Globo
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A charge nasceu na França, tanto etimologicamente quanto em seu objetivo político: fazer crítica contundente a um fato específico geralmente político, sem depender de texto que a explique. A charge fala por si só, contém a história crítica, por isso é difícil – poucos são os autores que conseguem a perfeição de se fazer entender pelos os leitores. A charge é a sátira em forma de desenho, cujo objetivo é censurar com capacidade de provocar reação, positiva ou negativa: o riso, a raiva, o desdém, a repulsa. A charge satiriza os costumes e os ridículos de uma sociedade ou de um indivíduo, representa a crítica picante, a apologia dos erros, o destaque dos defeitos. A característica fundamental da charge é a sua atualidade, o noticiário do dia, o fato mais recente, a tragédia mais grave, tudo serve de fonte. Em evento recente, muitas charges surgiram criticando a agressão ecológica havida com o derramamento de petróleo na baía de Guanabara e o trágico acidente ocorrido com a Plataforma P36 na bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Quando levada a extremos, a charge é muitas vezes um juízo parcial, em que se zomba do defeito sem levar em conta a qualidade. Muitos chargistas são vítima de ataques, tanto de nível pessoal quanto de nível jurídico, tendo que responder a processos por infâmia, calúnia ou difamação – sofrem até atentados contra a vida. Em literatura, no teatro, na TV ou no cinema, o uso do humor desabrido, da paródia caótica, da ironia fina, para ridicularizar um personagem público ou o meio social, a charge reina absoluta. Inicialmente as charges atacavam os vícios, os costumes, o ridículo de seu tempo e até mesmo o exagero de certos religiosos em suas atividades, acompanhadas de texto em verso ou prosa, em panfletos que eram distribuídos entre a população, colados às paredes, nas ruas, nos bares, em postes. Essa é a raiz para a charge manter alto teor de crítica Moral, Social ou Política. Assim os panfletos de antigamente eram assimilados imediatamente, o que de certa forma fazia com que a população – sabendo da má atuação dos governantes, políticos e guias espirituais – pudesse reagir e se rebelar. Portanto, o chargista, defendendo uma boa causa com uma boa charge, pode ser o responsável pela derrocada de governos, líderes religiosos, políticos e até padrecos do interior. Hoje em dia, devido ao poder econômico que as empresas jornalísticas representam, os chargistas sofrem limitações, são censurados. Até demitidos. Criticar o político poderoso, o amigo do proprietário da instituição ou tentam publicar algo desairoso aos produtos que representam grandes anunciantes (vitais para a sobrevivência da instituição), é proibido. Ainda hoje a charge sem palavras sai como um simples desenho humorístico de apoio, para servir de ilustração e se integrar a um texto. Mas a charge, como a caricatura, é um gênero da maior importância, que dá ao autor a liberdade de fazer qualquer crítica, se tornando, por isso, indispensável na imprensa de todo o mundo. Na charge "Candidato na Engorda", de autoria de Chico Caruso, o satirizado é o pré-candidato às eleições presidenciais para suceder Fernando Henrique Cardoso (no caso José Serra, Ministro da Saúde). A charge expõe de maneira simples as agruras que um candidato tem de enfrentar para se mostrar popular e merecer o voto, tanto da massa, quanto da elite: toma um sorvete, que é uma iguaria do povo; depois bebe uma taça, que poderia ser de champanha, a fase social e refinada; por fim engole um sapo – que é a parte crítica, aguda, incomum, as adversidades que o político tem de suportar. Assim é a charge...
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