AYRTON SENNA (A MORTE DO HERÓI)
(Ernesto Rodrigues -Editora Objetiva)
...Depois do acidente com letto. A corrida não chegou a ser interrompida. Pela primeira vez, na Fórmula 1, um safety car foi usado. 23 pilotos remanescentes. No fechamento da quinta volta, o safety car foi para o boxe e a Fórmula 1 prendeu a respiração mais uma vez, àquela altura já sem a convicção de que o domingo ia terminar bem. Schumacher se assustou com o comportamento arisco da Williams de Senna e com as fagulhas que o carro arrancava do piso ondulado, metros à sua frente. No meio da Tamburello, a Williams deu uma violenta balançada antes de seguir direto para o muro. Galvão Bueno, na cabine de transmissão da TV Globo, perdeu o grande amigo no decorrer de uma frase: "Passa rasgando na reta Ayrton Senna. Seis voltas completadas. Aí ele tenta fazer falar mais alto seu motor Renault, em relação ao motor Ford. E a parte de maior velocidade. Eles vão atingir os 330 quilômetros POR HORA!” As duas últimas palavras da frase se tornaram um grito, com visão do impacto. O último susto durou 1s03. A telemetria, velha parceira das vitórias, mostrou que este foi o tempo decorrido entre o instante em que a Williams se desgarrou da trajetória normal, a 307 quilômetros por hora, e o impacto no muro da curva Tamburello. Os dados telemétricos também foram uma prova inquestionável de que, durante aqueles inesperados 13 décimos de segundo de descontrole, ele quis entender e reagir ao que estava acontecendo: aliviou o pé no acelerador, tentou correções no volante, encostou o pé na embreagem e voltou a tocar no acelerador antes de frear violentamente na área de escape e se espatifar no muro, a 216 quilômetros por hora. No instante derradeiro, antes do muro, a telemetria permitiu supor que ele tirou as mãos do volante e tentou se proteger com um gesto instintivo. Não seria exagero imaginar que ele esperava escapar de mais um,depois de dez anos de Fórmula 1 e pelo menos uma dezena de acidentes sérios. Mas um braço da suspensão dianteira direita da Williams, transformado em lança mortal no choque contra o muro, entrou pela viseira, desfigurando seu rosto e destruindo seu cérebro. O velho capacete amarelo, inútil para salvá-lo naquele dia, cumpriu um último papel. Pouparia milhões de pessoas de uma imagem devastadora. A Williams semidestruída ainda se arrastou pela área de escape de concreto, rasgou uma pequena faixa de grama e voltou ao asfalto da Tamburello por alguns décimos de segundo, à frente da Ferrari do amigo Gerhard Berger, antes de voltar ao piso de cimento, como se Ayrton estivesse, enfim, abandonando a prova. Logo depois, a câmera do helicóptero registrou aquele suave balançar de cabeça no cockpit. Intenso momento de esperança para uns. Mensagem do pior para outros. Os primeiros comissários de pista chegaram 20 segundos depois da batida. Nenhum deles teve coragem de se aproximar. Muito menos de debruçar no cockpit, como sempre acontece nos acidentes. As lentes da tevê não mostravam o quadro desolador que eles tinham à frente. O enfermeiro Giuliano Mazzoli, integrante da equipe responsável pelo trecho entre a Tamburello e a Tosa, avisou aos médicos que estavam na torre de controle do circuito: - O estado é grave e ele está inconsciente no cockpit. Natalino Fantoni, um dos bombeiros voluntários de Imola que se aproximaram, já tirara Nelson Piquet, tonto e assustado, do cockpit de outra Williams, em 1987. Também estava por perto quando aFerrari de Berger batera e virara uma bola de fogo, em 1989. com Senna, não havia o que fazer. Um dos paramédicos gritou e Natalino ouviu: - Deixa! Não mexe! Ele está morto, está morto! Ao chegar junto ao cockpit da Williams, o chamado anjo da guarda dos pilotos constatou o que chamou oficialmente de "quadro de morte cerebral irreversível": Ayrton, estava deformado, tinha fraturas múltiplas e profundas. O sangue abandonava seu corpo rapidamente, em grande quantidade. Em seu livro Life at the limit [A Vida no Limite], Watkins contou: - Senna deu um grande suspiro. Seu rosto estava tranqüilo. Parecia em repouso. Tive ali, no momento em que o socorria, a estranha sensação de que sua alma tinha partido. Optaram por retirar Ayrton do cockpit e fazer a traqueostomia ali mesmo, no chão. Quatro minutos haviam passado desde a batida. Eram ferimentos típicos de motociclistas, não de pilotos de Fórmula 1, na lembrança do anestesista Giovanni Gordini. Ele fazia parte da equipe médica responsável pela assistência ao público, mas, com a gravidade do acidente, fora levado à Tamburello na garupa de uma motoneta. Apenas um dos pilotos viu de perto, e não por vontade própria, aquele esforço para salvar Senna. Quando o helicóptero decolou, levando Ayrton, ainda vivo, para o hospital Maggiore, do meio da reta que levava à curva Villeneuve, 17 minutos e dois segundos depois da batida, os médicos, paramédicos e bombeiros começaram a se dispersar, exaustos e chocados. Um deles, o médico Giuseppe Pezzi, aproximou-se do posto chefiado pelo voluntário Lelio Benetti e desabou, apático, anestesiado pela experiência. Pezzi estava tão arrasado, que não tinha forças ou disposição para limpar o próprio rosto, salpicado de sangue e de pedaços de massa encefálica. Lelio pegou uma garrafa de água mineral, um lenço e limpou cuidadosamente o rosto de Pezzi. Uma notícia que a gente não gostaria de dar: morreu Ayrton Senna da Silva 01 DE MAIO DE 1994.
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