ANOREXIA NERVOSA - A TENTATIVA DE NEGAR A FOME
(Heloisa Garbuglio (Psicóloga Clínica))
O que é? Como se manifesta? A Anorexia Nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por se limitar a ingestão de alimentos, devido à obsessão da magreza e um medo mórbido de ganhar peso. Não há uma perda do apetite e sim uma recusa em ganhar peso e se alimentar. Anorexia interage diretamente com uma área de grande preocupação humana, que é o relacionamento entre nós e nosso corpo e entre nós e o que comemos. Na realidade a preocupação com o ganho ponderal pode aumentar à medida que o peso real diminui. Os indivíduos que estão anoréxicos apresentam uma imagem corporal distorcida. Muitas vezes acham que têm excesso de peso, embora estejam muito magros, ou, outras vezes, percebem-se magros, mas com certas partes de seu corpo, principalmente o abdômen, coxas e nádegas, “muito gordas”. Raramente um paciente que procura tratamento psicológico se queixa da perda de peso em si. Os pacientes com Anorexia Nervosa utilizam-se de várias técnicas para estimar seu peso. Assim pesam-se várias vezes ao dia, medem o corpo obsessivamente e o espelho passa a ser o “amigo-inimigo”. Para a anoréxica, a perda de peso é recebida como uma conquista fantástica e como um sinal de extrema disciplina. Já o aumento de peso vai significar fracasso e perda do autocontrole. Existem dois tipos de Anorexia Nervosa: 1- Tipo restritivo: o paciente consegue a perda de peso por meio de jejuns, dietas e exercícios excessivos. 2- Tipo Compulsão: pacientes que comem compulsivamente e fazem induções do vômito ou uso de laxantes, diuréticos e enemas. A evolução da doença tem um curso variável. Alguns pacientes apresentam recuperação após episódio isolado, outros vivenciam um curso crônico por alguns anos.O exame clínico desses pacientes, muitas vezes, apresenta queixas de intestino preso (constipação), dor abdominal, intolerância ao frio, pele seca. É esperado que mãe e bebê, comecem a sair desse estado de fusão, no qual a mãe compreende intuitivamente as necessidades do bebê. O choro, os protestos, os gestos criativos, todos os pequenos sinais que o bebê faz para chamar a atenção de sua mãe, se perdem, se ela os satisfaz, alimentando-os antes. Perdem-se, pois ele precisa aprender a chamar atenção e dizer que está com fome. Essa experiência é fundamental para o desenvolvimento psíquico do bebê, no sentido de aquisição do poder, capacidade de agir e interagir no mundo, desenvolvendo a sua autonomia e compreensão. Para a criança só restam então duas alternativas: ficar num estado permanente de regressão e fusão com a mãe, ou encenar uma total rejeição, mesmo daquela suposta boa mãe. O que pensar de uma adolescente que se recusa a comer? Poderíamos hipotetizar que a mulher que está anoréxica desistiu de fingir que é independente. Todos os seus sentimentos infantis voltaram a aflorar. Na relação mãe e filha ela irá apresentar os sentimentos ambivalentes. Enquanto a alma grita por cuidados, ela se recusa a alimentar o corpo, ao mesmo tempo que seu desejo de ser autônoma, dona de sua vida, causa-lhe um conflito enorme. A dificuldade da anoréxica em identificar sensações físicas, e principalmente a fome está diretamente ligada a um fracasso nesse processo anterior de aprendizagem. Elas não aprendem a gerenciar a própria vida, não sendo capaz de dirigi-la sozinha. Quando precisam demonstrar autonomia, sentem-se incapazes de enfrentar a realidade. Um grande número de jovens que se tornaram anoréxicas se encaixa, na descrição acima. As jovens anoréxicas sentem prazer e necessidade de ver os outros comendo mais do que elas, desenvolvem comportamentos bizarros em relação aos alimentos. Muitas vezes para não comê-los e os outros não perceberem, passam a escondê-los dentro dos armários, enchem o prato de comida e a seguir jogam fora, sem que os outros vejam. O psicólogo deverá deixar bem claro á paciente e aos seus familiares que o objetivo do tratamento não é fazê-la engordar. Uma das reivindicações básicas da anoréxica é que ela e mais ninguém pode controlar seu corpo. Como criança, ela bate o pé e internamente e externamente constrói suas barreiras. Ela não deverá comer para satisfazer as necessidades dos outros que não agüentam vê-la magra, mas sim, porque o seu corpo é parte da mulher que está ali e merece ser acalentado. O conflito entre cura e estar doente deve ficar claro entre paciente e terapeuta. Mulheres anoréxicas são extremamente sensíveis às reações dos outros. Todos os seus sentimentos podem ter sucumbido na preocupação com a comida e a maneira de conseguir evitá-la. É um processo detalhado que inclui delicadeza e paciência. Recaídas são freqüentes.Terapeuta e paciente trabalham juntos com o material que o cliente apresenta, visando interpretá-lo para a cliente poder transformá-lo. A anorexia também representa uma tentativa de auto suficiência. O ganho de peso ou a desistência do sintoma não quer dizer cura. A anoréxica tem vivido num mundo de fome e renúncia. Num primeiro momento, a sua alimentação passa a ser um caos. Desiste de estar só e perfeita. Finalmente não insista para que ela coma. Isto não adianta. Evite comentários do tipo..olha, como você era bonitinha”...Não pergunte por que ela está fazendo aquilo...ela também não compreende o que está acontecendo. O importante é que se compreenda que a anorexia não é uma doença e sim uma reação à condição feminina . Sempre há uma resposta, por mais dolorosa que ela seja.
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