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Escuridão
(Edmundo Pacheco)

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Meus olhos olharam através das paredes e nada viram... Nada além da escuridão... E foi seu imenso clarão que me despertou. Como sempre, o mundo era negro. Breu. Jamais soube se era noite ou dia. Acostumei-me a ver meu mundo pelo tato: parede lisa à direita. Um pedaço de rebôco faltante, a dois palmos do chão e três do canto. Parede áspera à esquerda do catre - tenho certeza de que é chapisco. Posso sentir as pedrinhas presas ao cimento. Pedrinhas presas como eu. A parede do fundo não. É de tijolos. Perdeu o rebôco, coitada. Ou nunca fôra? À frente, uma pequena portinhola de ferro chapado. Acho que vedada por algo que absorve a luz. Se é que a luz existe... De meu catre posso ver o teto. Não, não é o verbo apropriado...Imagino-o. Às vezes, no meio da noite (ou seria do dia?), tenho a nítida impressão de que posso ver as estrelas. Piscam e depois se apagam. Por segundos apenas. Se isso. No canto do rebôco faltante há uma torneira. Às vezes pinga algo grosso e fétido. Mata a sede. Abaixo, um buraco estreito, serve de privada e esgoto. Quem terá projetado isso? Meu mundo é estranho... Comida? Pedaços de algo que se parece com pão, aparecem, às vezes, pelos cantos. Não sei como. Nem me importo. Tenho vivido em meu lar por toda a vida. Amo-o. Na verdade, não me lembro de ter sido trazido pra cá. Não me lembro de ser prisioneiro, por qualquer crime. Na verdade, jamais ouvi a voz de qualquer outro ser. Será que existem? Talvez eu tenha nascido aqui. Talvez nem exista “lá fora”. Não há antes. Não haverá depois... Que importa... Estou... Vivo (?)... Quem se importa...



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