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As classes sociais como obstáculo epistemológico
(Pablo Silva Machado Bispo dos Santos)

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Na realidade, seguindo a doutrina marxista e tomando em conta o argumento de Marx a respeito das classes colocado especialmente no Manifesto Comunista nos vemos diante de algo que em retórica chama-se "Petitio Principii" ou petição de princípio. Este recurso retórico consiste na construção de um discurso pautado em uma premissa que é tomada como postulado, sem portanto ser provada, antes mesmo da argumentação ser desenvolvida (PERELMAN, Chaim. Tratado da Argumentação: a nova retórica. Rio de Janeiro, Martins Fontes: 1998). Quem aceita a primeira premissa (há classes sociais) necessariamente terá sido "pego pelo pé" na medida em que todos os silogismos são construídos segundo uma fórmula que remonta a esta primeira premissa, a qual não foi provada por ser um postulado. E é exatamente este o ponto nevrálgico da argumentação marxista: quando deveria trazer evidências que provassem a existência do conceito segundo o qual ele constrói toda a sua teoria da história, deixa de fazê-lo para que aceitemos como um dado algo que é no mínimo polêmico.Ainda sobre o termo classe social, este em Ciências Sociais não é visto como um "dado objetivo" por todos os sociólogos, restando aos marxistas e neo-marxistas o apego a esta contrução. Devido à sua dificuldade de delimitação em nível metodológico e especialmente da carência de evidências em termos de precisão para configurar uma "realidade concreta" (especialmente ao se adjetivar a classe como social, mas usar um critério econômico para caracterizá-la, o que vem a ser um deslocamento de sentido e um grave desvio objetal), se pode dizer que o constructo "classe social" é um obstáculo epistemológico à análise empreendida nas Ciências Sociais (Isto tomando de empréstimo as palavras de Gaston Bachelard em sua obra "A Formação do Espírito Científico", especialmente no capítulo 1 que trata justamente da noção de obstáculo epistemológico. BACHELARD, Gaston. A Formação do Espírito Científico. Rio de Janeiro, Contraponto: 2001). Outras linhas teóricas na Sociologia (e de certo modo na economia e Teoria da Administração), desenvolvidas por autores como Raymond Boudon, Richard Sennett, Peter Drucker, Talcott Parsons, Alan Touraine e Pierre Bourdieu vem a demonstrar ainda não somente a falência do esquema metodológico marxista no enquadramento metodológico da sociedade em "classes" enquanto constructo explicativo mas também o caráter "geometricamente variável" (tomando de empréstimo as palavras de Pierre Bourdieu em: La Distinction. Harvard Press: 2001) deste termo, o qual pode se referir simultâneamente a um segmento econõmico, a um portador de determinado ethos, a uma categoria funcional, a todas estas variantes e a nenhuma devido a seu caráter fluido em nível semântico. Para um marxista, no entanto a classe possui a realidade objetiva de um imperativo categórico, na medida em que sua própria visão de mundo passa a ser uma extensão dos desdobramentos da teoria marxista. Seguindo a visão Gramsciana (ver em especial "Os Intelectuais e a Organização da Cultura"), que na atualidade é um dos pilares da vulgata marxista, vemos que isto é resultado do processo de revolução cltural, a partir do qual as idéias do Partido Revolucionário, dada a ação do Intelectual Orgânico sobre seus ativistas vem a ser percebidas como uma realidade objetiva e concreta, razão pela qual freqüentemente tais ativistas taxam de cegos os que não concordam com suas premissas. De todo modo, em oposição à idéia de Classe, Pierre Bourdieu traz os conceitos de Habitus e Campo. Em um site de resumos chamado Shvoong eu deixei uma síntese destes conceitos da obra de Pierre Bourdieu para meus alunos, mas entendo que possa vir a ser útil para os debatedores que queiram entender exatamente a que me refiro quando falo destes conceitos. Por fim, se compararmos a análise social empreendida por Bourdieu com a análise marxista e neo-marxista acerca da dinãmicaindivíduo-sociedade, vamos perceber que adição da complexidade á teoria social bourdieuniana pode ser excelente alternativa ao caráter estanque de classe na medida em que cada campo na sociedade possui regras distintas as quais são apreendidas pelos sujeitos ao transitar entre os mesmos. Desta maneira, uma teoria relacional do real se mostra excelente alternativa ao peso das estruturas sobre os indivíduos (conforme visto no estruturalismo marxista e pós-marxista) assim como se constitui em excelente alternativa ao suposto indivíduo livre postulado pelos sócio-interacionistas e pelos que fora influecniados por Sartre. Uma análise relacional do real acaba por constituir o que Bachelard chamaria de "um caso particular do possível (BACHELARD, Gaston. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Rio de Janeiro, Contraponto: 2004, p. 52). O que significa dizer que tal modelo teórico permite análises muito mais abrangente das complexidades sociais.



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