Cante lá que eu Canto Cá
(Patativa do Assaré)
Em Cante lá que eu canto cá, o poeta sertanejo salienta, sempre por negações anafóricas,a pobreza que o condena ao duro trabalho da terra:
“Sou matuto sertanejoDaquele matuto pobreQue não tem gado nem quêjo,Nem ôro, prata nem cobre”(Vida sertaneja)
Assim como faz com o ensinamento moral, as tomadas de posição de Patativa do Assaresão fundadas sobre a experiência: aquele que não conheceu o sertão na carne, dele nãopode falar; a única legitimidade admissível é a de pertencer a seu povo:
“Na minha pobre linguageA minha lira servageCanto que a minha arma senteE o meu coração incerra,As coisa de minha terraE a vida da minha gente’(Aos poetas clássicos).
Este olhar sobre o mundo, numa perspectiva espacial, recupera também uma oposição passado/presente; tradição/modernidade.A situação do sertanejo obrigado a abandonar sua terra em função da seca, a ir emdireção às cidades do litoral, ou então em direção às cidades do Sul, é uma posição delicada,na medida em que ele passa sem transição de um mundo rural à escala humana a ummundo urbano onde impera o anonimato.O encontro destes dois universos é, não raro, doloroso e acompanhado de um voltar-separa os valores tradicionais. As cidades, o progresso, a técnica são acusados de veicularos piores males da civilização: “Mas a civilização faz coisa que eu acho ruim”(O puxadô de roda).
O sul, em particular, é tido como a sede da corrupção: “Nos centros desconhecidosDepressa vê corrompidos Os seus filhos inocentes, Na populosa cidade De tantaimoralidade E costumes diferentes” (Emigrante nordestino no sul do país).
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