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Geopolítica do Caos
(Ignacio Ramonet)

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Com o fim da Segunda Guerra Mundial, todo o planeta, de uma forma ou de outra, encontrava-se numa espécie de equilíbrio vigiado. A divisão do mundo entre EUA e União Soviética arrefeceu e imobilizou forças, ações e processos nacionais, devido à tensão provocada pela possibilidade de um conflito armado entre os dois países hegemônicos e antagônicos. Em 1991, o desmantelamento da União Soviética acontecia como o evento final de uma sucessão de transformações cujo significado parecia óbvio: um ano antes o Muro de Berlim era derrubado pelos próprios alemães, e há apenas alguns meses os EUA, numa demonstração de força oposta à debilidade soviética, vencia o Iraque com uma mão amarrada às costas. Estava mais do que claro o rumo que o mundo ia tomando: abolia-se o socialismo; os EUA embolsavam sozinhos a supremacia mundial; decretava-se o início de uma "nova ordem" orientada pela economia de mercado, termo que logo viria a tornar-se o dogma da política internacional. Houve mesmo quem chegasse a instituir o "fim da história" e a impossibilidade de ocorrência de novas transformações radicais que alterassem o curso da civilização. Liberdade e democracia seriam a tônica das relações internacionais a partir daí. O mundo poderia assim respirar aliviado. Hoje, passados quase dez anos desde o fim da URSS, frustraram-se todas as previsões otimistas quanto ao futuro do mundo. O planeta não apenas continua sem poder respirar aliviado, como mal consegue dormir de noite. Se por um lado o fim da Guerra Fria sinalizou, à primeira vista, com o recuo do perigo nuclear, por outro a liberalização das relações comerciais e sua submissão às leis do mercado despertaram sentimentos e provocaram reações cujas conseqüências, embora ainda imprevisíveis, não deixam de ser preocupantes. É da incerteza, da perplexidade e do temor frente a essas conseqüências, algumas já bem visíveis, que trata este Geopolítica do caos, do jornalista Ignacio Ramonet, editor do conceituado jornal Le Monde Diplomatique. Avesso à euforia causada pelo estreitamento das ligações financeiras em escala mundial e à interdependência entre os países devido à mundialização da economia, Ramonet analisa os efeitos desses dois fenômenos e não encontra razões para entusiasmo. Vê, na turbulenta fase de transformações que o mundo vem atravessando, um período de transição que não se sabe ainda ao certo aonde vai dar. É o caos, a desordem generalizada, causando aquilo que Ramonet define com o curioso termo sinistrose mundial. No entanto, o que de início pode parecer um inconseqüente exercício de catastrofismo, logo se revela como um minucioso olhar sobre os rumos e as posições tomadas pelos povos do planeta diante de um novo movimento que, ao mesmo tempo que os une e interliga, gera a desagregação, a desigualdade, o mal estar, a insatisfação e o conflito. Senão vejamos. Mergulhados em precária situação financeira, países como os do Leste europeu, das Américas Central e do Sul e do continente africano passam a ser vistos como áreas de investimento pelo mercado internacional. A ajuda, no entanto, vem sempre condicionada a um ajuste na economia interna destes países, de forma a vinculá-la e inserí-la à estabilização macroeconômica global. Os termos do ajuste seguem uma espécie de cartilha obrigatória imposta pelas instituições financeiras internacionais, FMI e Banco Mundial, e baseiam-se na privatização de empresas públicas e corte acentuado de despesas, o que implica em desemprego e recessão. Junto com os empréstimos, os países recebem também a chegada de grandes empresas transnacionais que se instalam em seu território, trazendo teoricamente desenvolvimento e geração de empregos. Mas o que ocorre é que tais empresas vêm justamente para estes países em busca de mão de obra barata, mal e porcamente protegida pela legislação local, com o único intuito de produzir mais gastando menos ou nada. Como se tal privilégio fosse pouco, os governantes regionais fornecem ainda todo tipo de incentivos fiscais a estas empresas, através da isenção de impostos. Está completa a entrega. A empresa já vem tão grande que até o Estado encolhe diante dela. Isso acontece não apenas nos países onde são recebidas, mas também em suas nações de origem. Mesmo os EUA tiveram de submeter-se à ação do mercado internacional e do fluxo de capitais e informações, cujo controle o governo não possui. Ao mesmo tempo, os diversos acordos internacionais que os governantes assinam, seja para a formação de blocos econômicos, seja para comércio bilateral, implicam naturalmente em mudanças na legislação nacional, que vão aos poucos limitando a soberania do Estado. Este, por sua vez, distanciando-se cada vez mais de qualquer controle sobre a situação geral da economia, na mesma medida se torna incapaz de resolver questões de natureza social e zelar pelo bem-estar do cidadão, função para a qual deve a sua existência. Ocorre então o que o autor classifica como uma crise de identidade do Estado, que se alastra para o próprio setor político da sociedade. No momento em que deixa de dispor de condições para manter a estabilidade interna, já que deixou-se atar pelo mercado financeiro internacional, Estado e classe política perdem a credibilidade diante da população. E quando esta, num contexto de crise social rumo ao insustentável, deixa de acreditar e confiar no Estado, fica sujeita a qualquer tipo de solução, que pode vir sob o manto do radicalismo ou do misticismo. Movimentos de direita, de esquerda, nacionalismos, racismos, xenofobia, manifestações religiosas e despontar de líderes carismáticos terminam por canalizar toda a insatisfação popular contra governos ineficazes e corruptos. É a falência social do Estado, atropelado por interesses que não atendem necessariamente a uma nação, mas a grupos financeiros que já não possuem nacionalidade própria. A mundialização e padronização da economia levou, assim, a um deslocamento do núcleo de poder. O poder mudou de lugar, informa o autor, e nem mesmo a ONU consegue intervir em tal situação, atrelada aos vetos de países membros com poder decisório. Sob o nome de empresa global, então, com sedes, fábricas e subsidiárias localizadas em pontos diferentes do planeta, este novo poder constitui-se de uma rede de diversos elementos articulados de acordo com objetivos estritamente econômicos, seguindo os preceitos de competitividade e produtividade. Assim, enquanto estas empresas "globais" se fortalecem e gozam de poderosa modernização tecnológica, os países de onde são extraídas tantas vantagens empobrecem e se vêem cada vez mais distantes do comércio global, como párias observando de longe e magrinhos o festejo da corte. Essa marginalização revela o quão autoritária se torna a economia, e não mais o Estado, com a mundialização. Ao ditar regras globais de comércio, rejeitar qualquer outro tipo de política econômica, deixar de lado cidadãos e mesmo nações inteiras ao sabor do vento incerto do mercado, tudo em nome da produtividade e da competitividade, a economia deste fim de século termina por confirmar aquilo que Ramonet chama de "impostura da democracia". Tanto poder provoca naturalmente reações, como as manifestações nacionalistas e o crescente desejo na sociedade de retorno a um Estado forte, o que pode ser visto nos países do Leste Europeu, deformados em suas fronteiras pelo império soviético. O mesmo não ocorre na América Latina, por exemplo, submissa e vendida, onde a privatização maciça do setor público deixou-a nas mãos dos grandes grupos multinacionais que, como acusa o autor, ao dominarem setores intei



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