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Um conceito antropológico de identidade
(Roberto Cardoso de Oliveira)

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OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. “Um conceito antropológico de identidade”. In: Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1976. Capítulo II. p. 33-52.

O autor toma como referência para o estudo da identidade um trecho de um texto de Mauss, em que ele destaca o caráter axiomático da abordagem antropológica, segundo a qual o homem não pensa isoladamente, mas através de categorias engendradas pela vida social. Outro ponto que ressalta no texto é a inter-relação entre as pesquisas psicológicas e sociológicas. Oliveira propõe-se a correlacionar as noções de identidade e ideologia a partir de investigações da Psicologia sobre a primeira, e da interpretação sociológica da segunda, estabelecendo uma relação entre estas e o conceito de identidade étnica. Oliveira mostra como os conceitos de identidade e ideologia são tratados por alguns psicólogos (a exemplo de Grimberg & Grimberg, 1971, e Erikson, 1968). Para ele, a distinção entre estes dois conceitos feita pelos psicólogos prejudica o entendimento do fenômeno da identidade, pois a mesma, segundo Oliveira, é uma ideologia. Apesar de fazer esta restrição, o autor reconhece que há contribuições significativas do conceito psicológico de identidade ao conceito antropológico. Dentre elas, ele destaca a ênfase na dialética entre semelhança e diferença, o que assemelha-o ao conceito de identidade contrastiva – que, segundo Oliveira, é a essência da identidade étnica. O conceito de identidade social formulado por Erikson vê a ideologia apenas como condição da mesma. Segundo o conceito concebido por ele, ideologia é definida como um corpo coerente de imagens, idéias e ideais compartilhados que, seja baseado numa Weltanschauung implícita, numa altamente estruturada imagem do mundo, num credo político ou mesmo num credo científico (especialmente se aplicado ao homem), ou num ‘modo de vida’, provê os participantes de uma orientação coerente e total, ainda que sistematicamente simplificada, no espaço e no tempo, nos meios e nos fins. (Erikson, 1968) Ignorando o conceito de ideologia como falsa consciência, defendidos por Mannheim e Merton. Oliveira pontua elementos das formulações de Poulantzas e Althusser, Berger e Luckmann, ao construir o conceito de representação coletiva. O conceito de ideologia formulado por Poulantzas é analisado pelo autor com o intuito de diferenciá-lo de representação coletiva. Segundo Poulantzas, as ideologias não podem ser dissociadas da experiência vivida dos atores, ou seja, não há necessariamente uma reflexão sobre o conteúdo ideológico das práticas sociais. A ideologia, então, ao invés de representações coletivas, seria uma forma em que se assumem representações. O caráter inconsciente das representações coletivas é colocado por Oliveira como um elemento que as distingue da ideologia, que pode ser consciente ou inconsciente, e tem natureza sistêmica. Segundo ele, as representações coletivas não são conscientes porque não são fruto de indivíduos específicos, e sim, produto social, transmitidas de geração a geração. Seguindo a trilha de Durkheim, Oliveira diz que essas representações coletivas, enquanto transcendem o ‘ser individual’, exprimem uma realidade mais alta, a saber, a da própria sociedade. O autor busca distinguir representação coletiva de crença, através da ênfase ao caráter consciente da crença, ao mesmo tempo em que procura estabelecer a relação entre os dois conceitos. A partir de Lévi-Strauss (Le socier et as magie et l’efficacité symbolique), Oliveira esclarece essa ligação, mostrando que as representações coletivas formam o substrato cultural da crença, ou seja, a gramaticalidade do sistema social estaria dependente, dentre outras categoriais igualmente necessárias, da categoria Xamã. Os xamãs individuais, de carne e osso, são criados pelo inconsciente coletivo à imagem dos xamãs míticos.
Oliveira chama atenção, através da citação de um trecho do texto de Berger e Luckmann (1971), para o caráter processual da identidade coletiva (ou social). Ela seria formada a partir das relações sociais, que por sua vez são determinadas pela estrutura social. O caráter relacional da identidade é sublinhado por Oliveira, que utiliza a noção de “relações de identidade”, formulada por Goodenough, para explicar o fenômeno. Nessa noção está imbricada a idéia de complementaridade, que seria expressa a partir do fato de somente ser compreensível numa dada identidade em oposição complementar a outra (médico-médico, médico-enfermeira, e não, médico-esposa, médico-empregado). Esse contraste é que garante a gramaticalidade do sistema de relações de identidade, isto é, fará com que o mesmo seja inteligível; dentro do sistema cultural. Oliveira destaca a natureza ideológica da identidade étnica, a partir da descrição do processo de identificação. O sistema interétnico, com sua dinâmica peculiar, abrigaria em si a “cultura do contato”. Essa cultura teria “idéias organizadoras”(Leach, 1961), que dariam inteligibilidade ao pesquisador, porém não encontradas ao nível consciente. As representações, com seu nível inconsciente, seriam responsáveis pela cultura, sendo, segundo Oliveira, “seu núcleo formador e mais dinâmico.”
A denominação “caboclo”, que os índios Tukúna assumem como algo que os identifica, é uma adesão às representações negativas que fazem sobre eles. É adoção do ponto de vista do outro sobre si, porém de uma forma negativa. A partir da cotidianização das relações de identidade proporcionada pela “cultura do contato”, há normalmente uma inversão do padrão de representação coletiva do grupo dominado, fazendo com que a visão de si mesmo enquanto categoria étnica seja embotada. Nesse momento, se afigura o etnocentrismo.
A peculiaridade do conceito antropológico de identidade estaria, segundo o autor, no fato de que ela emerge a partir de um dado sistema de relações sociais, o que significa dizer que, qualquer estudo antropológico de identidade étnica deve levar em consideração o sistema de relações interétnicas que propicia as condições de existência que geram essa identidade.



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