O DOCE VENENO DO ESCORPIÃO
(Bruna Surfistinha)
Acho interessante chamarem a prostituta Bruna Surfistinha de “grande autora”. Não por preconceito ou coisa parecida, mas pelo predicado que, no meu entender, não lhe cabe. Pessoalmente não concordo com a grandeza de sua obra, mas, admito que ela soube aproveitar-se e utilizar-se dos recursos tecnológicos disponíveis hoje para produzir o seu marketing pessoal. Na verdade, considero-a até inteligente por conseguir transformar com grande oportunismo uma garota de programa - nome mais poético para prostituta, no meu tempo era puta mesmo – em um best-seller, apenas, usando, abusando e lambuzando-se em suas experiências sexuais, depois de lançar seu diário pessoal num desses blogs da vida. Resultado: fez sua fama, sem esquecer, logicamente, de deitar, rolar e aumentar o movimento na sua cama e na conta bancária - o mais importante, claro. Nesse aspecto, méritos para a autora e seus orientadores. Realmente, uma grande sacada de marketing. Méritos o livro tem poucos, até porque todos têm os seus, por pior que seja, e sempre é possível salvar alguma coisa, afinal temos de extrair do lixo alguma coisa boa, mesmo que seja apenas uma lição às avessas. A história (é história mesmo segundo a autora) é meio insossa e demonstra certa pobreza literária com relatos inconsistentes e muitas vezes vazios de conteúdo, mesmo quando remete à sua infância e adolescência, relatando momentos onde já começava a desenvolver desvios de conduta, como bolinar os meninos e roubar dinheiro e objetos de sua mãe e de colegas da escola. Não convence em nenhum momento a tentativa de responsabilizar os pais (adotivos) pelo desfecho de sua vida, nem a pretensiosa intenção de mudar de vida ou a pseudo-demonstração de amor pela mãe. Soa falso, sem ternura. Do ponto de vista das incoerências e contradições, ao mesmo tempo em que tenta imputar a culpa pelo seu futuro, agora presente, aos pais, declara literalmente com todas as letras palavras e verbetes, toda a sua inclinação à libertinagem. Assumindo a sua identidade de puta juvenil precoce, relata que desde a tenra idade já gostava de apalpar e bolinar os meninos, não importando em qual lugar estivesse, assim como também sentia tesão pelas meninas. O livro vence, mas não convence. Acho que a idéia de poetizar a vida de uma garota de programa, mesclando suas experiências sexuais com relatos de sua vida anterior, fez apenas confundir ficção com realidade e não convenceu. Não conseguiu transformá-la em vítima do sistema. Pelo contrário, transformou o livro numa caricatura falsa e descompromissada. É possível identificar tantas “caras”, que fica difícil defini-lo ou tratá-lo como livro de memórias, ficção ou auto-ajuda, ou até mesmo um manual kama-sutra. Tem um pouco de tudo e de mais alguma coisa do tipo catecismo. Não aquele do tipo a puta vira santa no final, mas aquele do tipo que se fazia antigamente quando não existiam as revistinhas pornográficas com fotografias coloridas, nem os filmes pornôs dos dias atuais, embora aqueles fossem bem melhores, porque nem mesmo os relatos das experiências relatados pela autora atraem a ponto de incendiar um homem. Talvez possa entusiasmar os adolescentes em busca do conhecimento do sexo, mas não contagiam. Alguma coisa que salva a narrativa, dentro da sua proposta, mais pela curiosidade que propriamente pelo efeito literário, é a descrição das orgias sexuais com homens, mulheres e afins, e dos diversos relatos de desvios de comportamento de outros tantos afins. E as fantasias esdrúxulas e pervertidas de alguns personagens (clientes). Em resumo, apesar de todas as contradições o livro é razoável, mas ficou aquém das expectativas. Mesmo as páginas negras, não são tão negras assim. Eu diria que são marrons. Nada de excepcional, aliás, nem sei por que estavam lacradas. Criou-se um suspense em cima de algo que não existia. Já li muitas outras estórias nessa linha, bem melhores e mais apimentadas, em revistas masculinas que eram publicadas há três décadas. Dentro da proposta de contar a vida pervertida da Bruna, acho cumpriu parcialmente o objetivo, mas faltou profundidade, tempero, mais tesão. Dentro da proposta de contar a vida familiar da Bruna, se tinha alguma intenção de justificar sua rebeldia, não conseguiu. Faltou o principal: credibilidade.
Resumos Relacionados
- O Doce Veneno Do Escorpião
- Bruna Surfistinha
- "o Doce Veneno Do Escorpião -- O Diário De Uma Garota De Programa"
- O Doce Veneno Do Escorpião(relato Sexual)(diário De Uma Garota De Programa)(free Download Do Ebook)
- Doce Veneno Do Escorpião-relato Sexual De Uma Garota De Programa(free Download Do Ebook)
|
|