BURRO VELHO TAMBÉM APRENDE
(Cláudio de Moura Castro; Jerson)
BURRO VELHO TAMBÉM APRENDE - 1ª parte
Em 1989, me encontrava num dilema. Terminado meu mandato de presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), eu sabia exatamente o que não queria. Não queria mais atender pacientes com enfermidades cardíacas, fazer pesquisas clínicas sobre a doença de Chagas, nem escrever, publicar ou apresentar trabalhos em congressos da especialidade.
Em trinta e dois anos de formado, exercera a medicina com muito interesse e bastante competência, o que me garantira reputação local, no Brasil e em alguns países. Os dois anos na presidência da SBC, todavia, me deram a oportunidade de refletir sobre um sentimento difuso de insatisfação, que vinha se manifestando nos últimos tempos, e que permanecera inconsciente até então. Deixara de gostar da cardiologia.
E aí? Fazer o quê? A psicanálise era chata, autoritária, demorava demais. Além disso, a terminologia era hermética e seus textos só eram compreendidos por poucos e brilhantes iniciados (hoje, acredito que tais textos e discursos não passam de “saladas de palavras”, repletos dos chamados apontadores de precisão, carentes de significado). Ou seja, continuava sem saber o que queria. Mais: não acreditava que houvesse algo que fosse capaz de me motivar. O pior de tudo é que, tendo ultrapassado os cinqüenta e cinco, sabia que me encontrava na fase descendente da minha curva de criatividade e de produtividade. Com o progressivo falecimento dos meus neurônios, a vida me reservava um cenário a la Câmara de Horrores do Museu de Madame Tussaud.
Imaginará, portanto, o compreensivo leitor, como me sentia quando Maria José sugeriu que passássemos o Carnaval em Petrópolis. Não, não, não! Sorumbático e deprimido, não tinha nada que fazer em Petrópolis, queria ficar em casa curtindo minhas dúvidas existenciais. E assim me defendi, com assaz firmeza, das sucessivas investidas, súplicas e solicitações redundantes de Maria José. Até que ela ameaçou divórcio. Fomos passar o Carnaval em Petrópolis...
Em Roma, como os romanos. Em Petrópolis, como os petropolitanos, não é mesmo? Assim, no domingo do tríduo momesco eis que recebo das dadivosas mãos do meu cunhado o Jornal do Brasil, do qual era eu leitor bissexto. E neste exemplar, um artigo igualmente exemplar de Cláudio de Moura Castro, intitulado “Burro velho também aprende”, sobre o magnífico trabalho do renomado psicólogo judeu Rëuven Fëurstein, que havia obtido resultados surpreendentes com crianças órfãs que testemunharam o assassinato dos pais nas câmaras de gás dos nazistas, com portadores da síndrome de Down, com adultos desempregados e que não conseguiam se adaptar a novos empregos, e – inclusive – com executivos de sucesso.
Este artigo que, por uma aparente cascata de coincidências, veio parar nas minhas mãos, desempenhou um papel crucial numa revolucionária mudança do meu sistema de crenças. Conseqüentemente, foi um primeiro passo fundamental que permitiu a ampliação do meu modelo de realidade, o incremento das minhas capacidades e a geração de múltiplos comportamentos até então por mim ignorados. E assim me tornei um “aprendiz de curandeiro”.
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