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Sem controle - o filme
(Cris D''Amato)

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Uma crítica, por Maria Truccolo
O filme brasileiro "Sem controle" (estréia em novembro/2007) expõe mais do que o fim da pena de morte no Brasil, cuja última condenação foi a de Manoel Motta Coqueiro. Por trás deste argumento principal, o filme revela outra questão, desta vez bastante atual. A meu ver, o movimento antimanicomial, pelo fim dos hospícios e o tratamento de psicóticos em hospitais-dia, abertos e até mesmo em casa, desenvolvido dos anos 70 para cá, é posto em xeque. Parece que a última parte do filme diz muito sobre o medo implícito da sociedade em relação aos diagnosticados como "loucos".
Pacientes psiquiátricos, ex-alunos de teatro do protagonista Danilo Porto (Eduardo Mosccovis), preparam-lhe uma festa de despedida na casa dos pais de Aline, durante a qual dão-lhe uma bebida com um psicotrópico dissolvido que o faz "apagar". Levam-no a uma fazenda, onde são orientados pela paciente psiquiátrica Aline (Milena Toscano) a encenar a peça que ensaiavam na casa de saúde, com Danilo como diretor. O desfecho da peça é a condenação de Manoel Motta Coqueiro, então representado por Danilo, ao enforcamento.
O diretor de teatro perde o comando dos pacientes psiquiátricos, todos eles psicóticos - menos Aline. Os doentes passam a ser dirigidos por Aline, que pelo perfil apresentado tem estrutura borderline (nem neurótica nem psicótica): inteligência acima da média, baixa tolerância à frustração, dissimulação e tendência a alta exposição a risco de morte. Como se sabe, um psicótico não "encena", vive o real, e isto pode ser visto durante os ensaios dirigidos por Danilo, quando ainda dava aulas dentro da clínica psiquiátrica. Sob direção de Aline, os psicóticos passam a viver os papéis das personagens da peça "Motta Coqueiro", como se fossem reais.
Aline, cuja internação psiquiátrica na casa de saúde permite-lhe sair e entrar quando quer, ali está porque flagrou um ex-namorado com outra e a esfaqueou. A paciente engana os enfermeiros, cuspindo os medicamentos indicados na terapia. Ou seja, está sempre sob pleno domínio de seu transtorno de personalidade, e seduz Danilo, sem dizer-lhe que é paciente. O relacionamento é rompido, quando ele descobre a verdade. Enraivecida e com sede de vingança, Aline dissimula aceitação, enquanto trama a armadilha.
Na fazenda, para onde os demais pacientes são levados, a medicação de todos é suspensa, uma vez que ali não há acompanhamento clínico. Ou seja, estão todos sob o domínio de seus próprios transtornos psicóticos. Neste cenário, o único "normal", dentro dos parâmetros de normalidade conhecidos pela sociedade, é Danilo. Antes de sua condenação à morte, como Motta Coqueiro, Danilo é preso, acorrentado, enjaulado. Como se o filme dissesse: se os loucos ficarem fora, os normais serão condenados à morte. Em outras palavras, a liberdade dos loucos representa a prisão dos normais. A sociedade fica "Sem controle". Será?
Antes de tal desfecho, Danilo é alertado pela diretora da casa de saúde, sua amiga Dra. Márcia (Vanessa Gerbelli), que aquelas pessoas internadas aparentam normalidade, mas na verdade estão medicadas e só por isso não são perigosas. Sabe-se que os medicamentos psiquiátricos não resolvem questões psíquicas. São eficientes na supressão do surto. Mas, sem acompanhamento terapêutico multidisciplinar (psicológico, psicanalítico e outros, terapias ocupacional e outros tipos de ajuda afetiva), a suspensão da medicação faz com que o paciente volte a representar perigo para si e para os outros.
No filme passa-se de um extremo a outro. Da medicação e medicalização (internação ou semi-internação) à liberdade total, sem qualquer acompanhamento profissional, terapêutico nem medicações de controle, o que se distancia muito das propostas antimanicomiais. "Sem controle", por isso, me parece um discurso contra a liberdade dos "loucos", na contramão das conquistas alcançadas e das que ainda se desenham para uma sociedade mais igualitária também nesta questão.



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