Representações sociais: a teoria e sua história
(Robert Farr)
FARR, Robert. “Representações sociais: a teoria e sua história”. In: Textos em representações sociais. Organizado por Pedrinho Guareschi e Sandra Jovchelovitch. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 31-59. A teoria das representações sociais surgiu na Europa, em 1961, a partir da publicação de Psychanalyse: son image et son public, de Serge Moscovici. Oriunda da Psicologia Social, esta teoria contrasta com os estudos realizados na tradição americana, que é tida como o terreno onde floresceu a Psicologia Social. A Psicologia Social, segundo Farr, ao contrário do que defende G. W. Allport, que elegeu Auguste Comte, tem Émile Durkheim como fundador, pois é nele que começa a ser feita uma reflexão sobre as representações, que continua com Moscovici. Desenvolvida inicialmente na América do Norte como uma subdisciplina da Sociologia, a Psicologia Social foi se afastando desta na medida em que se aproximou mais da Psicologia. Acreditando que os fenômenos coletivos eram regidos por leis distintas dos fenômenos individuais, os teóricos anteriores à Segunda guerra, em sua maioria, classificaram os fenômenos humanos em dois níveis: o nível do individual e o nível do coletivo. Wundt, distinguiu psicologia fisiológica de “Volkerpsychologie”, Durkheim (1898), distinguiu representações individuais de representações coletivas, Le Bon (1895) distinguiu indivíduos das massas, Freud tratou o indivíduo clinicamente e desenvolveu uma crítica psicanalítica da cultura e da sociedade. A visão de Le Bon sobre os fenômenos individuais e coletivos foi responsável pela posterior individualização da Psicologia Social, que passou a ter um terreno próprio. Para ele, a multidão é um conjunto de indivíduos, o que tornou possível individualizar o social. Freud, diferentemente de Le Bon e de Wundt, conseguiu interrelacionar cultura e formas de influência social (hipnose, psicoterapia, religião etc.). através da psicanálise, principalmente com sua análise dos sonhos. Mead (1934), assim como Freud, também relacionou individual e coletivo em sua teoria. Ele enfatiza a importância da linguagem para a compreensão da especificidade do homem. Tanto Mead como Moscovici entendem que individual e coletivo se relacionam e vêem na Psicologia Social o meio de operar a síntese entre os dois níveis. O embate entre a consideração em separado ou de forma relacional entre esses dois níveis, gerou alguns posicionamentos. McDougall, ao publicar The Group Mind, em 1920, sofreu ataques por parte de Allport, que o acusou de conferir a outras entidades, que não o indivíduo, capacidade de agir. Ele considerava que o coletivo pode ser pensado a partir da utilização dos métodos utilizados para compreender o indivíduo. Apropriando-se das formulações de Durkheim sobre representação social e representação coletiva, Moscovici dirá que à Psicologia Social cabe o estudo das representações coletivas, daí se originando o seu conceito de representação. Para ele, no contexto moderno, devem ser estudadas as representações sociais, pois o estudo das representações coletivas seria mais adequado nas sociedades “menos complexas”. As sociedades modernas possuem como características o pluralismo e a rapidez com que as mudanças ocorrem, não sendo válido falar em representações coletivas, dado que neste contexto elas são muito poucas. Com isto, ao invés de se distanciar, vê-se que ele se aproxima dos pós-modernos, pois ao afirmar que as concepções de mundo do próprio cientista são fragmentadas, como no discurso pós-moderno, ele vai dizer que a ciência é uma fonte fecunda de representações, e se ocupa com as concepções leigas da ciência. É justamente essa disseminação pela sociedade - que Bartlett (1932) vai chamar de “convencionalização” - que faz com que determinada representação social interesse ao cientista. Em um dos seus experimentos, Bartlett estudou justamente como uma história inspirada na cultura indígena americana foi apropriada na Inglaterra por estudantes e foi sendo alterada, a partir de características ausentes na história original. A esse processo ele chamou de “ancoragem”. A teoria das representações sócias de Moscovici se constituiu num ataque à Psicologia Social desenvolvida na América do Norte, pois ele se colocava contra a redução da Psicologia Social ao estudo do indivíduo ou, como Allport sugeria, que o estudo do indivíduo automaticamente nos levasse a fazer inferências sobre o social. Por isso ele discordava do uso de pesquisa de opinião pública, que achava meramente descritiva e estéril, do ponto de vista de uma possível teorização. Assim como as formulações de Durkheim a respeito da constituição social do indivíduo influenciaram a teoria das representações sociais, as de Weber a respeito da importância do indivíduo como capaz de transformar a sociedade também foram muito importantes. A partir da relegação ao passado das representações sociais na Psicologia Social norte americana, nota-se que há uma individualização crescente por parte da disciplina, que passou a ter como foco somente o indivíduo. Isto porque, aliada à influência de Allport na individualização da Psicologia Social, houve a consideração das ciências sociais como ciências comportamentalistas, justamente para que se evitasse qualquer ligação com o socialismo ao qual eram correntemente associadas e garantir o financiamento de tais pesquisas. Outro fator que contribuiu para a individualização da Psicologia Social foi a migração de psicólogos gestaltistas para a América do Norte, que sucederam os behavioristas nessa individualização.
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