PRINCÍPIOS DA PERMACULTURA NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
(RAFAEL TRINDADE)
No atual estado de saúde em que se encontra o meio ambiente, apresenta-se a permacultura como uma alternativa viável de enfrentamento desta situação, possibilitando a recuperação de áreas degradadas e a preservação das ainda intocadas pelo ser humano. Sugere-se a combinação de técnicas permaculturais na solução do problema da habitação de interesse social explicitado pelo crescente déficit populacional, onde milhões de pessoas sobrevivem em precárias condições de higiene e segurança. É apresentada, aqui, uma estratégia de intervenção em comunidades de baixa renda, a fim de que o objetivo seja alcançado, qual seja, possibilitar uma vivência digna para estas pessoas, ao mesmo tempo em que se cuida do ambiente natural.
Desde a explosão econômica proporcionada pela revolução industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII, a humanidade desenvolveu um ritmo frenético de vida, com um apelo massivo ao consumismo, cujo objetivo primordial é obter lucro econômico, em detrimento da qualidade de vida do ser humano. A exclusão social a partir desse período aumentou exponencialmente, gerando uma massa de pessoas que literalmente estão de fora do “desenvolvimento” econômico mundial.
Neste contexto urge conscientizar os seres humanos sobre os problemas deste modo de vida excludente e danoso ao planeta. Muitas alternativas de vivência humana sustentável são apresentadas, merecendo atenção as tecnologias viabilizadas pela permacultura, as quais também são eficazes para a solução do problema de habitação de interesse social, e de todos os problemas enfrentados pela humanidade nos dias atuais.
Criada pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren nos anos 70, a permacultura tinha como objetivo inicial ser “um sistema evolutivo integrado de espécies vegetais e animais perenes úteis ao homem” (PAMPLONA, 2006). Voltava-se especificamente para a agricultura, com princípios voltados a uma (Agri)cultura Permanente, daí advém o termo Permacultura. Com o passar dos anos, o conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis” (PAMPLONA, 2006), envolvendo aspectos éticos, sociais, culturais, econômicos e religiosos. Conta com mais de 10.000 praticantes em todos os continentes, segundo dados do ano de 2005 do Grupo de Permacultura da UFSC.
Mais do que uma simples técnica que busca uma integração entre os elementos naturais e os desenvolvidos pelo homem, a permacultura é uma filosofia de vida, numa cooperação e solidariedade entre os homens e a natureza. Visto desta forma, pode parecer utópico, porém, é fácil mostrar que é algo possível de ser realizado, através de princípios, estratégias e métodos bastante coerentes.
Os princípios éticos que norteiam a prática da permacultura podem ser resumidos em três iniciativas simples: cuidar da Terra, cuidar dos homens, e distribuir os excedentes, (principalmente conhecimento). Estes princípios formam um ciclo infinito, onde a distribuição de excedentes contribui para o cuidado da Terra e dos homens, e assim por diante.
Neste sentido, os princípios supracitados podem ser desdobrados nos seguintes princípios de ação:
- Funções múltiplas e múltiplos elementos
- Substituição de altos investimentos e trabalho por planejamento e criatividade
- Cooperação em vez de competição, integração em vez de fragmentação
- Diversidade
- O sistema deve produzir mais energia do que consome - Auto-sustentabilidade
- Reciclagem de energia
- Localização relativa
- Planejamento com os declives
- Uso das bordas
- Zonas
- Setores
- Sucessão natural
- Problema é solução
- Estabilidade ocorre quando se fecham os ciclos
- Responsabilidade pelas próximas gerações
Na busca de soluções realmente eficazes para o problema da habitação popular é oportuno considerar os benefícios de um assentamento humano desenhado segundo os princípios da permacultura. Ela ensina os seres humanos a viver de forma sustentável, respeitando os ciclos naturais, desenvolvendo e potencializando a sua criatividade, equilibrando elementos naturais com elementos produzidos pelo homem, praticando a gestão participativa e distribuindo igualmente os excedentes. Desta forma, torna-se possível – as diversas ecovilas existentes no país e no mundo provam isto – a manutenção da vida em todos os aspectos sem causar tantos males ao meio ambiente, inclusive os decorrentes da desigualdade social.
Ao se pretender implantar princípios permaculturais - éticos e de ação - em uma comunidade de baixa renda, deve-se atentar para a forma de aproximação para com a mesma, a fim de que não haja rejeição, dificultando assim o trabalho a ser realizado na localidade. Neste contexto, uma alternativa é o modelo de gestão habitacional por autogestão, onde a comunidade, por meio das associações de moradores, é a responsável pela administração geral do empreendimento, bem como pela gerência de todos os recursos. Ela participa de todas as etapas da construção, contribuindo, assim, para o sucesso da intervenção.
Definido o método de trabalho para com os beneficiários, pode-se partir para uma fase de coleta de dados da comunidade, através de entrevistas com os moradores, a fim de obter dados que forneçam subsídios para uma análise quantitativa da situação. Estes dados servirão de base para as próximas etapas de atuação.
A fase seguinte pode consistir na conscientização dos moradores, no intuito de prepará-los para a apresentação das técnicas construtivas da permacultura, de modo a romper com o choque inicial com o conceito, o qual obriga o indivíduo a uma mudança de visão e de comportamento para com o meio ambiente.
O resultado deste processo deve ser uma comunidade de hábitos menos nocivos à natureza, contribuindo para uma convivência sadia entre elementos produzidos pelo ser humano e os constituintes do ambiente natural, que é justamente o objetivo da permacultura.
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