Antiética e Violação dos Direitos Humanos nos Valores do Casamento Indiano.
(Jornal ''O Estado de S. Paulo'')
Antiética e Violação
dos Direitos Humanos nos Valores do Casamento Indiano.
Pramila
Dandavate, ex-membro do parlamento e fundadora da comissão feminina de
vigilância, é de opinião que os indianos perderam o senso de justiça com a
colonização: “Não permaneceram indianos,
nem se tornaram ocidentais. Por isso, não compreenderam o que seja igualdade”.
O
resultado, diz ela, é que o homem, na Índia, continua a ter mentalidade feudal
e altamente materialista. A maioria dos casamentos é arranjada pelas famílias e
as pessoas não se casam por amor, mas tendo em vista os interesses materiais.
Para o
homem, a mulher se converteu numa espécie de “vale”, que dá direito a relógios importados, um aparelho de som, um
refrigerador, motocicleta ou carro, dependendo do dote combinado. O dote, que
antes permitia um pai entregar bens materiais à família, que não podia herdar
propriedades, converteu-se numa forma de pagamento ao noivo, pelo favor de tirar
uma moça da casa dos pais. Pior ainda: o sistema de dote acabou degenerando numa
forma de extensão que prossegue por muito tempo depois do casamento, no qual o
marido continua a exigir bens do sogro para continuar a abrigar a filha.
Segundo
Dandavate, muitas famílias vêem no casamento de um filho a oportunidade de ter
em sua casa uma série de coisas que não podem comprar.
“A mulher
transformou-se num tipo de mercadoria”, diz Dandavate. “Através do casamento, o
marido equipa sua casa. E, muitas vezes, depois de conseguir o que desejava,
tenta livrar-se da mulher”.
As mortes
de mulheres recém-casadas são chamadas de “mortes por dote”. São casos em que o
marido mata a mulher por não ter recebido um bem exigido. E há casos,
igualmente escabrosos, nos quais a própria mulher se mata para não causar
problemas ao pai que não presenteou o genro com a generosidade esperada.
Mulheres que se casaram obrigadas e são cruelmente hostilizadas pelos parentes
do marido, envenenam-se ou se atiram em poços.
Em dois
incidentes, duas jovens médicas do mesmo hospital de Nova Délhi injetaram doses
fatais de drogas nas próprias veias, para escapar as pressões exercidas pelos
maridos ambiciosos sobre seus pais, exigindo cada vez mais bens. O sistema de dotes ultrapassou todas as
barreiras. Antes era um fenômeno que ocorria somente entre as famílias
hinduístas de classe média do norte da Índia. Mas agora, já abrange várias
castas, atravessou os limites dos estados e também das religiões.
Muçulmanos
e cristãos, grupos em meio aos quais esse hábito não estava difundido, começaram
hoje a exigir dotes dos pais da noiva.
Artigo extraído do jornal O Estado de S. Paulo.
12/02/1989.
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