O que é cinema
(Claudia Maria de Almeida Carvalho)
O que é cinema
a primeira exibição pública de cinema, em 28.12.1895, em Paris, no Grand Café, causou grande impacto. A imagem, em preto e branco, sem som, mostrava um trem em movimento. O trem, parecendo verdadeiro, era ilusão denominada impressão de realidade. Essa imagem cinematográfica confere realidade às fantasias, realidade que se impõe com força no cinema.
Poder tirar cópias das fitas cinematográficas possibilitou a implantação do cinema como arte dominante. Este fenômeno permite que o filme seja simultaneamente apresentado numa quantidade ilimitada de lugares para um público também ilimitado, ocasionando rápida e grande expansão do seu mercado mundial. A impressão de realidade e a reprodução das cópias foram as principais características desta primeira fase do cinema, que permitiram fazer dele uma força de dominação ideológica e comercial.
A linguagem cinematográfica foi-se construindo aos poucos, e predominou a linguagem da ficção. O projeto, mesmo que implícito, era contar estórias. Os passos fundamentais foram a criação de estruturas narrativas e a relação com o espaço. O cinema só conseguia dizer acontece isto, acontece aquilo, depois, ouve um salto qualitativo: consegue dizer enquanto isso. Outra evolução: a câmera deixa sua imobilidade e passa a explorar o espaço; ela desloca pelo espaço, recorta-o ou o fragmenta. Criou-se uma linguagem própria para o cinema, como fazem os lingüistas. Então, percebeu-se que era necessário desenvolver uma linguagem que passasse despercebida, uma linguagem narrativa transparente com caráter de naturalidade. Mas, nem todos os movimentos cinematográficos optaram pela linguagem transparente, surgindo manifestações oposicionistas. O cinema era o principal espetáculo de massa; o cinema que se queria independente passou por dificuldades decorrentes da crise de 1929 e do advento do cinema sonoro. Os cinemas divergentes política e esteticamente do cinema dominante foram sistematicamente esmagados. Quer pelo comércio cinematográfico que não abria suas portas a outras modalidades de cinema que não a do sistema, quer pela repressão política e policial.
Antes de ser assistido pelo público espectador, o cinema tem que percorrer uma trajetória como mercadoria que deverá ter características que assegurem a série de operações necessárias até a compra do ingresso que possibilita o lucro. No início, o trabalho de um filme era feito por poucas pessoas, depois houve a fragmentação do trabalho, gerando um sistema industrial complexo, que, para continuar motivando o público, precisava apresentar novidades. Os sistemas cinematográficos foram se proliferando. A constituição do cinema como mercadoria teve e tem profunda influência sobre a dramaturgia cinematográfica. Mas, não se pode pensar que o público é totalmente manipulado, a ida ao cinema se dá dentro de uma relação de mercado.
Soviéticos, ingleses, franceses e outros opuseram-se ao sistema cinematográfico dominante, como forma de produção, como temática, como linguagem, como relacionamento com o público. Surgiram movimentos para combater tal situação.
O público modifica-se a partir da década de 50, quando surge a TV, que se torna o veículo de massa por excelência e destrona o cinema.
O cinema reage de várias maneiras. Com os cinemas novos e o Neo-Realismo italiano, realizam-se filmes voltados para a situação social, rural, urbana, do pós-guerra. Sai de cena o enredo de ficção tradicional. A linguagem simplifica-se, procurando captar o cotidiano e tentando ficar apegada aos personagens e suas reações nas difíceis situações cotidianas.
Surgem cinemas novos nos anos 60, relatando estilos mais fluentes como a vida cotidiana e os sentimentos humanos.
A Argentina desenvolve uma linha de produção intimista. Analisa os problemas psicológicos de uma elite, enquanto um cinema voltado para as questões populares tem dificuldade em se afirmar.
Em Cuba, o governo revolucionário atribuiu grande importância ao cinema, desenvolvendo os noticiários e o documentário. Para o cinema de ficção, pediram ajuda aos estrangeiros.
No Chile, afirma-se um cinema documentário e de ficção que questiona a situação social e logo aborda problemas políticos específicos do momento.
No Brasil: o brasileiro foi um dos cinemas mais destacados da década de 60, não só pela importância interna como pela repercussão externa. Ganhou mais de 80 prêmios em festivais internacionais.
As elites, ou parte delas, que antes desconsideravam o cinema, passam a encontrar no cinema uma força cultural que exprime suas inquietações políticas, estéticas, antropológicas.
O Cinema Novo permitiu um diálogo cultural com outros países. A Europa elogiava a produção brasileira.
Até o Golpe de Estado de 64, a temática do cinema brasileiro era a rural, principalmente a miséria dos camponeses nordestinos. Após o golpe, a classe média se torna o foco. A relação dos políticos com os intelectuais torna-se também tema dominante.
Esse cinema afirma-se em oposição ao cinema-indústria e ao filme de produtor.
Os filmes deixam de ser mero divertimento para levar ao público uma informação, quer seja a respeito do assunto de que tratam, quer pela linguagem a que recorrem, que tende a se diferenciar nitidamente do espetáculo tradicional. O ator tem maiores possibilidades de se expressar. Outra característica é a do espaço que o cinema atual prefere, o espaço contínuo. Aprofunda-se o comportamento dos personagens e as significações e implicações das situações em que se encontram.
Cinema Experimental: lutou para não ser transformado em mercadoria. Trabalha com temas e formas de linguagem absolutamente alheias ao cinema comercial, renovado ou não.
Cinema Militante: em geral, de curta-metragem, filmes de cineastas que trabalham para movimentos específicos ou produzidos pelos partidos políticos, são filmes voltados para questões operárias, greves, ocupações de fábricas, autogestão e questões feministas.
Tudo isto é chamado de cinema, mas ainda não se encontrou a definição exata de cinema, de acordo com Jean-Claude Bernardet.
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