Resumo de Record -

Já lá vai uma data de anos, aí uns quinze ou mais, assistia-se à chegada em força das televisões ao futebol português, com os directos a prometerem ser inovação para durar. A novidade não estava regulamentada, pelo que nas primeiras transmissões os repórteres de pista trilhavam os caminhos da ousadia: cada um tentava ir mais longe do que o outro, havendo até quem se abeirasse dos bancos com a partida a decorrer. Um dia, no Estádio das Antas, corria a primeira parte e o FC Porto perdia 0-1 com o Setúbal. Artur Jorge, treinador dos portistas, mandou que Tavares, médio-defensivo, aquecesse rapidamente e fez a substituição antes do intervalo, tirando um ponta-de-lança. Um jovem repórter deu largas ao atrevimento e, ali mesmo, enfiando cabeça e microfone dentro da barraquinha onde ficavam os suplentes, perguntou a Artur Jorge por que razão ia tirar um avançado e meter um trinco quando estava a perder em casa. Obteve como resposta: "Porque o treinador do Porto sou eu". A quente, a resposta soou brusca. Terminada a partida, com a vitória da equipa da casa por expressivo 4-1, o técnico portista explicou as razões da substituição: a equipa estava desequilibrada e ao reforçar o meio-campo ficou em condições de poder discutir o jogo. Há dois anos, em Alvalade, também contra o Setúbal, que jogava com dez desde o minuto 20, José Peseiro, treinador do Sporting, a dez minutos do fim trocou um ponta-de-lança por um central, recebendo a paga de uma assobiadela monumental. Justificou-se no final dizendo que a equipa estava desorganizada e por isso apelara à racionalidade para segurar os pontos. De nada lhe valeu ter razão porque entre ele e os adeptos deixara de haver empatia. Ontem, frente à Naval, que jogava com dez, Paulo Bento, que antes sacrificara Tonel para meter Vukcevic, trocou o ponta-de-lança Purovic pelo central Gladstone. O Sporting vencia por 2-1, alternava o bom com o mau e os pontos são a finalidade do futebol de competição. Ganhou por 4-1, porque nem sempre é com avançados que se ataca. O equilíbrio de uma equipa é fundamental e o treinador existe para tomar decisões, sejam ou não simpáticas aos adeptos. A compreensão das bancadas é questão de credibilidade.

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