pequena axiologia estética 2
(aulas uc)
Pequena axiomática estética para uso de filósofos e para servir de consulta a outros artistas 2 A distinção é em si própria cega. Ela dá lugar à descontinuidade da forma, revela a forma, mas mais nada. A posição da forma é, então, um dado inquestionável da experiência, equivale a si mesma no modo de instituir a dualidade que graças a ela pode ter lugar. A distinção em que as formas nascem só se torna em uma dualidade temática, não cega, na medida em que se deixa capturar a partir de outra forma que, neste caso, corresponde à forma da observação de um observador. Com a forma da observação nasce a consciência polarizada em torno de objectos, cujo conteúdo é a distinção em si mesma ou a re-entrada da forma na forma para usar a expressão de G. Spencer-Brown. A distinção transforma-se deste modo em indicação e com isso a forma pode adquirir um valor informativo. A distinção aparece, portanto, duas vezes. A primeira vez na medida em que é distinção cega, que deixa aparecer aquilo que é o conteúdo instantâneo de uma forma acústica, visual, olfactiva, etc. Aparece uma segunda vez, desdobrada, na medida em que ela mesma se dá a observar desde a posição exterior de um observador que livremente dela dispõe como objecto temático. Na primeira vez, a consciência polarizada pela distinção da forma dá-se no mesmo tempo que o seu pólo objectivo, sem cisão. Ela é inteiramente aquilo que vê, a consciência é o seu próprio espectáculo, poderia afirmar-se, explorando a poderosa metáfora visual. A consciência polarizada pela distinção da forma designa precisamente a coincidência entre o lado interior da forma, o seu lado posicional, e o que do mundo pode ser referido desde esta posição. Ela opera mediante as disposições de fronteira estabelecidas para que a sua actualidade se reproduza, se mantenha. A consciência polarizada pela distinção da forma passa à modalidade de consciência deslocada quando em algum elemento presente na estrutura das suas distinções ocorre uma modificação. A base sensório-motora dos organismos constrói-se no pressuposto da variabilidade das distinções, sobretudo no que se refere à modificação da atenção em virtude da passagem do virtual no actual. Uma mudança na base sensório-motora do organismo coincide habitualmente com modificações nas formas da experiência sensível. Os aspectos virtuais presentes no campo de orientação da base sensório-motora do organismo acedem à forma da actualidade e deslocam as fronteiras da consciência polarizada, o que pode então significar a mudança de forma, a entrada de uma nova forma no campo da atenção. O deslocamento assim operado torna evidente a diferença entre actualidade e possibilidade ou virtualidade, mas de um modo que pode ser ainda não totalmente temático. Um dos mais estimulantes temas de uma teoria da consciência reside em saber o que é que da base sensório-motora do organismo pode contribuir para a modificação da consciência polarizada em consciência deslocada. A característica dos actos de consciência associados às distinções das formas reside nesta permanente oscilação entre polarização e deslocamento, na pendularidade do actual e do virtual. Para poder fixar-se a consciência tem de se mover. É este movimento de forma em forma e as diferenças que surgem em consequência no campo da atenção que está na origem da atribuição de sentido à experiência dos acontecimentos. A transformação do latente em manifesto permite ilustrar uma parte significativa do processo vital, pois a vida pode ser definida como movimento interno de permanente reconfiguração das formas do organismo no sentido da selecção e da adaptação. O processo vital é, por conseguinte, formação, reconstituição, apropriação, fim e destruição dos próprios limites do que significa a unidade do organismo.
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