A Cultura Escolar como objeto histórico
(Dominique Julia)
No presente capítulo, Dominique Julia procura fornecer subsídios para o estudo da cultura escolar em perspectiva histórica. A respeito da condução da investigação da cultura escolar, indica que: "Esta cultura escolar não pode ser estudada sem a análise (...)da análise das relações conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua história com o conjunto das culturas que lhes são contemporâneas (p. 10)". Em relação ao conceito de cultura escolar, Julia o entende como: "Conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar (...) e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos (p. 10)". No tocante aos estudos em história da educação conduzidos por pedagogos, o autor identifica uma tend6encia ao trabalho centrado em interpretações literais dos textos normativos, além de uma tendência a superestimar o efeito de tais textos sobre a prática docente.
Como objeto de análise, Julia investiga as disciplinas escolares na França, do século XVI ao século XX, como razões para a adoção da referida periodização aponta: "a) No século XVI as escolas passam a funcionar em estabelecimentos próprios; b) Criação (a partir do século XVI) de classes separadas por nível de ensino; c) A partir do século XVII teriam surgido os primeiros profissionais da educação (p. 19)".
No que se refere às fontes documentais e sua importância para a história das práticas culturais, indica que: "A história das práticas culturais é, com efeito, a mais difícil de se constituir, porque ela não deixa traço (p. 15)". Daí se depreende a necessidade por parte dos que venham a estudar objetos desse jaez, de se utilizarem de várias fontes e métodos que possam completar as lacunas originadas pela escassez de fontes documentais. Ainda a respeito de seu trabalho, Julia destaca três vias: " a) normas e finalidades que regem a escola; b) o papel desempenhado pela profissionalização do trabalho do educador; c) a análise dos conteúdos ensinados e das práticas escolares (p. 19)".
Para o autor, dois pontos-chave norteariam os caminhos de análise: "a) os textos devem remeter às práticas; b) é nos tempos de crise que se capta melhor o funcionamento da escola (p. 19)".
À guisa de conclusão, indica que o estudo do habitus[1] numa perspectiva histórica torna possível a compreensão do modo como ao longo do tempo a escola tem se constituído em eixo matricial da cultura, além de ser igualmente (em seus conflitos e acordos) possível resgatar como a cultura (e a política) de um dado período histórico condiciona a estruturação dessa escola.
[1] Habitus entendido como resultante das disposições adquiridas por meio da inculcação dos elementos culturais no indivíduo.
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