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Munique, 1972
Era para ser apenas o local e a data da 20ª Olimpíada. Mas entrou para a história como um dos mais violentos atos de terrorismo. E também como pivô de uma revanche implacável.
Sérgio Gwercman
Em 1936, a Alemanha escreveu o capítulo mais vergonhoso da história das Olimpíadas ao transformar os Jogos de Berlim numa exibição pública de propaganda nazista - a ponto de as vitórias do velocista negro e americano Jesse Owens terem sido consideradas uma humilhação para o regime. As competições de 1940 e 1944 marcaram um novo vexame alemão. Programadas, respectivamente, para Londres e Helsinque, tiveram de ser canceladas por causa da guerra mundial iniciada pelos devaneios do führer.
Por isso tudo, quando foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 1972 a cidade de Munique, na Baviera (ironicamente o berço do nazismo alemão), o país inteiro viu a chance de limpar sua ficha. Organizadores logo batizaram o evento de "os Jogos da Paz" e a idéia era entrar novamente para a história. Dessa vez, como a mais alegre e fraternal de todas as Olimpíadas. Estava tudo preparado para ser uma grande festa. Só faltou combinar com o adversário.
O adversário, no caso, eram grupos terroristas palestinos. Pouco após 1967, quando Israel conquistara a Faixa de Gaza e a Cisjordânia na Guerra dos 6 Dias, a Organização para Libertação da Palestina (OLP) resolveu incorporar atentados terroristas mundo afora às suas estratégias de divulgação da causa. Em 1970, o alvo foi um avião belga. No mesmo ano, o seqüestro simultâneo de 5 aviões acabou com 3 deles explodidos na Jordânia, pouco após serem evacuados. Em 1971, reservatórios de petróleo em Hamburgo e Roterdã foram sabotados. As bombas, porém, não eram a única arma do ativismo palestino. No começo de 1972, a OLP enviou carta ao Comitê Olímpico Internacional (COI) solicitando a inclusão da Palestina nos Jogos. Os palestinos sequer receberam resposta, descaso que irritou em especial o Setembro Negro (o nome é referência ao massacre de palestinos por tropas jordanianas, em setembro de 1970), braço armado da Fatah, grupo político de Yasser Arafat. "Ficou claro que, para o COI, que se dizia apolítico, nós palestinos não merecíamos existir", afirmaria anos mais tarde o chefe do Setembro Negro, Abu Iyad. Com o provável conhecimento do próprio Arafat, o grupo decidiu que, se os palestinos não iriam participar, o melhor a fazer era melar os Jogos.
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