Suave milagre
(Eça de Queiróz)
Na Galiléia, Jesus pregava e fazia milagres.Cruzava povoados anunciando a Boa-Nova.Sua fama crescia, era conhecido em toda a Judéia.Despertava iras, paixões, desejos, fé e conversões aos milhares.Era conhecido por Rabi, aquele que fazia milagres sem nada cobrar em troca, nem mesmo o nome das pessoas.No outro extremo do lago Tiberíades, morava um oficial romano, Públio Sétimo, veterano de guerras e batalhas, muito rico, possuidor de escravos, minas de sal e a amizade do rei.Porém seu semblante era de uma tristeza profunda, pois sua filha, na mais tenra idade e muito bonita, sofria de uma doença rara e ninguèm achava cura.Morria aos poucos, para desespero do pai.Um dia um de seus soldados comentou sobre o rabi e Públio Sétimo reuniu um grupo de soldados, deu-lhes dinheiro e disse;_Ide e trazei aqui esse rabi dizendo a ele que se ele curar minha filha dar-lhe-ei muito mais e o cobrirei de honrarias.Partiram, procuravam o mestre, perguntavam e não achavam.Quando as informações eram de que o profeta estava num lugar ao chegarem no local já havia partido para outro.Assim rodaram durante dias e noites.Longe dali, morava um velho chamado Obed, homem letrado, rico e orgulhoso que conhecia todos os instrutores e doutores da lei e que viagara até a Fenícia, quando jovem.Acumulara terras em demasia, com rebanhos imensos e oliveiras aos milhares.Maior que sua riqueza era apenas seu orgulho.Porém, Obed também tinha uma mágoa no coração.Acusava Deus de o ter abandonado pois suas plantações secaram e seu rebanho morreu. A miséria chegou a sua casa.Ouvindo falar desse rabi milagroso, que ressuscitava até os mortos, chamou seus amigos letrados e disse-lhes para localizar esse rabi e traze-lo.Uma vez recuperado toda sua riqueza Obed daria ao mestre dinheiro e honras e o levaria ao mais alto escalão da igreja e o veneraria como filho de Deus .Dias e noites, tal como os soldados, os homens da lei procuraram á Cristo, mas também não o acharam.Na estrada de Samaria, um mendigo parou defronte a uma casa velha, de taipa, quase caindo e pediu um pedaço de pão, pois há dias não comia.A mulher que o atendeu mandou que ele se sentasse, pegou um pedaço de pão, molhou-o num pouco de azeite que tinha e o repartiu dizendo:É tudo o que tenho, mas podemos come-lo juntamente com meu filho.O mendigo olhou então para um canto da sala e viu um menino paralítico, magro, de feições tristes e mirrado.Lembrou-se então dos milagres do rabi e comentou coma viúva: Anda por ali, por a Judéia, um homem de Deus, que anda fazendo milagres, curando pessoas e até mesmo ressuscitando mortos.Anuncia a palavra de Deus e diz que o céu é dos pequeninos como ele.Ao ouvir tais palavras, o menino balbuciou:Mamãe, gostaria de conhecer a esse Cristo.Manda chama-lo para ele me curar.Como farei isso, meu filho? Todos o procuram, em todos os lugares.Decerto é um homem ocupado, pois os reis, rabinos, querem estar com ele.Eles teêm dinheiro, poder,podem mandar busca-lo e traze-lo, de qualquer lugar, a hora que quiserem e nós não temos um pedaço de pão para comermos, nem óleo para acender as lamparinas, quanto mais algo para oferecer ao rabi.Moramos longe de todos os centros urbanos, no deserto, como esse mendigo. Ao ouvir essas palavras, condoeu-se e para não chorar de tristeza, comeu o pão amargamente, pensando no que ouvia.Que mais podia ele, um abandonado como a viúva, miserável fazer? restava-lhe agradecer, rezar e ir embora.O menino insistiu: _ Mas mamãe, se esse rabi vier e me curar, eu posso trabalhar para ajuda-la e a outras pessoas como nós também.Duas lágrimas rolaram da face da viúva, maltratada pela vida e pelos homens.O mendigo retirou-se, também com lágrimas na face.Enquanto isso, os soldados, os doutores da lei procuravam por Jesus em todos os lugares, inutilmente.Paravam, perguntavam a todos, retornavam aos lugares indicados e nada.Ao cair da noite, a viúva pegou o óleo de baleia que ainda restava na casa,acendeu o lampião, ajeitou o filho, todo enrijecido pelos anos que não andava.Deu-lhe um beijo na testa, dizendo-lhe dorme com Deus, ele olha por nós de onde estiver.O menino, levantou os olhos, fixou-os nos da mãe e disse-lhe ternamente:Mamãe, eu queria tanto conhecer esse Jesus:A porta, que estava apenas encostada se abre e uma voz responde-lhe:__ Aqui estou!
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