PESQUISA: CLIMA COMEÇA MUDAR NA AMAZÔNIA
(José Antonio Morengo Orsini;)
Pesquisa avalia mudança do clima na Floresta Amazônica Hipótese é de que o aumento do desmatamento e da concentração de gases do efeito estufa possa mudar o clima da Amazônia e afetar sensivelmente o transporte de umidade para a Bacia do Prata. Especialistas em meteorologia, ligados ao Programa LBA e a outros projetos internacionais de pesquisa, têm agora fortes razões para acreditar que a mudança de clima, em conseqüência do desmatamento amazônico esteja afetando o regime de chuvas em toda a América do Sul, inclusive na Bacia do Prata. A fumaça das queimadas também estaria alcançando o sul do continente. Os indícios vieram com a execução da etapa brasileira do projeto SALLJEX (South American Low-Level Jet Experiment). Entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003, pesquisadores lançaram cerca de 700 balões parecidos com os de festas infantis no céu da Amazônia. Alguns balões carregavam sensores para medir pressão atmosférica, temperatura, umidade do ar e velocidade dos ventos. Os resultados - registrados no Brasil, na Bolívia, na Argentina e no Paraguai por 50 pesquisadores brasileiros, bolivianos, argentinos, paraguaios, uruguaios, chilenos, peruanos e norte-americanos - mostraram as trajetórias e as características dos chamados "jatos de baixos níveis" da América do Sul. Segundo o professor José Antonio Marengo Orsini, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coordenador do trabalho, os jatos podem ser comparados a "rios voadores" que carregam umidade do norte para o sul do continente. Localizam-se nas camadas mais baixas da atmosfera (até 3 quilômetros de altura) e deslocam-se com velocidades de até 50 quilômetros por hora. Identificados na década de 1960, os jatos de baixos níveis são formados pelos ventos alísios do oceano Atlântico, que invadem o território brasileiro pela ponta nordeste da Amazônia. Sobre a Amazônia os jatos absorvem muito vapor d’água, liberado pelas folhas da floresta por meio da transpiração. Ao chegarem à fronteira do Acre com a Bolívia encontram a cordilheira dos Andes, que funciona como um acelerador e uma barreira: desvia os jatos para o sul e, ao mesmo tempo, aumenta sua velocidade. Os jatos seguem então sobre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, mas, ao atingirem a bacia do Prata, interagem com o relevo e com frentes frias nascidas no pólo Sul, formando enormes nuvens conhecidas por Complexos Convectivos de Mesoescala. Estas formações são muito espessas, atingem 18 quilômetros de altitude e mil quilômetros de diâmetro, e têm um ciclo de vida de até 36 horas. Surgindo em geral durante a noite, são responsáveis por tempestades, raios e relâmpagos, no sul do país e no norte da Argentina e do Paraguai, em especial no verão. Pode-se dizer, grosso modo, que quando começa a ventar forte na Amazônia vai chover muito para os lados do Sul. Há uma relação direta entre os jatos que, a partir da Região Norte cruzam o país rumo ao sul, a leste dos Andes, e as chuvas que caem na bacia do Prata, vasta área que, além de São Paulo e dos estados sulinos, abrange o Uruguai e o norte da Argentina e do Paraguai. Infelizmente os jatos de baixos níveis quase não apareciam nos boletins do tempo, pois existem poucas estações de observação na Região Norte do país (a Organização Meteorológica Mundial recomenda uma estação a cada 500 quilômetros, mas na Amazônia a distância pode chegar a mil quilômetros). Com menos registros de jatos torna-se mais difícil a previsão de tempestades no Prata. Após o experimento de campo SALLJEX os jatos de baixos níveis passaram a ser mencionados nas previsões, especialmente no verão e na primavera, associados a intensas chuvas no sul do Brasil e norte da Argentina.
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