IDEALISMO E NATURALISMO
(EÇA DE QUEIRÓS POR BENJAMIN ABDALA JR.)
O artigo “Idealismo e Realismo” publicado pelo escritor português Eça de Queirós deveria servir de prefácio a segunda edição de O Crime do Padre Amaro. No entanto, apenas alguns trechos mais essenciais foram aproveitados para a “Nota à segunda edição”, que antecede o romance.
O artigo foi incluído em sua totalidade nas Cartas Inéditas de Fradique Mendes, já que se assemelhou a “produção” dessa personagem criada por Eça de Queirós para ser sua porta-voz.
O fragmento permite uma compreensão das linhas estéticas seguidas pelo ficcionista e do sentido da construção de suas obras, especialmente as enquadradas no Naturalismo.
Temos a escola realista! Não há escola realista, pois Escola é imitação sistemática dos processos dum mestre. Pressupõe uma origem individual, uma retórica ou uma maneira consagrada. O naturalismo não nasceu da estética peculiar dum artista; é um movimento geral da arte, num certo momento da sua evolução. A sua maneira não está consagrada, porque cada temperamento individual tem a sua maneira própria: Daudet é diferente de Flaubert, como Zola é diferente de Dickens. O naturalismo é a forma científica que toma a arte, como a república é a forma política que toma a democracia, como o positivismo é a forma experimental que toma a filosofia.
Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo das paixões, hoje se analisa por processos tão exatos como os da fisiologia. Assim, o verdadeiro autor do naturalismo não é Zola, é Claude Bernard a arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não vivos e não a idealização das imaginações inatas. Deduz-se que não foi Zola o inventor do naturalismo, ele é uma forte personalidade que deu ao movimento um forte impulso.
A diferença entre o idealismo e o naturalismo consiste de que o primeiro falsifica e o segundo verifica. Mas quando se trata de pintar a alma humana é preciso ir ver e não idealizar, porque a idealização torna a pintura de uma época em um livro inútil, não servindo como documento duma certa sociedade, num determinado período. Esta seria a fórmula familiar, ao alcance da compreensão e despida de névoas filosóficas.
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