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uma tarde inesquecivel
(jocame)

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Escreva o seu resumo aqui.

Uma tarde inesquecível

Uma tarde, meu pai
chegou a casa, em Luanda, dizendo que daí a quinze dias, iríamos todos
participar de um acampamento de caça organizado por um amigo a quem chamavam de
Zé Gato.

Para mim, então com
sete anos de idade, foi como se me tivessem dado o maior presente do mundo, não
só pela perspectiva de uma caçada, mas principalmente porque a figura lendária
de Zé Gato, naquela época, considerado o maior caçador africano, tão corajoso,
que só caçava a pé e sozinho, matando Elefantes a cavalo, usando como arma
apenas uma catana bem afiada de dois gumes.

Com fama de ser um
atirador infalível, tinha suas regras específicas quando caçava, só a pé, e só
matava depois de selecionar o animal, nem que para isso tivesse que palmilhar
dias a fio atrás do alvo escolhido.

Várias vezes,
durante sua vida, expressou para seus amigos que quando a fatalidade o levasse,
gostaria que seus ossos repousassem para sempre naquela terra abençoada por
Deus.



Tinha também uma
admirável paciência com crianças, a quem contava histórias sobre animais e
sobre o fascínio que Mãe África exercia sobre cada um.



Naquele tempo, nas
estradas, a maior parte delas de terra batida, era praticamente impossível
encontrar postos de gasolina e as cidades ou vilas eram muito afastadas umas
das outras.

Iríamos fazer uma
viagem de quatrocentos e oitenta quilômetros, enfrentando pó, lama, calor e
chuva, deveríamos ir preparados para o que desse ou viesse.



Após alguns percalços
naturais nesse tempo, chegamos á noite ao acampamento onde nos aguardavam.

Rapidamente foi
montada a tenda de campanha e breve, tanto eu como meu irmão dormíamos o sono
dos justos.



De manhã cedo, meu
pai, com outros companheiros e alguns auxiliares negros, partiram para a beira
do lago, a cerca de quatro quilômetros do acampamento, com a incumbência de
montar uma Mutala, que era uma plataforma no cimo de uma arvore bem alta e
forte, onde ficariam instaladas as mulheres, crianças, e alguns dos caçadores, para
poderem observar sem nada temer, os elefantes e outros animais que dali se
aproximavam para matar a sede.

Neste tipo de
acampamento, nem todos os que participam, se interessam em ir para as mutalas,
pois além de estarem em pontos muito elevados, são um incomodo, pois as pessoas
são obrigadas a manterem-se em silêncio absoluto, não podem fumar, e mexerem-se
muito pouco pela precariedade da construção, amarrada á arvore por cordas e
cipós.

Desta vez,
lembro-me, não foram mais do que seis pessoas, além dos três caçadores e de
minha mãe, que não dispensava uma boa aventura. Enfim, ao todo éramos dez.

Já os carros tinham
retornado ao acampamento, quando minha mãe, lembrou que não tinha vindo o açúcar
para adoçar o café, essencial para manter os caçadores acordados.

Zé Gato, sempre
prestável, se prontificou a regressar ao acampamento para providenciar o que
estava em falta sempre atento ás conversas, pedi para acompanhá-lo a que meu
pai acedeu e autorizou.



Já de volta para as
mutalas, desta vez com dois quilos de açúcar, estávamos encurtando o caminho
por um carreiro no meio de uma espinheiras, quando Zé Gato, que ia à frente, de
repente estacou o que levou a chocar-me com ele.

Dei uma olhada por
debaixo do braço dele e o que vi fez com que ficasse estarrecido, tendo até
tentado uma fuga, não fosse a mão dele, que firmemente me segurou ao mesmo
tempo em que balbuciava para que me mantivesse firme e sereno por detrás dele,
algo impossível. – pensei desesperado

Um leão, a menos de
dez metros, estava tranqüilamente deitado exatamente sobre a trilha por onde
deveríamos passar.

Olhava de cabeça
erguida para o meu companheiro e, este para ele, sem que qualquer deles fizesse
a mínima menção de arredar.

Eu, não me atrevia
nem a respirar, tal o terror que sentia naquele momento.

Não sei quanto tempo
ficaram neste jogo de olhares, estáticos, mostrando ambos uma serenidade que
seguramente não sentiam.

Por fim, o Leão se
levantou, espreguiçou-se indolentemente e voltou as costas, seguindo em direção
oposta á nossa.

Só então e passados
alguns minutos, senti um suspiro profundo de Zé Gato e sua voz que ainda
embargada me disse:

-
Vem, o perigo
já passou, e vou-te mostrar algo que não deves esquecer jamais.

Eu segui seus
passos. enquanto me explicava.

-
Vê,...
aqui o leão seguiu a trilha, repara que as pegadas dele são certas e
constantes, o que indica que o animal estava andando pausadamente, com intenção
de mostrar que não tinha medo, mas,... prosseguiu apontando o chão, já fora do
alcance de nossas vistas começou correndo, o que significa que estava com medo.

-
Com medo.
de nós?- perguntei espantado - mas estávamos sem arma. Ele podia ter atacado e
morto a gente! Afirmei ainda duvidoso do que acabara de ver e escutar.

- É
verdade, mas, não fugimos, enfrentamo-lo, olhos nos olhos, e ele por instinto
sentiu, que somos os únicos inimigos que deveria temer, pois em verdade te
digo, até o rei dos animais, com seu orgulho e seu porte físico, teme por
instinto o maior dos predadores... Nós,... os Homens!...Ah... se ele soubesse
como somos frágeis!...

Sem me manifestar,
decidi guardar a lição daquele homem cuja voz e imagens ainda ressoam em meus
ouvidos e minha mente tão claramente como se este episódio tivesse acontecido
apenas há algumas horas.



Faz dez anos, numa
ida a Gorongosa em Moçambique, tornei a ouvir falar dele, contaram-me que
sofrera a morte nas garras de um Leão, curiosamente numa situação muito similar
á que se passara conosco, só que desta vez, o Leão conhecia as franquezas do
Homem e... estava com fome... possivelmente!

Mas. não importa,...
morreu, do ataque fulminante de um Leão e na África Negra como tinha sido seu desejo
múltiplas vezes manifestadas.

Que seus ossos,...ou
o que resta deles, ali descansem eternamente. Amen!



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