PEDAGOGIA DA DOR
(SUELY REGINA SOARES SANTOS)
SUELY REGINA SOARES SANTOSAs coisas mais importantes não se aprendem nos livros, nas aulas, em conferências, nem em sermões. São transmitidas de pessoas para pessoas por padrões de atitudes e procedimentos. Tratam-se das influências que nós, pais e professores passamos para os nossos filhos e alunos inconscientemente, com gestos, expressões e exemplos de como interpretamos e vivemos nossas vidas. Palavras nem sempre retratam o que pensamos ou o como agimos, porém nossos atos sim. Temos a tendência de agir dentro de um conceito de repetição. Se fui educada assim, vou educar do mesmo jeito. O fenômeno da violência não está imune a esse modelo de situação, tanto na família como na escola. Requer um estudo profundo das suas causas pessoais, familiares e ambientais, para evitar a manifestação de procedimentos violentos. Podemos considerar violência também a verbal, àquela que através das palavras recheadas de sentimentos perversos como a ironia, a inveja, a cobiça e muitos outros, agride e machuca tanto quanto uma agressão física. E aquela violência silenciosa, esses simples olhares que denotam o quanto você não é bem-vindo ou “você me incomoda”. Quantas pessoas são vítimas da violência silenciosa que as faz sentir vontade de se desculparem pelo simples fato de viverem? Faz parte da formação profissional do professor estar preparado para atender às necessidades emocionais dos seres humanos e lhes ajudar a desenvolver a vontade educada nos valores como a paz, a vida, o respeito, a tolerância e a solidariedade. Ensinados com naturalidade o que vivenciamos, e um bom caminho a seguir é explorado pela legislação atual. Os temas transversais reforçam os projetos pedagógicos das escolas como proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de uma forma bastante profunda. Abordando a ética e a pluralidade cultural, eles introduzem dimensões que anteriormente eram de exclusiva iniciativa de poucos professores, como a cidadania, que estabelece uma relação com a experiência de vida. A inexistência dessas práticas dá lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância. A violência perpassa as diferentes relações sociais e aparece de forma explícita nos meios de comunicação de massa. Até os programas infantis não fogem a essa conotação violenta.Bondade, generosidade e ética parecem que estão fora de moda. Os filhos vêem e sentem isso na atitude dos pais. Os alunos percebem e observam essas atitudes e procedimentos nos professores. Muitos consideram as maiores qualidades de um professor (gestor de talentos, processos de conhecimento) como uma fraqueza. A bondade, a generosidade e a humildade fazem parte do caráter daqueles que fazem educação. O crescimento do ensino superior na década de 90 é inegável. Foram ampliados a abrangência dos cursos, a oferta de vagas e o número de alunos matriculados. Porém, muita quantidade para pouca qualidade. Estamos formando advogados que desconhecem leis, economistas que não sabem matemática financeira, engenheiros com dificuldades em cálculos estruturais, etc. Pseudoprofissionais que irão cercear a liberdade de um cliente, condenar uma empresa à falência, levar um edifício ao chão. No anseio de se apresentar estatísticas que denotem evolução no sistema educacional, mediante elevação do número de graduados e redução do número de analfabetos, os indicadores mascaram a realidade dos fatos. Assim, basta escrever o nome para ser incluído na categoria dos alfabetizados, ainda que se tenha um vocabulário restrito a umas poucas palavras. Basta um diploma conquistado mais com o suor do trabalho para se pagar as mensalidadesao longo de alguns anos do que pelo conhecimento adquirido, para ser alçado ao time dos “doutores”. A gênese de nossos problemas reside no ensino fundamental, para o qual há dotação orçamentária prevista constitucionalmente, embora os recursos cheguem minguados às salas de aula, pois se perdem no decorrer dos descaminhos políticos e burocráticos. Falta remuneração adequada aos professores, falta-lhes incentivo à reciclagem profissional, falta rigor no ensino. A Língua Portuguesa é violentada a cada frase pronunciada, a cada expressão escrita. Falamos e escrevemos mal porque lemos pouco. Matemática é rotulada como disciplina difícil, produzindo um exército de cidadãos vilipendiados pela indústria dos juros. História é tida como dispensável, cultivando a brevidade da memória política que nos assola, conseqüência da incapacidade de se associar fatos. Inglês é introduzido na grade curricular cada vez mais precocemente, porém, a iniciativa é inútil haja vista que a metodologia forma mestres no verbo “to be”, após muitos anos de estudo, quando seria desejável o domínio de um vocabulário mínimo e de capacidade de comunicação. Nossos atuais conflitos éticos e morais, os eventos políticos, a fragilidade econômica, as desigualdades sociais, a subserviência institucional, a crise de identidade cívica, são filhos bastardos de nossa inépcia em reconhecer a relevância da educação na construção de um projeto de nação. Pena que dá trabalho pensar, elaborar, trabalhar e esperar vinte anos para ver florescerem as sementes.
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