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A GAROTA DA PÁSCOA Sábado de Aleluia A garota exercita sua individualidade. Fumando aquele seu baseado redentor, passeando com a imaginação por tudo aquilo que para ela é sagrado: um corpo sarado, o espírito cultivado e o amor. Para a garota o amor é antes de tudo um alimento, tendo como principal função nutrir o seu equilíbrio emocional. Aquele que se evidencia a cada ato seu, a cada decisão que toma. Tocante! Puro trabalho intelectual. Ego puro. E a guria caminha pelo mundo, receosa, cautelosa, temerosa demais para a rapidez com que as coisas acontecem. Mas tem passos firmes e movimenta-se em seu nicho com a mesma cautela com que anda pelas ruas. Entre cautelosa e enérgica, jamais exclui o perigo. E a racionalização, sim, é o lógico. Mas será que o ato de racionalizar é algo tão banal assim?, pensa enquanto se move em slowmotion e aguarda, como um gato, o momento propício. Observa atentamente os seres que se movimentam com mais velocidade do que ela. Observa-lhes as palavras, como as proferem, como gesticulam e os cenários em que atuam. Vai além: pisa em seus palcos e canta com eles suas canções e ouve-lhes as queixas. São falas necessárias que ela registra, para depois analisar em sua solidão crítica. A garota vai cortar o cabelo bem curtinho, para não parecer, assim, tão garota. Lança a dubiedade no ar com tanta sensualidade, quanto a infantilidade que há nesta sua idéia de transformação. Vai ao espelho, olha para o rosto comprido e o imagina sem os cabelos, que já lhe parecem tão longos e, portanto, impertinentes ao seu novo sonho. - É tudo viagem, sorri. O espelho fala no mesmo tom com a menina, que agora sabe o que deve fazer. Pelo menos com espelhos ou quaisquer superfícies refletoras. Sempre os mantém por perto. Todos a sua volta, como em uma sala de "escuta" de algum jornal. Várias telas repetindo a mesma imagem, confirmando e checando, com precisão, comportamentos e insinuações. Sem falar na constante manutenção de sua imagem, transformada em arquétipo, presumindo altas análises críticas e tal . .. - Ora, mas isto é um prazer orgástico!, define. Quem sabe se um "body" todo preto para combinar com o cabelo curtinho? E, aí, a imaginação inicia sua corrida insana, de um ponto ao outro: o corpo, a alma (ou a aura?), o amor... A todos os entes visita com precisa constância. Mas confessa sincera: esquece certos detalhes e, pior, nem lembra de tudo o que vê. Que pena! Decidida, remexe em sua bolsa buscando um batom vermelho para, na continuação, lambuzar bem a boca com ele. Torna a enfiar a mão naquele saco de mágico. Mexe, remexe, sacode e, finalmente, tira a mão com nada mais do que seus invariáveis cinco dedos. Tomada pela frustração e pela ira soca sua outra mão e tira da bolsa-saco-de-mágico um chocolate e remete-o para a boca vermelha. Morango com chocolate. Marrom e vermelho. A boca pintada da menina da páscoa desejava comê-lo. Domingo de Páscoa Manhã. A guria acorda e pensa em procurar o ninho. Busca e rebusca, engatinha pelo chão, de bumbum para cima, como um gatinho. Merda! Esqueceu que, além de estar sozinha, deixou de escondê-lo. Mas, também, para quê um ninho de páscoa? Mas eis que a campainha da porta da frente faz o seu sinal de que há gente do lado de fora querendo falar-lhe. Abre e se depara com um cesta linda e brilhante, chocante como em uma revista de gourmetes ou de artesanato, com um bilhetinho que dizia assim: Mandei-te isso tudo e ainda o meu coração. A poesia maluca é minha. A garota abriu tudo com avidez e mastigando um dos bombons abriu o papel vergé rosa, argh!!! E leu:
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