O Sangue dos Inocentes
(Julia Navarro)
Júlia Navarro com a Bíblia de Barro e a Irmandade do Santo Sudário transformou-se numa referência literária da língua espanhola e não só, jornalista conceituadíssima da imprensa espanhola é também sem dúvida uma das maiores especialistas do nosso tempo sobre o fanatismo religioso. Com este novo romance vincou ainda mais o seu lugar, é realmente a maior do nosso tempo. Este livro parece um três em um, porque sem se perder o fio à meada ela consegue fazer uma ligação entre 3 épocas completamente distintas, a cruzada contra os cátaros na França medieval, a segunda grande guerra mundial e as atrocidades cometidas pelos nazis para o apuramento da raça humana e para limpar da sociedade todos os que consideravam inferiores e a actual cruzada dos fundamentalistas islâmicos. Não sei como consegue uma tal elasticidade mental, digo também que este livro (como os anteriores) teve que ser objecto de um estudo muito aprofundado sobre estas épocas, ligar tudo sem perder o fio condutor não é para qualquer um. Este romance começa no sec. XIII, aquando do cerco de Montségur e a sua posterior queda, a sua história é nos contada por um monge beneditino escrivão, que vai ter, no meio de uma dor imensa, que deixar para a posteridade o que viveram os cátaros do Languedoc antes da sua destruição, a brutalidade da Santa Inquisição, e como foi destruído um povo. Ele faz a crónica de todos esses acontecimentos a mando da esposa do seu pai, uma perfeita cátara, que quer deixar esse legado à sua família. Frei Julian consegue que esse documento chegue à família de D. Maria e a mesma preserva-o até aos nossos dias. O fim desse documento pergunta-se quem irá vingar o sangue dos inocentes! Em pleno sec. XX, um mediavalista é chamado pela família ´D'Amis para atestar da autenticidade desse mesmo documento e apaixona-se pela história de Frei Júlian de tal modo que passa a dedicar grande parte do seu tempo a essa crónica. Demasiado até porque nem se apercebe do que se está a passar na Europa nesse momento. Começa a 2ª Guerra mundial e a sua esposa é judia e consequentemente o filho também. Acaba por cair na realidade quando a esposa parte para a Alemanha em busca da familía que aí tinha, desaparece também na Alemanha Nazi. Tem que tentar salvar o filho e manda-o para Israel. Pede ajuda ao Conde d’Amis porque sabe da sua ligação com os Alemães, não desconfiava é que essa ligação era tão forte, no fim da guerra descobre que a mulher foi morta mal chegou à Alemanha, ainda tinha uma razão para viver o filho feliz num kibutz em Israel mas o mesmo também é morto pela guerrilha palestiniana. Ele morre espiritualmente quando o filho morreu e fisicamente uns meses mais tarde, mas deixa o seu legado ( A Crónica de Frei Julian) a um monge que o acompanhou um dia ao Castelo D’Amis e que se torna numa das principais personagens dos serviços secretos do Vaticano. Essa crónica de Frei Júlian torna-se quase numa obsessão para o padre Aguirre e através dela consegue encontrar o elo entre os cátaros, o conde D’Amis e os atentados terroristas dos fundamentalistas islâmicos, em Istambul, Frankfurt e um pouco em todo mundo. Consegue também de algum modo travar mais uma série de atentados que os mesmos fundamentalistas pretendiam efectuar para acender ainda mais o ódio que já existe entre cristãos e muçulmanos. È mais uma obra que tenta perceber e aprofundar as causas do fanatismo religioso e da intolerância que nos persegue ao longo dos séculos. Apesar de tudo isto se ter tornado quase num "fait divers" ainda consigo ficar espantada e aterrada com o que continua a acontecer no mundo. O livro é fabuloso, não percam e tentem ser tolerantes com todas as diferenças, as coisas têm que ser vistas à luz do seu tempo, não dá para vingar o sangue dos inocentes, porque afinal inocentes somos todos, todos acabamos por sofrer as consequências destas guerras que afinal são feitas para alimentar a globalização, as desigualdades sociais e económicas, alimentar o poder do petróleo.
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