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Foto icônica de Che é usada para vender sorvete e cigarroJá faz 40 anos que o rebelde argentino foi morto a tiros, logo
qualquer jovem radical que tenha torcido por suas lutas revolucionárias
em Cuba e na Bolívia já entrou na meia idade há tempos.
Mas a imagem foi repetida infinitas vezes - estampada em camisetas e
pichada nas paredes, transformada em arte pop e usada para embrulhar
sorvetes e vender cigarros - e seu apelo não desbotou.
"Não há outra imagem igual. Que outra imagem se sustentou dessa
maneira?", pergunta Trisha Ziff, curadora de uma exibição itinerante
sobre a iconografia de Che.
"Che Guevara virou uma marca. E o logotipo da marca é essa imagem,
que representa mudança. Ela se tornou o ícone do pensamento
independente, seja no nível que for - anti-guerra, pró-verde ou
anti-globalização", diz ela.
Imagem de Che em HavanaSua
presença - que vai dos muros dos territórios palestinos às butiques
parisienses - faz dela uma imagem que está "fora de controle", diz
Ziff.
"Ela se transformou numa corporação, um império, a essa altura." A
proliferação da imagem - baseada em uma fotografia tirada por Alberto
Korda em 1960 - aconteceu, em parte, devido a uma escolha política de
Korda e outros de não cobrar pelo uso não-comercial da imagem.
Nascimento de um ícone
Jim Fitzpatrick, que produziu o onipresente desenho em contraste no
fim dos anos 60, quando era um jovem artista gráfico, disse à BBC que
ele queria que sua arte fosse disseminada.
"Eu deliberadamente o criei (o desenho) para que se reproduzisse
como os coelhos", diz ele. "A forma como o mataram, não haveria nenhum
memorial, nenhum local de peregrinação, nada. Eu estava determinado que
aquela imagem receberia a maior circulação possível", explica
Fitzpatrick.
"A imagem dele nunca morrerá, seu nome nunca morrerá." Para Ziff, o
assassinato de Che Guevara também marca o início da imagem mítica. "O
nascimento da imagem acontece na morte de Che, em outubro de 1967", diz
ela. "Ele era bonito, ele era jovem, mas mais do que isso, ele morreu
por seus ideais, então ele automaticamente se transforma num ícone."
História
Alberto Korda captou a famosa imagem no dia 5 de março de 1960,
durante um funeral em massa em Havana. Um dia antes, um navio de carga
francês cheio de munição explodiu no porto da cidade matando cerca de
80 cubanos, num ato que Fidel Castro atribuiu aos americanos.
Korda, o fotógrafo oficial de Castro, descreve a expressão de Che na
foto, que ele intitulou "Guerrilheiro Heróico", como "encabronado y
dolente", ou zangado e triste.
Duas fotos foram tiradas naquele momento. A primeira incluía a
folhagem de palmeiras e um homem virado para Che, ambos cortados na
seqüência.
Sem ser publicada por um ano, a foto só era vista por aqueles que
passavam pelo estúdio de Korda, onde ela ficava pendurada na parede.
Cartazes
O homem que levou a imagem de Che para a Europa foi o intelectual
italiano Giangiacomo Feltrinelli, que distribuiu cartazes com a foto
pela Itália em 1967.
Depois disso, a fotografia de Korda apareceu em diversas revistas.
Foi numa publicação alemã que Fitzpatrick viu a imagem pela primeira
vez.
Depois da morte de Che, o artista imprimiu cópias e cópias do
desenho que havia criado e as enviou para grupo de ativistas políticos
por toda Europa.
Com a passagem do tempo, o significado e o homem representados na
imagem se perderam de seu contexto, diz Ziff. O rosto de Che começou a
ser usado como decoração de produtos, de lenços a lingerie. A Unilever
até criou uma versão "Che" do picolé Magnum na Austrália, com sabor de
cereja e goiaba.
"Há uma teoria de que a imagem só pode existir por um certo tempo
até que o capitalismo se aproprie dela. Mas o capitalismo só quer se
apropriar de imagens que guardem um certo senso de perigo", diz a
curadora de arte.
Na América Latina, no entanto, o rosto de Che continua sendo símbolo
da revolução armada, segundo Ziff. O presidente venezuelano, Hugo
Chávez, usa com freqüência uma camiseta com a imagem estampada e há
relatos de que Evo Morales, da Bolívia, presenteia visitantes com uma
versão da foto feita com folhas de coca.
Combinando capitalismo e comércio, religião e revolução, para Ziff,
o ícone segue absoluto. "Não há outra imagem que chegue perto de nos
levar a lugares tão diferentes."
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