BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


SACI PERERÊ
(Requeijão; Walfrido)

Publicidade
SACI PERERÊRequeijão, Walfrido - Livro: AAAAAAH! - Zê Udigrudi - São Paulo - SP - 2007 - www.zeditora.com Ouço falar em saci desde que nasci. Saci é coisa antiga. Na fazenda em que eu fui criado, os cablocos e os preto-velhos gostavam de contar histórias de saci só para ver a cara assustada da gente. É que saci bota medo mesmo, pois apesar de brincalhão é, às vezes, bem malvadinho. Se você nunca viu um saci na vida, saiba que ele é um negrinho de uma perna só, que veste uma carapuça vermelha na cabeça e está sempre pitando um cachimbinho. O saci pode até perder o cachimbo, pois com um canudinho de bambu e um pouquinho de barro ele logo faz outro, mas a carapuça! A carapuça do saci é muito importante pra ele. É ela que lhe dá poderes mágicos, como o de desaparecer e aparecer onde quiser, de pegar carona nos rodamoinhos de vento e até de se transformar numa ave misteriosa, o Matintaperê, que canta uma melodia triste, que ninguém nunca consegue descobrir de onde é que vem.
Saci gosta de ir pra onde quiser e de fazer travessuras. E esconde os brinquedos das crianças e solta os animais dos currais e derrama o sal no chão das cozinhas e faz tranças nas crinas de cavalos e azeda o leite e quebra as pontas das agulhas e esconde as tesourinhas de cortar unha e embaraça os novelos de linha e faz o dedal das costureiras cair nos buracos e bota moscas na sopa e queima o feijão que está no fogo e gora os ovos das ninhadas e quando encontra um prego, não pensa duas vezes em vira-lo de ponta pra cima para que espete o pé do primeiro que passar. Tudo o que acontece de ruim numa casa, pode ter certeza, tem a mão do saci. E o danadinho não se contenta com pouca arte, então, atormenta os cães, atropela as galinhas, assusta os gatos e os cavalos. Saci é demais! e apesar de não fazer maldade grande, não há maldade pequena nesse mundo que ele não faça. Mas assim como a gente, o saci tem alguns medos também. Dizem que ele não atravessa - de jeito nenhum! – córregos, nem riachos, e fica arrasado quando alguém o captura, pois perder a liberdade é a pior coisa que pode acontecer para um saci. E pegá-lo não é assim tão difícil, sabia? É só ficar escondidinho atrás de uma árvore ou moita, então, quando vir passar um rodamoinho de vento, é só jogar um rosário bento dentro dele ou uma peneira por cima e pronto! está pego um saci. Aí, com muito jeito, é só tirar a carapuça da cabeça dele pra ele se tornar um prisioneiro disposto a realizar qualquer desejo seu em troca da própria liberdade. Dizem que existem milhares de sacis pelo Brasil afora e que, algumas vezes, eles se reúnem nas horas mortas da noite para aprender e ensinar novas travessuras uns pros outros, então saem por aí, soltos pelo mundo, aprontando das suas e foi numa noite dessas que um amigo meu, o Monteiro Lobato, escritor serelepe, decidiu pregar uma peça no Saci. Assim contou-me Lobato: “Certa vez o Saci tentou aprontar uma comigo. Eu estava sozinho em casa, rezando minhas rezas. Rezei, e depois me deu vontade de comer pipoca. Fui no fumeiro e escolhi uma espiga de milho bem seca. Debulhei o milho numa caçarola, pus a caçarola no fogo e vim para este canto picar fumo pro pito. Nisto, ouvi no terreiro um barulhinho que não me engana. "Vai ver que é saci!" - pensei comigo. E era mesmo. Dali a pouco um saci preto que nem carvão, de carapuça vermelha e pitinho na boca, apareceu na janela. Eu imediatamente me encolhi no meu canto e fingi que estava dormindo. Ele espiou de um lado e de outro e por fim pulou para dentro. Veio vindo, chegou pertinho de mim, escutou os meus roncos e convenceu-se de que eu estava mesmo dormindo. Então começou a reinar na casa. Remexeu tudo, que nem mulher velha, sempre farejando o ar com o seu narizinho muito aceso. Nisto, o milho começou a chiar na caçarola e ele dirigiu-se para o fogão. Ficou de cócoras no cabo da caçarola, fazendo micagens. Estava "rezando" o milho, como se diz. E adeus pipoca! Cada grão que o saci reza não rebenta mais, vira piruá. Dali saiu para bulir numa ninhada de ovos que a minha carijó calçuda estava chocando num balaio velho, naquele canto. A pobre galinha quase que morreu de susto. Fez cró, cró, cró... e voou do ninho feito uma louca, mais arrepiada que um ouriço-cacheiro. Resultado: o saci rezou os ovos e todos goraram. Em seguida, pôs-se a procurar o meu pito de barro. Achou o pito naquela mesa, pôs uma brasinha dentro e paque, paque, paque... tirou justamente sete fumaçadas. O saci gosta muito do número sete. Eu disse cá comigo: "Deixe estar, coisa-ruinzinho, que eu ainda apronto uma boa para você. Você há de voltar outro dia e eu te curo." E assim aconteceu. Depois de muito virar e mexer, o sacizinho foi-se embora e eu fiquei armando o meu plano para assim que ele voltasse. Na sexta-feira seguinte, apareceu aqui outra vez às mesmas horas. Espiou da janela, ouviu os meus roncos fingidos e pulou para dentro. Remexeu em tudo, como da primeira vez e depois foi atrás do pito que eu tinha guardado no mesmo lugar. Pôs o pito na boca e foi ao fogão buscar uma brasinha, que trouxe dançando nas mãos. O Saci tem as mãos furadinhas bem no centro da palma; quando carrega brasa, vem brincando com ela, fazendo ela passar de uma para a outra mão pelo furo. Trouxe a brasa, pôs a brasa no pito e sentou-se de pernas cruzadas para fumar com todo o seu sossego. É, saci cruza as pernas como se tivesse duas! São coisas que só ele entende e ninguém pode explicar. Cruzou as pernas e começou a tirar baforadas, uma atrás da outra, muito satisfeito da vida. Mas de repente, puf! aquele estouro e aquela fumaceira!... O saci deu tamanho pinote que foi parar lá longe, e saiu ventando pela janela afora. Eu tinha socado pólvora no fundo do pito e a pólvora explodiu justamente quando ele estava dando a fumaçada número sete, e o saci, com a cara toda sapecada, raspou-se para nunca mais voltar.” É, Lobato era muito esperto, mais esperto do que saci. Acredite, se quiser.



Resumos Relacionados


- Lendas Brasileiras – O Saci (sertÃo)

- Lenda Do Saci-pererê

- Folclore Brasileiro: Ditos & Mitos

- Lenda - Do Saci-pererê

- Http://www.armtecbrasil.com/



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia