Amor x Ódio (Brasil x Argentina)
(Jerson Aranha)
Amor x Ódio (Brasil x Argentina)
Brasil e Argentina têm uma relação quase infantil, de amor, ódio e amor de novo. Vale para o futebol, vale para o comércio, vale para política externa.O último lance foi o anúncio de barreiras aos eletrodomésticos brasileiros, feito pelo próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, e às vésperas da reunião de presidentes do Mercosul. Escolheram a dedo o autor e a data. Foi golpe baixo e reativou a velha rivalidade da torcida brasileira contra o Boca Juniors.No Planalto e no Itamaraty, a reação foi de perplexidade. A entrevista de Lavagna foi na segunda-feira e publicada pelos jornais de terça. Mas o governo brasileiro passou toda a terça sem saber exatamente como e em que tom reagir. Motivo: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava com viagem marcada na quarta (hoje) para a reunião do Mercosul. Que é... na Argentina.Como chegar lá, that was the question. Cuspindo fogo contra tudo e todos e azedando a reunião do bloco? Ou fingindo que não era com ele, como se nada tivesse acontecido, e enfrentando a ira dos exportadores e dos colunistas brasileiros?Fala daqui, fala dali (o velho assembleísmo petista), no final do dia veio a luz: nem cuspir fogo nem fingir que não era com ele. Como? Escalando os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Celso Amorim (Itamaraty) para bola dividida e tirando Lula de campo. Tipo assim: treino, não jogo oficial. Ou, numa outra imagem: coisa para segundo escalão...O fato é que a Argentina tem boas motivações econômicas para tentar barrar as exportações de geladeiras, fogões e lavadoras: pela primeira vez, desde 1995, o Brasil está levando vantagem nas trocas comerciais dos primeiros cinco meses do ano, o chamado "superávit". Mas não tem nenhuma boa justificativa política e diplomática para a forma do anúncio. Se queria criar uma crise, conseguiu. Apesar de o Brasil ter preferido trabalhar a crise nos bastidores, não pela imprensa. Enquanto as declarações brasileiras eram na base do "lamentamos", as dos argentinos eram duras. O embaixador deles no Brasil, Juan Pablo Lohlé, por exemplo, defendeu o anúncio de Lavagna, disse que a questão está em campo há sete meses e que o Itamaraty foi devidamente informado --algo que o próprio Itamaraty nega, dizendo-se "perplexo".Enfim, os portenhos foram portenhos. Como o Boca Junior vai ser sempre o Boca Junior.Para o Brasil, sobrou a lição de Lula na véspera, para seu ministério: "A arte de governar é a arte de ter paciência". E não vale nem um pouco a pena perder a paciência com o país vizinho, justamente agora, quando o Brasil está se dando bem.A Argentina atacou primeiro, continuou ontem na ofensiva e promete mais para hoje. O Brasil se mantém na defensiva. Por enquanto, o placar está zero a zero.
Na última terça-feira, dia 30.10.2007 em Zurique durante a solenidade de indicação do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014, o presidente Lula aproveitou para alfinetar os argentinos dizendo que “Iríamos fazer uma Copa do Mundo prá argentino nenhum botar defeito”.
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