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TROPA DE ELITE
(Luiz Eduardo Soares ; André Batista e Rodrigo Pimentel)

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Há quem pense que as pessoas se corrompem porque ganham pouco.
Raciocínio estranho. Afinal, há milhões de pobres, no Brasil: gente séria e
honesta. Por outro lado, os crimes de colarinho branco multiplicam-se feito
epidemia. E há o próprio caso do Batalhão de Operações Policiais Especiais,
o BOPE, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que até
recentemente era um grupo pequeno e fechado, composto por 150 homens
treinados para ser a melhor guerra urbana do mundo. Eles recebiam o
mesmo salário de seus colegas da polícia convencional, mas eram
incorruptíveis. Foram acusados de brutalidade desmedida, mas sua
honestidade foi amplamente reconhecida.
Qual o antídoto para a corrupção? Na história do BOPE, a resposta
foi uma só: orgulho. Orgulho pessoal e profissional. Respeito ao uniforme
negro. Antes a morte que a desonra. O processo de seleção era tão difícil e
doloroso, o ritual de passagem era tão difícil e doloroso, o ritual de passagem
era tão dramático, que o pertencimento passou a ser o bem mais precioso.
Ser membro do BOPE, partilhar dessa identidade, converteu-se no
patrimônio mais valioso. A auto-estima não tem preço. Portanto, não se
negocia.
Quem escala o Himalaia não se agarra ao dinheiro. O maratonista
não corre atrás do lucro. O guerreiro, que estende o risco ao limite extremo,
não mira o pagamento. O alvo é a glória, recompensa muito maior que os
bens materiais. O monge que fustiga o corpo não quer levar vantagem. A
ambição é mais elevada: o contato com o sagrado.
As emoções são labirintos complicados. Pode ocorrer, na contramão
do bom senso, o encontro inusitado entre honra e desonra, numa dobra
improvável da alma humana, ou numa esquina obscura da cidade. Sob a
forma, por exemplo, da mistura de violência com fidelidade, desrespeito e
lealdade. Era aí que morava o maior perigo para o BOPE, em sua época
áurea, isto é, antes de se tornar o Batalhão que é hoje, formado por
quatrocentos homens e mais parecido — em todos os sentidos — com os
demais batalhões da polícia convencional do que jamais se permitira ser no
passado.
O embrião do BOPE — o Núcleo da Companhia de Operações
Especiais da PMRJ — foi criado em 19 de janeiro de 1978, sob inspiração do
então capitão PM Paulo César Amêndola de Souza, mas apenas em 1991 foi
batizado com o nome atual. O BOPE não foi preparado para enfrentar os
desafios da segurança pública. Foi concebido e adestrado para ser máquina
de guerra. Não foi treinado para lidar com cidadãos e controlar infratores,
mas para invadir territórios inimigos. Tropas similares servem-se de
profissionais maduros. O BOPE acelerava meninos de 20 e poucos anos até
a velocidade de cruzeiro do combate bélico. Vamos cobrar a loucura da
guerra a quem foi treinado para matar?
Nos exercícios diários, os soldados do BOPE aprendem a entoar seus cantos de guerra:

"Homem de preto,
qual é sua missão?
É invadir favela
e deixar corpo no chão."
"Você sabe quem eu sou?
Sou o maldito cão de guerra.
Sou treinado para matar.
Mesmo que custe minha vida,
a missão será cumprida,
seja ela onde for
— espalhando a violência, a morte e o terror."



"Sou aquele combatente,
que tem o rosto mascarado;
uma tarja negra e amarela,


que ostento em meus braços
me faz ser incomum:
um mensageiro da morte.
Posso provar que sou um forte,
isso se você viver. Eu sou... herói da nação."


"Alegria, alegria,
sinto no meu coração,
pois já raiou um novo dia,
já vou cumprir minha missão.
Vou me infiltrar numa favela
com meu fuzil na mão,
vou combater o inimigo,
provocar destruição."


Se perguntas de onde venho
e qual é minha missão:trago a morte e o desespero,
e a total destruição."


"Sangue frio em minhas veias,
congelou meu coração,
nós não temos sentimentos,
nem tampouco compaixão,
nós amamos os cursados
e odiamos pés-de-cão.*


"Comandos, comandos,
e o que mais vocês são?
Somos apenas * cursados são os membros do BOPE; pés-de-cão são os policiais militares convencionais

malditos cães de guerra,
somos apenas
selvagens cães de guerra."


O BOPE é a principal referência deste livro — diretamente na
primeira parte, e indiretamente, na segunda. Mas a polícia não se resume ao
Batalhão de Operações Policiais Especiais. E os dramas cotidianos da
violência não envolvem apenas a elite da tropa. Todos os dias, no estado do
Rio de Janeiro, um grande número de policiais arrisca a vida no
cumprimento de seu dever constitucional, com dignidade e coragem. Eles
recebem salários desproporcionais às ameaças que enfrentam e à
importância de sua função. Muitos sofrem danos físicos e mentais. As baixas
fatais contam-se às centenas. Trabalham freqüentemente, em condições
precárias e incompatíveis com a complexidade de sua missão, tanto
preventiva, quanto investigativa e repressiva. Além disso, têm visto sua
imagem pública degradar. Casos sucessivos de corrupção e brutalidade
feriram de morte, no Rio, a confiança da sociedade em suas polícias, as
quais, por sua vez, nem sempre souberam compreender a natureza de seu
papel, numa república como a brasileira, regida pelo Estado Democrático de
Direito.
Este livro foi escrito com o propósito de enriquecer o processo de
reflexão dos policiais e da opinião pública. Seu objetivo não é depreciar os
profissionais da segurança, mas valorizá-los; não é atingir as instituições,
mas promover seu aperfeiçoamento. Não há democracia sem polícia. Se
desejamos construir uma sociedade justa e democrática não podemos deixar
as polícias à margem e à deriva — quando falamos de polícias, estamos nos

referindo a um universo de cerca de 45 mil profissionais, no Rio, e 550 mil,
no Brasil.
Os três autores sonhamos com o dia em que poderemos celebrar, no
Rio de Janeiro, a reconciliação entre a sociedade e as instituições policiais,
entre os membros de cada comunidade e os policiais. Para que esse
momento se realize, é preciso, no entanto, como ensinou Nelson Mandela,
olhar nos olhos a verdade e reconhecê-la, sem meias palavras e subterfúgios,
sem hipocrisia e retórica política. Nua e crua. Mesmo que seja dolorosa e
disforme. Mesmo que a encontremos apenas pelas mediações da ficção.
"Verdade e reconciliação", ele dizia, quando derrotou o apartheid. Só se
alcança a reconciliação, atravessando-se o duro momento da verdade. A
psicanálise também demonstra que o luto é uma etapa necessária à
superação do sofrimento. O luto supõe o reconhecimento das perdas.
Elite da Tropa é dedicado aos que trabalham, nas polícias e fora
delas, para que a reconciliação seja um dia possível. Os relatos que
compõem este livro são ficcionais, no sentido de que todos os cenários, fatos
e personagens foram alterados, recombinados e tiveram seus nomes
trocados. Se, por acaso, nossa imaginação se equiparar ao que efetivamente
acontece, talvez isso decorra do fato de termos escrito este livro a partir das
nossas experiências, e de termos vivido, cada um à sua maneira, a realidade
da segurança pública do Rio de Janeiro.


4
Luiz Eduardo Soares ,André Batista e Rodrigo Pimentel



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