Um crime delicado
(Sérgio Sant´Anna)
Considerações Gerais Romance metaliterário (o
narrador fala da obra) em linguagem fragmentária, através da qual o
narrador, um crítico de teatro, conta-nos seu envolvimento criminoso com
Inês, uma mulher manca e misteriosa. Consciente de que a verdade em si é uma
composição de signos (representações), se diverte com o leitor. Afinal, onde
a verdade do ocorrido estará? Nas ações do teatro que ele critica? Nas
pinceladas do pintor? Nas palavras do escritor? Como espelhos estilhaçados
que precisam se unir, ou como linguagens diferentes costurando-se umas às
outras, talvez encontremos a(s) resposta(s) para o fato: um crime delicado!
E foi através desses espelhos, que refletem uns aos outros, que minha
observação se deu, bastante discreta e oblíqua. O que importa, então, é
deixar correr solta a mente, e talvez a esse fluxo é que se deva chamar
verdadeiramente de vida. Pois mesmo quando nos envolvemos em grandes
aventuras, o que é vivê-las senão a subjetividade de quem as vive? Sou
crítico profissional de teatro. Mas a profissão talvez explique muitas
coisas em meu comportamento e na minha forma de viver, em minha
personalidade enfim, embora eu não saiba dizer se foi esta personalidade que
me conduziu naturalmente à crítica, ou se foi o exercício desta que terminou
por contaminar meu comportamento e minha personalidade. Antônio Martins, ao
tentar reconstituir retrospectivamente sua história, representando-a em
diferentes linguagens, deixa em aberto várias possibilidades de interpretar
o que se passou.
Teria ele sido vítima de uma armadilha elaborada pelo artista
plástico Vitório Brancatti, protetor e possível amante de
Inês? Estaria ele próprio falando a verdade sobre o seu
relacionamento com a moça, ou apenas criando o seu texto? O
crítico agora é você, leitor! Resumo Romance narrado em 1ª
pessoa, em três partes, subdivididas em capítulos e numa
linguagem que acompanha o vaivém da memória do narrador, um
crítico profissional de teatro, que alguns consideravam
excêntrico, solitário: Antônio Martins. Inicia o texto falando
que teria visto Inês num café cujas paredes e colunas eram
espelhadas. ...uma visão discreta e oblíqua, mas que por vezes,
podia jurar que o observado era ele. Inês, uma mulher com rosto
de traços finos e delicados, seios pouco salientes, mulher
magra, com o corpo bem- proporcionado, cabelos claros,
encaracolados - de olhar melancólico e solidão recatada - assim
a teria visto, após duas doses de conhaque - o que, segundo o
narrador, eram suficientes, pois se continuasse a beber... ...no
dia seguinte poderia descambar, acelerar de forma desritmada os
fluxos de sua mente, passar de uma exaltação quase feliz para
um abatimento cheio de imagens e pensamentos dolorosos - uma
tendência que ele procurava controlar: o alcoolismo. Antes de se
retirar do café, ele observa que um homem de meia-idade, com
cabelos revoltos e grisalhos, inicia uma conversa familiar com a
moça, mas percebe que ele os observa, lançando-lhe um olhar
firme, mais curioso do que hostil. No capítulo seguinte, certa
tarde, Antônio atravessava o largo do Machado, no centro do Rio
de Janeiro, e fora acometido por uma premonição, a de que algum
incidente estava prestes a ocorrer. No metrô, ainda quando
descia os degraus da escada, ao virar-se instintivamente uma
mulher cai sobre o seu corpo, e é amparada em seus braços. A
moça é manca, mas de uma beleza singular. Antônio a reconhece
como a moça que o impressionara no café. Segue-a até a rua
Paissandu, local de sua residência. Inês era seu nome, e ela
também o reconhece. Num espetáculo teatral, Antônio percebe
que o que se passara com Inês e ele no metrô o emocionara - e
isso interferiria - embora não devesse, em seu julgamento da
peça que analisava. ...dois jovensem crises existenciais que,
segundo o crítico, uma simulação do amor beirando a
impotência e buscando ostentar-se na própria teatralidade, numa
pretensa metalinguagem que não passava de um álibi - uma coisa
tediosa e medíocre. Enfim o espetáculo. Folhas de outono
(folhas secas que caíam através de uma janela cênica)
representavam o aprisionamento da atriz. Podemos ler esse
aprisionamento observado na peça como signo- sinal da relação
de também aprisionamento entre Inês e Brancatt, ou seja, uma
dica do narrador, que retira fragmentos da linguagem do teatro
que analisa para construir o seu texto e confundir ou brincar com
o leitor. Neste "texto" também há forte comparação
da atriz com Inês. ...a imagem de Inês que insistia em pairar,
no decorrer da peça, em meu palco interior? Relembrando:
Antônio e Inês trocam olhares no café; Inês cai em seus
braços no metrô no dia seguinte; Antônio a acompanha até a
rua de seu apartamento; marcam um encontro num bar- restaurante
no Leblon, onde Inês já o estaria esperando. ...ele que chega
10 minutos antes da hora marcada, depois de haver tomado um
uísque em casa, de puro nervosismo. Inês ri ao saber que
Antônio era crítico de teatro e, entre goles de uísque,
Antônio tem a impressão desconfortável de que ela apenas se
deixara tomar pela mão sem nenhum tipo de retorno; mas o
induziria a ir a seu apartamento, e que no dia seguinte entre
imagens superpostas, lembranças e projeções vagas que lhe
vinham em forma de lampejos, ele descreve-nos o local: uma muleta
e uma tela sobre o cavalete, sons de um trompete, cheiro de tinta
e perfume no ar além de um biombo negro com ramagens prateadas.
Embriagado, envolto nos sentimentos que o levavam a desvendar
Inês, acreditou na força do destino, mas já em casa
questionava: seria ela uma pintora? E o biombo escondia uma Inês
com problemas físicos? Seria o local para despir-se fora das
vistas mesmo de um amante? Ou preparado por Inês para
enciumá-lo? Inês teria neste encontro no Leblon pedido a
Antônio que fosse comprar analgésicos e tranqüilizantes
enquanto esta daria um telefonema. Antônio sequer a viu andando.
Sua perna manca teria sido um artifício para eles se
aproximarem? No apartamento, Inês se coloca inerte no divã.
Teria misturado o tranquilizante álcool? Sente por ela um
arrebatamento de uma força delicada. Antônio a conduz para a
cama, despindo-a. Inês abre os olhos, arregalando-os em pânico.
Antônio tem a reação de exibir a transparência de suas
intenções, mas ao acender a luz, Inês tinha os olhos fechados.
Parecia dormir, ou fingia que dormia? Exibir transparência ou
como narra Antônio: ...tentava fugir para não ser surpreendido
numa situação dúbia? O resto? Ele apenas se erguera e voltara
para casa, acordando em sua cama. Antônio teme um reencontro com
Inês, preocupa-se com a seqüência dos fatos produzidos por uma
memória prejudicada, deixando vazios que possivelmente
encobririam algum ato que sua mente não ousava trazer à tona.
Antônio a teria despido? E o cheiro de tinta que ainda ficava em
sua memória olfática, saíra do biombo? O que Inês pensaria de
seu delicado gesto? Despi-la para a cama? Como ela os
interpretaria? E o quadro, e o cavalete atrás do biombo?
Relembra o encontro no metrô, teme reencontrá-la e se isso
ocorresse, como despistá-la da coincidência sem que ela tecesse
suspeitas? Em casa constata um pequeno ferimento no joelho;
desiste de um contato com Inês, vai ao teatro. Antônio recebe
um envelope de Inês Brancatti, levado por um homem de moto e uma
moça. Enciumado por imaginar Inês com o motoqueiro , rasga o
envelope com raiva e junto a um convite há uma cartinha em papel
perfumado e cor-de-rosa, com o endereço e telefone. Trata-se de
uma mostra coletiva de pintura com o título de Os Divergentes.
Os Divergentes expunham no Centro de Expressão Vida, na rua
Viúva Lacerda, no Humaitá. Ao sondar a exposição, crítico
que era, não encontra nela valores contemporâneos ma
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