Um pouco mais de azul
(Hubert Reeves)
Tanta água! Tanta água!
Na escola aprendi que a matéria existe sob três formas: sólida, líquida e gasosa. Também aprendi que os oceanos cobrem setenta por cento do nosso planeta. Aquando de uma hipotética divisão inicial das formas, a fase líquida tinha sido, aparentemente, favorecida. Vista do espaço, a situação é diferente. À escala da Galáxia ou do universo, a quase totalidade da matéria é gasosa, neutra ou ionizada. A fracção sólida não representa mais de um milionésimo do universo e a líquida é ainda mil vezes inferior. (Fiz estimativas com base em hipóteses verosímeis sobre a frequência dos sistemas planetários, excluindo as estruturas quase cristalinas das anãs brancas.) Os pescadores de baleias que partem em expedição passam dois e três anos em que não vêem outra coisa além da extensão ilimitada dos oceanos. Aceitariam eles acreditar que a água líquida é mais rara à escala cósmica que o ouro na Terra? É difícil subestimar a importância da água na gestação cósmica O seu poder de dissolução permite-lhe integrar grandes quantidades de moléculas estranhas. Estas moléculas circulam livremente. As ocasiões de encontros são múltiplas. Os contactos são prolongados. Por esta via, a água torna-se um potente auxiliar da organização. Aproveitemos este momento para saudar o aparecimento da água na Terra. Não é a primeira vez que tal acontece no universo. Aparentemente, muitos outros planetas que viveram antes do Sol registaram esse acontecimento. Mas, simbolicamente, tanto quanto egocentricamente, é o seu aparecimento na Terra que preferimos celebrar. Hubert Reeves, Um pouco mais de azul, A evolução cósmica
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