Resumo de Terra - Ricardo Flores Magón

Milhões
de seres humanos dirigem, neste momento, ao céu o seu triste
olhar, com a doce esperança de encontrar mais além das
estrelas, que a sua vista não alcança, esse alguém
que é o tudo, porque constitui o fim e forma o objecto do
doloroso esforço, do penoso batalhar da espécie humana,
desde que os seus passos vacilantes puseram um palmo diante das
espécies irracionais: esse alguém é a
Felicidade. A felicidade!A felicidade não é deste
mundo, dizem as religiões; a felicidade está no céu,
está mais além da campa. E o rebanho humano levanta o
olhar e, ignorante da ciência do céu, pensa que está
muito longe, quando os seus pés se apoiam precisamente neste
astro, que com os seus irmãos constitui a glória e
grandeza do firmamento. A Terra forma parte do céu. A
humanidade está, assim, no céu.Escusado é
levantar o olhar na esperança de encontrar a felicidade por
desses astros que embelezam as nossas noites. A felicidade está
aqui, no astro Terra e não se conquista com rezas, não
se consegue com orações, nem com rogos, nem
humilhações, nem prantos. é preciso disputá-la
de pé e pela força, que os deuses da Terra não
são como os das religiões, brandos à oração
e ao rogo. Os deuses da Terra têm soldados, têm
presídios, têm forcas, têm leis, têm tudo a
que se chamam instituições, montanhas escarpadas que
impedem a humanidade de alargar o seu braço e dela se
apoderar, de fazê-la sua, de a submeter ao seu serviço,
com o que se faria a felicidade de todos e não privilégio
exclusivo dos poucos que a detêm.A Terra é de
todos.A Terra não tinha dono, quando a humanidade fazia de
cada velho tronco do bosque, ou de cada caverna de montanha uma
vivenda e um refúgio contra a intempérie e contra as
feras. Jamais teve dono a Terra, quando mais adiantada a humanidade,
na dolorosa via do progresso, chegou ao período pastoril, onde
haviam pastos e onde estacionavam as tribos que possuíam, em
comum, os seus gados.O primeiro dono da Terra apareceu com o
primeiro homem que teve escravos para lavrar os seus campos e que,
para se fazer dono desses escravos e desses campos, necessitou fazer
uso das armas e levar a guerra a uma tribo rival.

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