O Touro Negro
(Aluizio Azevedo)
Aluísio Azevedo O TOURO NEGRO Uma corrida de touros, que ia se realizar na velha cidade da Galiza, encheu o povo de alegria . Viria como primeiro Espada e chefe da "cuadrilla" o guapo Torbellino, dono então por alguns instantes da crueldade da alma espanhola,. A noticia começou logo a chamar gente de todas as cidades e povoações vizinhas. Ninguém por ali em volta resistia ao desejo de sensações violentas, que a tourada prometia, em falta de guerra se contentavam com o sangue dos inocentes bois e de cavalos. Não tinha como conter o êxtase do público, quando chegara afinal o grande dia, céu límpido ,sol de Agosto . A população aclamava ardentemente como um dia de glória nacional. Palmas, urras e toques de corneta ao romper do dia. As principais ruas da cidade, ,torrentes de carruagens, carroças, ginetes, e peões iam extasiados para a praça de touros.. Na entrada do circo, um calor intenso da caldeira a ferver, vendiam , chouriços, paios e lingüiças, barris e garrafões, de vinho, azeitonas e aguardentes , guardas civis, sombrios , em seus uniformes impecáveis, andavam de um lado para outro, entre a multidão. A entrada do anfiteatro estava lotado de espectadores , pareciam tão alucinados, naquela infernal algazarra, Cinco minutos antes do espetáculo, a algazarra aumentou, o alcaide da cidade, com suas insígnias, dirigiu-se para seu camarote de honra, acompanhado pelo presidente da corrida, cumprimentou o público, e uma vibrante cometa militar, acolhida com tumulto e regozijos, deu o sinal de abertura, abriram-se- as grades de um portão no lado oposto ao da entrada de espectadores; e entre aplausos gerais a "cuadrilla" solenemente adentrou. Vinha na frente, a cavalo, o Primeiro Espada, o guapo Torbellino, , empunhando orgulhosamente seu bastão de chefe; seguiam-se os bandarilheiros e capinhas, os picadores, em número proporcional, com brutais perneiras de chumbo e lanças formidáveis, a cavalgar velhos cavalos que depois de tanto trabalhos no campo ou nas cidades, como recompensa dos seus bons serviços, seriam chifrados por companheiros de martírio. Abriu-se à cancela, e a vítima surgiu a galope, parando em seguida , fascinada e aturdida no meio de toda aquela estrondosa algazarra, a olhar todos os lados, até que, como se só então desse pela presença dos capinhas, investiu contra um deles. . Os capinhas, atormentavam o pobre animal, com suas capas, ou os bandari1heiros lhe espetavam na espádua e no pescoço com a traiçoeira espada enfeitadas e também de fogo, ou então os picadores com seus miseráveis cavalos para que o enfurecido animal as destripasse ferozmente e com os poderosos chifres, e quando o touro se achasse já bem cansado e exausto, o matador se apresentava defronte dele com a sua gloriosa espada e lha enterrava na espinha até matá-lo, gesto insano. O touro entrou altaneiro, era um belo animal negro e reluzente, com os chifres curtos e afilados como uma lança. Quando a cancela se abriu, ele entrou pela praça num galope , e a circulou repetidas vezes, com tal velocidade e tamanha fúria, atropelando tudo que vinha pela frente, os capinhas e bandarilheiros voaram por cima da trincheira, entretanto os cavalos , abandonados e às cegas, iam recebendo chifradas por todo o corpo. As poucos caiam mortos, um cheiro acre de sangue e esterco se espalhava pela praça, entre os restos de sombreiros, lanças , que o touro pisoteava com raiva rugindo de cabeça erguida. Era tanto o barulho, que o touro pela primeira vez se mostrou atordoado e se pôs a correr procurando uma saída qualquer, para fugir da infernal algazarra. Otouro, apesar de feroz, mostrava sinais de cansaço e parecia já não ter tanta energia, tanto assim que Torbellino, com audácia declarou que ia executar o touro, o público extasiado aclamou-o O animal saiu em seu encalço, e a galope começou a persegui-lo pela praça, Torbellíno, com destreza, agarrou-se na carreira que levava à borda da trincheira e a transpôs de um salto; o touro, porém, não menos destro, galgou-a atrás dele, rastejando-lhe a pista. Mas a tudo levava o touro a vencer, ameaçando até as primeiras filas de espectadores. O pavor se apoderou da multidão.,dentro da arena os capinhas perseguiam o touro. O Touro vinha correndo, a praça esvaziou-se e o touro arremeteu contra o cavalo já ferido , o touro mais uma vez investiu contra as entranhas do pobre arrancando de vez as tripas para fora. A empolgação do publico pela crueldade, aumentava o entusiasmo do Touro , e o inconsciente herói como se os compreendera, tirou a cabeça das entranhas do cavalo como uma máscara vermelha e verde, feita de fezes e de sangue. E os toureiros chegaram novamente à praça. O touro, viu-se logo cercado por todos os lados, cansado, já sem força para atacar. - Torbellino , defronte do touro sacudindo a capa vermelha, escondendo a lâmina fatal. O feroz e valente Touro, de cabeça baixa, cansado recusa a provocação; mas os capinhas não davam tréguas e instigaram tanto , que a vitima afinal colocou-se diante do Matador, para receber o supremo golpe. Torbellino não deixou escapar a oportunidade. Mirou, e com um salto de mestre, enterrou-lhe a espada no pescoço , entre os chifres. A lamina afiada ficou no pescoço do touro, e este parou surpreso do que se passava por dentro dele. O Matador cruel aproximou-se, puxou a ensangüentada espada e bateu-lhe com ela na cara, desdenhando a vítima. O touro ainda reagiu quase moribundo, cambaleando, mal se agüentando sobre as pernas da frente, e caiu ao lado do último cavalo morto. Ergueu a cabeça e abriu os olhos uma luz de estranha bondade, talvez lembrando dos campos , escorria-lhe sangue pela boca, de sua garganta saiu um mugido soturno e nesse mugido expressava toda a lamentação de sua alma . . Pendeu a cabeça sobre o flanco do cavalo que também foi vítima , suspirou muito calmamente como se tivesse adormecido depois de um longo dia de trabalho.
Resumos Relacionados
- O LeÃo Envelheceu - FÁbulas
- Fábulas - O Touro E O Mosquito
- Genética – Herman, O Touro
- Abaixo A Cultura!!!(???) SÉculos De Touradas, Chega!!!
- O Touro Branco
|
|