Violencia Humana Parte 2
(Luciana Paradinovic Drachler)
A VIOLÊNCIA HUMANA A violência humana atinge principalmente as classes mais baixas da sociedade e isto deve-se a uma série de fatores, sendo os mais identificáveis os que tentaremos expor na seqüência deste artigo. Se pegarmos, por exemplo, a violência contra a mulher, poderíamos apontar que uma das causas principais que levam as mulheres, das classes menos favorecidas da sociedade, a terem maiores chances de sofrerem agressões por parte do cônjuge é a baixa renda familiar, porém não é a única. Aqui poderíamos relacionar centenas de “causas” para este fato e apenas para que tenham uma noção, o baixo nível educacional do casal e a falta de conhecimento das leis são alguns fatores de inegável contribuição, que se combinados com uma constante pressão financeira, podem se transformar em brigas que em alguns casos culmina com agressões físicas. Já no caso da violência contra o corpo é ainda mais fácil entender que as camadas mais baixas da sociedade sofrerão mais esta forma de violência humana. Afinal, são eles, os pobres, que mais se sujeitarão ao trabalho escravo ou de subsistência, fator agravado cotidianamente pelo alto índice de desemprego que a maioria das sociedades capitalistas vêm enfrentando nas últimas décadas. Ficar horas na fila para pegarem uma senha e assim terem o direito de serem entrevistados por um selecionador de pessoal, na semana seguinte, já se transformou em rotina para um grande numero de desempregados das grandes metrópoles brasileiras, por exemplo. E não pensem que o emprego gerador de tamanho sacrifício preliminar seja algo que lhes garanta uma certa estabilidade. Não. Na maioria dos casos os empregos ofertados para as massas são empregos cujos salários jamais chegarão perto de atenderem as necessidades básicas do candidato, porém, se com ele as coisas ainda serão difíceis, imaginem sem ele. Como o texto da socióloga Cristina Costa deixou bem claro, a violência muitas vezes é praticada pelos próprios agentes responsáveis pela segurança publica e, novamente, a classe dos miseráveis sofrerá muito mais do que os membros das classes dominantes, na mão destes agentes. Ou alguém seria capaz de imaginar um policial agredindo injustamente o filho de um industrial ou o proprietário de um banco? Ou talvez praticando uma chacina contra crianças em plena zona sul do Rio de Janeiro? É claro que não fariam isso, pois são cientes de que a impunidade lhes será mais garantida se atos desta natureza forem desferidos apenas contra comunidades da periferia. Mas não seriam estes policiais também vitimas da violência humana? Acreditamos que também eles padecem da violência que falamos no parágrafo anterior, a violência contra o corpo. Estes seres humanos são contratados e lançados na sociedade, com pouco ou insignificante treinamento, na incumbência de garantir a segurança pública, sendo que na maioria dos casos nem eles mesmos conhecem os direitos e deveres dessa função tão ingrata, capaz de transformar o herói de ontem em bandido de hoje. Porém, até mesmo nessa profissão existem preferências a serem observadas. Segundo relatórios oficiais, publicados por entidades oficiais, dão conta de números impressionantes sobre o tipo de policial de cada uma das forças existentes em nosso país. Funcionários públicos contratados pela Policia Federal diferem em muito, no quesito educacional e de renda familiar, dos contratados pela Policia Militar. Isto não significa dizer que os policiais federais não praticarão crimes ou não correrão riscos de sofrerem violência humana, porém hão de convir que o risco deles é infinitamente menor do que os enfrentados diariamente pelos policiais da PM que sobem os morros cariocas. Polícia de elite composta por membros da elite. Se fossemos aqui analisar o índice de assaltos em residências, praticados em nosso país, certamente encontraríamos dados que dariam conta de que nas áreas destinadas a moradia dos membros mais agraciados financeiramente é muito menor do que naquelas destinadasa moradia dos membros de uma classe média baixa. Mas poderiam então discordar desta nossa informação, alegando que quem sofre assaltos e seqüestros residenciais são os ricos. Bem, isso é uma inverdade, pelo menos se usarmos como parâmetro o alto grau de investimentos em segurança patrimonial e pessoal praticado pelos membros da elite nacional. Adentrar ilegalmente em uma residência, por exemplo, na região do residencial Alphaville, em São Paulo, é quase que uma missão suicida. O mesmo podemos dizer sobre os seqüestros. Tentar seqüestrar um alto industrial é um risco não aceito até mesmo pelos mestres na arte de que falamos. Em 2006 um dos maiores seqüestradores do país, Agamenon Leopoldino “Ferreira”, 32 anos, deu uma entrevista para um de nossos periódicos, onde, entre outros assuntos, comentou que é recomendável a um assaltante ou seqüestrador, garantir um montante menor do que se arriscar a enfrentar o forte aparato de segurança pessoal e das residências. Não é a toa que entre os ramos que mais crescem na nossa medíocre economia estão os segmentos que oferecem segurança patrimonial e pessoal. Para encerrarmos, não poderíamos deixar de citar a violência contra o telespectador, praticada impunemente todos os dias nas televisões abertas de nosso país. Sentar-se diante da televisão para assistir a programação de horário nobre, e ver-se em situação embaraçosa perante filhos, pais ou vizinhos é quase que corriqueiro. (Continua...)
Resumos Relacionados
- Violencia Humana Parte 3
- Tropa De Elite
- Violencia Contra Mulher
- Bandido Bom Não é Bandido Morto
- Folha De Sao Paolo
|
|