BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


MORREU DE "PREGUIÇA"
(JOAO EURIPEDES SABINO)

Publicidade
Um velho tropeiro que sempre labutou de sol a sol, pode morrer de "preguiça"?
Pode sim e eu tentarei explicar.

Seu Telê, um exímio peão mato-grossense passava
muito e até vivia por essas bandas. Bombachas, botas sanfonadas,
chapéu preto de copa baixa e meio quebrado na testa, cinturão
largo cravejado de moedas (tenho-o no meu escritório), e quando
não era o cinto usava uma bela guaiaca. Era esse o traje daquele
lendário pantaneiro de cor negra. Seu fraco: contar causos para
nós as crianças. Uma de suas referências em Uberaba:
O médico Dr. Olavo Mendes hoje já falecido.

A camisa xadrez manga longa arregaçada, tinha o adorno de um
punhal de prata escondido na parte de trás da cintura. Medo,
seu Telê não tinha e o chimarrão nunca dispensava.
Ensinou a meu pai preparar o mate e sempre dizia: "Oi tchê
nunca deixe o mate viu?" E assim meu velho, mesmo sendo triangulino,
usou o mate até o triste fevereiro de 2001...

Saí um dia da infância e seu Telê como por assim
dizer, "sumiu". Chapadinha seu amigo inseparável e
berranteiro respeitado, já com as esporas penduradas de vez em
quando, dava-nos o prazer de uma boa prosa com cheiro da raiz de araçazeiro.
Tião Carreiro sempre estava presente: "Saudade palavra rica
/ Que martiriza e fica, dentro de um coração..."

Conversa vai, conversa vem, perguntei: O que foi feito do nosso velho
amigo Telê? De Chapadinha tive a triste reposta: -"Morreu...
(fez um silêncio) e... de preguiça. ..".

Meu entendimento fechou e pedi explicações. Como pode
um velho e destemido tropeiro morrer de "preguiça"?
Foi assim mesmo, disse Chapadinha com a voz embargada à nossa.
"Uma barrigueira bamba do arreio levou Telê. Se ele tivesse
me ouvido e re-apertado antes de tentar a montaria, não teria
rodado com a arreata, tendo o pé esquerdo no estribo e morrido
ao lado de sua mula pêlo de rato que era tão mansa. A cabeça
foi ao chão, aliás, bateu numa raiz de uma gigante gameleira".
Na engenharia o que matou Telê, foi um ato inseguro. No dizer
de um peão, foi a "preguiça". Tombou naquele
chão um herói sem medalha que nunca teve preguiça.

Lamentei ali a última viagem de Telê, seu último
pouso e a derradeira montaria que não foi executada.
Tirei da parede o berrante de meu pai e pedi a Chapadinha que o repicasse
em homenagem a Telê. O enfisema pulmonar daquele inesquecível
ponteiro deu uma trégua, o chão tremeu e ouvimos ali um
som que desde 1972 não ouvi outro igual. Eu devia esta crônica
a Telê e Chapadinha.





(*) DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO.
E-mail: [email protected]



Resumos Relacionados


- Quadro De Saúde De Telê Santana Piora Novamente

- O Dia

- O Mate Do João Cardoso

- E Deus Disse Não - Metafora

- Flu Presta Homenagem A Telê Com Vitória Sobre O Goiás E Liderança



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia