa ideologia surgiu a partir do confronto entre a Abolição - com seu caráter progressivo, propugnando pela igualdade e transformação de hierarquia e a República - destinada à manutenção o status quo. As doutrinas racistas que influenciaram a elite brasileira foram produzidas por Agassiz, Buckle, Gobineau e Couty. Elas combatiam a miscigenação e proclamavam o homem branco como superior aos demais, partindo dos pressupostos de que cada raça ocupa um lugar na histórica e que o componente biológico determinava o comportamento e a mentalidade dos indivíduos. Além da experiência histórica, fatores relacionados à formação social e cultural do Brasil foram responsáveis pela adoção das doutrinas racistas. Matta assinala que o determinismo não foi discutido em todas as suas formas no meio social, político e cultural brasileiro. Os determinismo raciais eram mais debatidos que o determinismo geográfico. O ponto crítico do sistema brasileiro é a sua desigualdade extrema. Mesmo entre os que estão localizados numa mesma classe há diferenciações que fazem com que ninguém seja igual entre si ou perante a lei. A segregação não é necessária no Brasil porque o sistema social hierárquico permite a intimidade, a consideração, o favor, sem que cada indivíduo precise sair do seu lugar. As diferentes camadas sociais são vistas como complementares.As diferenças individuais em sistemas hierarquizantes como o brasileiro são resolvidas a partir do estabelecimento de relações sociais. Pior do que ser diferente é não ser familiar, não ser conhecido pelos integrantes de determinadas redes de relações sociais. No caso de sistemas igualitários e individualizados, onde as hierarquias que sustentam o poder do todo sobre as partes se rompem, ocorre como nos EUA. Lá não é permitida a miscigenação porque cada raça é considerada em si (e a raça branca é a superior). A segregação imposta nos EUA foi, segundo Matta, uma saída para resolver o problema da massa de negros livres, que, apesar de serem diferentes (e desiguais) vivam, junto com os brancos numa sociedade de credo igualitário. Enquanto que o racismo arianista não admitia a miscigenação, no Brasil as teorias racistas de Sílvio Romero e Nina Rodrigues, também colocando o branco como superior, colocavam as três raças numa posição de interação, a partir da qual são criadas as leis. O esquema do triângulo racial evidencia a diferença do preconceito racial brasileiro para o americano. Enquanto nos EUA o que importa é a origem, no Brasil o que fica claro é a vigência da marca. Nos EUA não há gradações, negros e brancos são diferentes e não se entrecruzam, mas são considerados iguais perante a lei. O fato de existir este sistema que possibilita a formação de triângulo, denuncia a mediação como forma de resolução de conflitos e adiamento do confronto. O sincretismo oriundo desse sistema é visível no campo político, religioso e social como uma forma de conciliação de elementos antagônicos.



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